“Produzir minha própria energia foi um grande negócio para a minha propriedade”

VANIO DEUTTNER: avicultor em Santa Catarina

Sabe o esterco da sua vaca, que você jurava só servir para adubar a terra? Pois acredite, ele é capaz de produzir energia elétrica e dar um bom desconto nos seus custos de produção. A boa notícia é que esse “milagre” não se restringe apenas a bovinos. Aves e suínos também podem ter seus dejetos convertidos em eletricidade.

A novidade, que proporciona economia na fazenda, traz de lambuja uma saída para um velho problema das propriedades rurais: o que fazer com os descartes que não passam por tratamento e que podem contaminar os lençóis freáticos, causando prejuízos financeiros e problemas ambientais.

O sistema que dá essa forcinha extra funciona com auxílio de biodigestores, estruturas que convertem esses restos em biogás, que por sua vez se transforma em combustível de geradores de energia.

Intrigado com a possibilidade, o produtor de ovos de codorna, Vanio Deuttner, de Petrolândia (SC), resolveu pagar para ver. Depois de R$ 18 mil investidos entre infra-estrutura e equipamentos, ele agora faz os dejetos de suas 23 mil codornas virarem energia elétrica.

Adepto do ditado de que a parte mais sensível do corpo de um homem é o bolso, o avicultor comemora os resultados. Por dia ele produz cerca de 45 metros cúbicos de biogás, o suficiente para alimentar um gerador de pequeno porte e gerar cerca de 4 mil watts de potência por hora. Com isso ele registra uma redução de 50% no consumo de energia. “A eletricidade gerada pelos resíduos é suficiente para iluminar os quatro aviários e manter a produção”, afirma. “Até meus vizinhos estão mais felizes, porque o cheiro era muito forte e agora praticamente eliminamos esse problema”, avalia.

Além da economia na conta de luz e os ganhos ambientais, os biodigestores também possuem outra vantagem: os resíduos, depois de serem tratados, se transformam em um eficiente fertilizante natural, que pode ser usado na própria fazenda ou comercializado. “Estou preparando uma estrutura para comercializar esse material, que hoje forneço aos vizinhos”, planeja o produtor. Uma saída boa para a natureza e para o bolso dos produtores.

FERTILIZANTE NATURAL: além de produzir energia elétrica, o esterco utilizado para se obter biogás serve para adubação

O investimento para se implantar um projeto de biodigestor se divide em duas etapas. A primeira é a construção da estrutura para o funcionamento, que varia de acordo com a topografia e o tamanho da propriedade, assim como a sua capacidade de gerar o biogás, sendo estimado um valor médio de R$ 10 mil. “O grande segredo é adequar o projeto às necessidade e possibilidades da fazenda”, explica o gerente comercial da Branco Motores, empresa que produz geradores movidos a biogás, Gilmar Nied.

O segundo passo é a aquisição de um gerador, que pode ser de pequeno ou grande porte, dependendo da necessidade da fazenda. “Comprei um gerador de pequeno porte, pois a capacidade de produzir biogás da fazenda ainda é limitada”, conta Deuttner. O funcionamento da estrutura é relativamente simples. Primeiro coleta-se os dejetos, que podem ser depositados num fosso via gravidade. Armazenados em uma área coberta com uma lona própria, entra em ação o processo natural de fermentação. O biogás é conduzido através de um encanamento, que alimenta o gerador. Uma extensão, ligada do aparelho até o sistema elétrico da casa, se encarrega de distribuir a energia produzida pelo equipamento.

Segundo dados da empresa, as vendas dos biodigestores representam 30% do seu faturamento, que em 2007 foi de R$ 50 milhões, sendo a suinocultura a área com maior demanda pelo produto. “Os criadores de suínos são os que mais têm dificuldades em fazer o descarte de dejetos. Esse tipo de estrutura pode ser uma boa saída.”

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