Normalmente, quando a safra de uma commodity quebra em alguma região produtora importante, os concorrentes se animam diante da chance do preço da cultura subir. No entanto, como toda regra, esta também tem exceções. Aumento de preços é o que não deve acontecer com o café neste ano, mesmo com a previsão da quebra da safra cafeeira nos países da América Central, região que abastece os Estados Unidos – maior consumidor mundial, com 23 milhões de sacas de 60 quilos do grão por ano. Ao contrário: dessa vez, os preços do grão podem ficar ainda mais baixos. “A demanda por café está muito fraca na maior parte dos países importadores, por conta da crise internacional”, diz Silas Brasileiro, presidente do Conselho Nacional do Café (CNC), com sede em São Paulo. “Além disso, o mundo tem muito café em estoque e ainda mais para guardar com a colheita da safra deste ano.”

A responsável pela quebra da safra na América Central, região que raramente tem problemas sanitários com suas lavouras, é a ferrugem asiática. A doença causada por um fungo pode levar a planta à morte. As perdas, até o momento, estão em quatro milhões de sacas, ante uma produção de 27 milhões de sacas nos últimos anos. As perdas ocorrem na Costa Rica, Guatemala, Nicarágua, Honduras e El Salvador. A tendência é o Brasil ocupar o espaço deixado por esse bloco de países. “O mundo pode vender menos, mas nós vamos vender mais”, diz Brasileiro. Em 2013, a previsão do País é exportar 31 milhões de sacas, alta de 10% ante os 28 milhões do ano passado. Os Estados Unidos compraram 19% desse total – 5,3 milhões de sacas.

Para o analista de mercado Gil Barabach, da consultoria gaúcha Safras & Mercado, de Porto Alegre, a festa para por aí. Apesar da expectativa de exportar mais, as cotações muito provavelmente não acompanharão a demanda. A Europa não precisa de café e esse fato segura as cotações do grão no mundo. “As indústrias de café europeias só compram o que irão vender, não formam estoques”, diz Barabach. “E, como sabem que a produção brasileira estará no mercado em breve, eles esperam para comprar café barato.” No mês passado, a saca de café era vendida em Minas Gerais a R$ 314, valor 29% menor que o do mesmo período de 2012, que foi de R$ 444. No mesmo mês de 2011, a saca custava R$ 510, 38% a mais que os atuais valores.