A cada 15 dias, o advogado e economista Rodolfo Abud Cabreira, 45 anos, que mora em Piracicaba (SP), ruma para a capital. Ele faz isso desde 2017, quando decidiu que precisava se especializar. Hoje, está na fase de dissertação de uma tese de mestrado na Fundação Getúlio Vargas (FGV). O tema escolhido foi “Elementos e apropriação de valor na cadeia de proteína bovina”, e não é por acaso. Cabreira é o único herdeiro da Galu Agropecuária, com sede em Rondonópolis (MT). Desde os anos 1990, a família engorda gado e cultiva milho e soja em 5,8 mil hectares. Além disso, em 2012, junto com dois sócios, Cabreira fundou em Mato Grosso do Sul a Fátima do Sul Agro-Energética, no município de mesmo nome. São 24 mil hectares de cana-de-açúcar e uma usina de etanol. “A sala de aula é uma mescla de gerações e essa troca traz uma experiência que nós não temos”, diz ele. “Isso é importante em um processo de reciclagem.”

Cabreira faz parte de uma geração que está indo além da graduação. Ela quer mais conhecimento que pode vir através de um Master of Business Administration (MBA), especialização ou mestrado. As escolas têm olhos para esse público. Junto com a FGV estão muitas outras instituições, entre elas a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), a Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap) e também instituições. A Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA), que é dona de uma faculdade, possui uma grade desse tipo de curso.

Mas como escolher o melhor caminho? A resposta é subjetiva e depende de algumas variáveis, dizem os especialistas. Para eles, é preciso entender o objetivo e o momento profissional de um candidato a uma vaga, que pode ser altamente disputada. Isso porque o entendimento do negócio tem se tornado cada vez mais complexo. Drones, sistemas de irrigação, softwares, máquinas autônomas, edição gênica e tantos outros temas passaram a ser correntes no campo e na agroindústria. Com tantas novidades no setor, qualificação para os seus executivos nunca é demais. Para os especialistas, se o caso em questão for um profissional jovem, com até cinco anos de experiência, o mais indicado seria uma pós-graduação como primeiro passo. Agora, se já possui uma especialização, tem experiência na área e almeja, no mínimo, a gerência do negócio, a preferência é optar por um MBA.

Wanderley carneiro “Com o MBA, é possível se aprofundar em uma área específica e fazer networking” (Crédito:Divulgação)

ESCOLHA No caso de Cabreira, ele fez algumas tentativas até encontrar o eixo perfeito. O executivo já tinha duas pós-graduações, uma em desenvolvimento gerencial e outra em direito empresarial, mais um mestrado em engenharia na Universidade de São Paulo. Na FGV, ele começou um MBA Executivo em Negócios, mas desistiu um ano depois. Trocou o curso para Mestrado Profissional em Agronegócios. “O primeiro curso não abordava aquilo que eu precisava”, diz ele. “Fui atrás de algo mais profundo nas disciplinas, principalmente naquelas diretamente relacionadas ao campo.” Na FGV, o mestrado escolhido por Cabreira tem como foco os profissionais que atuam nas cadeias de produção e de comércio, com disciplinas como fitotecnia e modelagem, fontes de agroenergia, finanças e fitossanidade, entre outras.

Para Angelo Gurgel, coordenador de Mestrado Profissional em Agronegócio na instituição, a vantagem do curso é que ele foge à regra da linha acadêmica e faz uma abordagem voltada para negócio e finanças. Gurgel avalia que a oferta deste tipo de curso no mercado é escassa. “O leque ainda é pequeno”, diz ele. “Mais cursos são necessários porque a formação em ciências agrárias peca no aspecto econômico, deixando uma grande distância entre as duas pontas.” Na FGV, a duração do Mestrado é de dois anos.

Na ESPM, a pós-graduação em Gestão do Agronegócio também dura dois anos e oferece disciplinas como marketing, sustentabilidade empresarial e responsabilidades ambientais. Genaro Galli, diretor de pós-graduação e extensão dessa instituição, afirma que é preciso foco na escolha do que fazer, indiferente se for uma pós e ou um MBA. “O aluno deve se questionar se o curso escolhido retrata as competências que ele quer desenvolver”, diz. “E se o curso está de acordo com o que o mercado pede.”

Na Faculdade CNA, por exemplo, os dois cursos de especialização em sua grade foram pensados a partir das observações da entidade. A CNA representa 5 milhões de produtores rurais, através das confederações presentes em todos os estados. Para André Sanches, diretor da faculdade, as exigências nas empresas do setor têm sido por uma capacitação maior em gestão. “Por isso, o foco é uma formação nesse sentido, para além do que acontece dentro da porteira”, afirma. “A produção agrícola e a sustentabilidade são aliadas e é a educação que pode acabar com a dicotomia de que são setores concorrentes.”

A Fecap, novata nesse segmento, segue esse viés. Em parceria com a francesa Audencia Business School, em Nantes, ela anunciou em março deste ano o seu MBA em Agronegócios. Até antropologia da alimentação está na grade das disciplinas. Além disso, parte do curso é realizado na França e tem cerca de 500 horas no total. Em geral, a média são 360 horas. A Fecap já recebeu 16 alunos dessa escola, de países como China, Índia, Holanda e Nigéria, além da França, e a primeira turma de brasileiros embarca para a Europa em setembro. Wanderley Carneiro, pró-reitor de Extensão e Desenvolvimento da Fecap, afirma que a instituição escolheu colocar um MBA no mercado visando uma intensa troca de conhecimento no setor. “Com o MBA, é possível se aprofundar em uma área específica e fazer networking”, diz. “E não deixa de ser uma excelente oportunidade para entender a dinâmica dos negócios no campo.”