Em 1968, o agricultor paulista Antonio Chavaglia migrou para Rio Verde, no Estado de Goiás, para plantar algodão. Lá, ele se deparou com uma série de problemas para armazenar a produção, comprar sacaria, lubrificantes e sementes. O arroz, carro-chefe da produção agrícola do município naquela época, secava no asfalto, por falta de maquinário. Os agricultores se desdobravam para enfrentar uma logística difícil e custos de produção desfavoráveis. “Goiás era uma grande fronteira agrícola em expansão, mas com muitas dificuldades e sem um sentimento cooperativista”, diz Chavaglia. Para mudar essa realidade, ele se uniu a mais de 50 produtores e, juntos, criaram a Cooperativa Mista dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano (Comigo), em 1975.

A empreitada deu tão certo que a cooperativa mudou a paisagem de Rio Verde, que conta com cerca de 200 mil habitantes e se destaca no cenário do agronegócio goiano e nacional. Hoje, o município é o maior produtor de grãos e o principal arrecadador de impostos sobre produtos agrícolas de Goiás, com produção superior a 1,2 milhão de toneladas de diferentes culturas, como arroz, algodão, soja, milho, sorgo, feijão e girassol. “Fomos pioneiros no esmagamento de soja na região Centro-Oeste e ajudamos a desenvolver a economia goiana”, diz Chavaglia. A cooperativa prosperou e se tornou uma potência agrícola, com um robusto parque industrial que ocupa uma área de 114 hectares, em Rio Verde, além de estar presente em outros 12 municípios goianos. Ela emprega 2,2 mil funcionários diretos e possui mais de seis mil cooperados. É a campeã do setor de cooperativas do ranking AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL.

Comandada por Chavaglia, que está na presidência desde 1986, a Comigo recebeu, em 2012, 1,3 milhão de toneladas de soja e 480 mil toneladas de milho, processou cerca de um milhão de toneladas da oleaginosa, para produzir 192 mil toneladas de óleo e 753 mil toneladas de farelo do grão. Além disso, a cooperativa possui outras fábricas no parque industrial, de onde saíram 205 mil toneladas de fertilizantes, 176 mil toneladas de rações para bovinos, equinos e suínos, 23 mil toneladas de suplementos minerais, 60 mil sacas de sementes e 389 mil caixas de sabão, no ano passado. Somado, isso significa um faturamento de R$ 2,18 bilhões, um crescimento de mais de 33% sobre o faturamento de R$ 1,65 bilhão do ano anterior.

Para pavimentar o caminho do crescimento, a Comigo está executando um plano de investimento de quatro anos, que prevê o desembolso de R$ 400 milhões até 2014. Com esses recursos, a empresa está ampliando a sua rede de recepção, armazenagem e processamento. A esmagadora de soja, na sede em Rio Verde, verá sua capacidade triplicar, de mil toneladas por dia para três mil toneladas diárias. Somada à produção de outra unidade local, a capacidade total de processamento de soja da cooperativa será de 5,5 mil toneladas diariamente. A última etapa do projeto será a construção da segunda unidade de beneficiamento de sementes de soja, em 2014. “É o maior plano de investimentos da história da cooperativa”, diz o vice-presidente de operações, Aguilar Ferreira Mota. “Estamos modernizando totalmente o nosso parque industrial, investindo em todas as áreas.”

Na próxima safra, entrará em operação a nova unidade de fertilizantes da Comigo, com capacidade para fabricar 300 mil toneladas do produto por ano. A cooperativa também construiu uma fábrica para entrar no mercado de rações para animais de estimação, capaz de produzir 75 mil toneladas por ano e já em fase de testes. O plano de investimentos também contempla a modernização da sua unidade de laticínios. Dessa forma, a Comigo vai iniciar a produção de leite longa-vida, com capacidade de processamento de 200 mil litros por dia, a partir de janeiro de 2014. “Tudo isso é para atender à demanda crescente dos nossos cooperados”, afirma Mota. “Eles têm uma participação ativa, confiam na gestão da Comigo, e nós tentamos corresponder ao máximo.”

O cooperativismo tem um papel relevante para o agronegócio nacional. Segundo dados da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), atualmente existem 6,6 mil cooperativas em atividade no Brasil. O maior número delas é voltado para a agricultura e pecuária, com um total de 1.561 entidades, que reúnem mais de um milhão de produtores associados e 164 mil empredo gados diretos. Segundo o presidente da OCB, Márcio Lopes de Freitas, as cooperativas trazem muitas vantagens para o agricultor. Elas facilitam o acesso às novas tecnologias, a compra de insumos e a contratação de linhas de financiamento e ainda melhoram a logística da produção. “A cooperativa nasce com a função de servir o produtor, cria mecanismos de alavancagem econômica para o grupo e agrega valor ao produto”, afirma. “É por isso que cerca de 50% da produção agropecuária brasileira passa por uma cooperativa.”

Para Chavaglia, o que diferencia a Comigo das demais cooperativas é a administração cuidadosa. “Trabalhamos de maneira muito profissional, com responsabilidade e dedicação”, afirma o presidente. “A cooperativa só avança se for capaz de prestar bons serviços para o produtor, oferecendo aquilo que ele precisa e com preços justos.” Outro diferencial, na opinião de Warlen Ferreira, superintendente administrativo e financeiro da Comigo, é a gestão dos lucros. Cerca de 20% das sobras registradas no final de cada ano vão para fundos de reserva e de assistência técnica. O restante é dividido entre os cooperados, mas esses recursos são capitalizados e há remuneração com taxas em torno de 6% sobre esse capital. Segundo Ferreira, o cooperado pode receber essa espécie de “poupança” após os 65 anos. “A cota de participação do associado só cresce”, diz ele. “Além disso, conseguimos formar uma base sólida de capital de giro para investir sempre na cooperativa.”

Ferreira, que tem formação em contabilidade, foi o primeiro funcionário contratado pela cooperativa, ainda em 1975. Ele acompanhou toda a trajetória da empresa e acredita que ela continuará evoluindo. “Haverá um aumento de produtividade e a área plantada dos cooperados também pode crescer”, afirma. “Ainda temos um grande potencial de expansão no Estado.” Chavaglia concorda com ele: “Não é porque a cooperativa está bem que vamos nos acomodar, queremos conquistar resultados ainda melhores”, diz ele, que se autodefine como um gestor persistente.

Junto com dois vicepresidentes, 12 conselheiros e cinco superintendentes, Chavaglia está trabalhando agora no plano estratégico para o período entre 2013 e 2017, cuja meta é crescer num ritmo de 10% acima da inflação. Para este ano, a expectativa é fechar com um faturamento de R$ 2,5 bilhões. “Gosto de ver as coisas acontecerem”, diz ele. “Quero que as nossas metas virem realidade.”