Os assentamentos do Incra foram apontados como os maiores culpados pela destruição da Amazônia, mas essa história ainda

pode “mudar”

Foi com uma grande sensação de mal-estar que o presidente do Incra, Rolf Hackbart, escutou do ministro Carlos Minc, do Meio Ambiente, que seus assentamentos estavam destruindo a Amazônia. Entre produtores, a notícia não chega a ser uma novidade. A falta de estrutura dessas áreas e de preparo dos assentados faz do negócio da madeira uma tentação irresistível.

Novo dono do troféu motosserra, Hackbart não gostou do “prêmio”, ainda mais sendo titular das dez primeiras colocações do ranking da destruição, e partiu para o ataque. Questionou a metodologia do estudo, apontando que as fotografias eram antigas e desatualizadas. O expediente, aliás, foi o mesmo utilizado pelo governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, quando seu Estado foi acusado de avançar demasiadamente sobre matas até então intactas.

Depois de muita pressão, Minc retornou com uma “nova lista”, desta vez colocando o Incra numa posição muito mais confortável e politicamente aceitável. A questão, contudo, levantou dúvidas sobre a lisura das listas. O primeiro questionamento é quanto à qualificação técnica. Se a primeira lista estava de fato errada, por que foi divulgada? A segunda dúvida que tomou conta do debate argüia a validade do segundo ranking. “Independentemente de quem é o primeiro ou o segundo, essa coisa de divulgar lista deveria acabar”, analisa o presidente da comissão de meio ambiente da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Assueiro Veronez. Segundo ele, ao divulgar uma lista, a opinião pública faz um prejulgamento, sem direito à defesa. “Depois descobrem que não era bem assim,” diz o representante.

ROLF HACKBART: o presidente do Incra não gostou do prêmio e pediu para o Planalto intervir

A questão, no entanto, é bem mais complexa. “É um problema fundiário grave, que precisa ser resolvido”, analisa o presidente da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja), Glauber Rocha. Segundo ele, os processos são muito demorados e mesmo produtores que não queiram ficar na ilegalidade muitas vezes se vêem abandonados pelo Estado. “Um georreferenciamento pode demorar mais de um ano, além de uma série de processos que ficam parados nas gavetas de gabinetes”, lamenta. Quando questionado sobre a lista, Hackbart disse ter “sentido falta” dos grandes desmatadores, segundo ele, os produtores de soja. Para o cientista político Dennis Roselfeld, especialista em questões fundiárias, a grilagem por assentados e a venda de madeira ilegal deixaram de ser a exceção para ser a prática. “A maioria dos assentados só quer saber da madeira. Eles são os verdadeiros reis da motosserra”, analisa.