No agronegócio brasileiro há muitos exemplos de empreendedores que cresceram e  progrediram em momentos críticos pelos quais o setor tem passado ao longo dos anos. Para esse público, o lema sempre foi: se o momento é difícil, supere-se, controlando as variáveis o máximo possível. São esses empreendedores de visão diferenciada que se sobressaíram aos demais. De modo geral, no agronegócio há uma forte tendência de olhar para os cenários sob um ponto de vista negativo, muitas vezes influenciado por notícias que trazem uma perspectiva difícil e desencorajadora. É nessa hora que o pessimismo pode contagiar e anestesiar produtores e empreendedores não acostumados com os solavancos do setor, como tem ocorrido nos dias atuais. Por isso, é hora de respirar fundo, analisar e planejar para agir em 2015. 

Nos últimos seis anos, não resta dúvida de que o agronegócio brasileiro passou por um período de prosperidade sem precedentes. A agricultura brasileira expandiu sua área plantada e o uso de tecnologia cresceu significativamente. Evidentemente que isso levou a custos de produção maiores, mas a qualidade e a produtividade, medida em toneladas de grãos, também melhoraram. A esse quadro combinou-se o crescente preço das commodities e o que se viu foi uma agricultura mais rentável para o País.

No entanto, no momento há, em relação a 2015, uma onda de pessimismo e de cautela, baseada em alguns dados de mercado. Já se sabe que vem por aí uma supersafra de soja e milho nos Estados Unidos, que, combinada com o esperado bom desempenho do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, pode influenciar negativamente os preços internacionais. A pergunta é: o que deve fazer o produtor neste momento de incertezas?

De saída, é preciso salientar que da porteira para dentro a melhoria contínua da eficiência produtiva deve ser lei. A fazenda é o local de ação do produtor, onde ele tem o domínio dos acontecimentos. Mas, nessa hora, um pessimista pode dizer: “Vou cortar custo, custo e mais custo”. O fato é que cortar custo, muitas vezes, pode levar a uma baixa produtividade e isso é ruim para uma propriedade.
Com preços historicamente acima da média, mesmo com produção em queda, o pior dos mundos seria não produzir bem em função do baixo uso de tecnologias. Ou seja, perde-se o momento pela combinação de baixa produção e preços firmes. Sendo assim, para 2015 é preciso olhar o corte de custos com critério. Toda operação tem áreas que podem ser melhoradas. Além disso, é necessário que o produtor trabalhe o mercado futuro, aproveitando os picos que certamente irão ocorrer para vender parte de sua produção, retendo outra parte para buscar oportunidades. 

Ainda da porteira para dentro, é preciso pensar na governança das propriedades. As fazendas brasileiras cresceram muito, mas ainda é grande o número de empreendedores que mantêm seus negócios como pessoas físicas. Essa condição dificulta a organização contábil e, consequentemente, o entendimento em profundidade de todos os custos de uma atividade. 

Outra questão que não pode ser esquecida é a gestão das pessoas, sejam funcionários, sejam herdeiros. O caminho é ter profissionais qualificados em postos-chaves, para que possam atrair outros
talentos. Quanto aos herdeiros, é preciso planejar o momento da sucessão. Os pioneiros fizeram um trabalho excepcional nas propriedades, partindo do zero para construir patrimônios extraordinários
que precisam ser bem geridos no futuro. 

Inclusive, visando a abertura de capital ou a associação com empresas do exterior que desejam investir no Brasil. O fato é que a reinvenção do agronegócio requer muita responsabilidade, não importa qual cenário o País atravesse. Essa reinvenção não deve ocorrer somente numa ponta ou num dos elos da cadeia produtiva. Ela tem de ir do começo ao fim, porque aqueles que não se reinventarem correm o risco de pagar um preço alto e perderem o melhor, que ainda está por vir.