O sistema de produção de suínos de Santa Catarina é o mais moderno e avançado do Brasil, mas pode ficar ainda melhor. O maior exportador brasileiro de carne suína – 180 mil toneladas, do total de 499 mil toneladas vendidas pelo País, em 2012 – tem como aprimorar a gestão ambiental de seus criatórios e, de quebra, baixar o custo operacional das propriedades. Um estudo finalizado em novembro do ano passado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Suínos), de Concórdia, no interior catarinense, mostra que é possível modernizar a atual legislação ambiental do Estado, datada de 1960, mediante um tratamento mais adequado ao dejeto dos animais. O modelo pode servir a outras regiões produtoras. “Os suinocultores catarinenses já reduziram pela metade a produção de dejetos, em relação ao que determina a lei atual, mas ainda gastam muito na construção de reservatórios para armazená-los”, afirma Paulo Armando de Oliveira, pesquisador da Embrapa Suínos. Quando não tratados, os dejetos contaminam o meio ambiente, causando degradação do ar, do solo e, principalmente, dos recursos hídricos. Oliveira é o responsável pelo estudo que será apresentado até o final deste semestre à Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina (Fatma), órgão do governo do Estado.

A legislação em vigor determina que cada propriedade deve possuir um reservatório capaz de armazenar os dejetos dos animais por um período de 120 dias. O custo médio para construir um metro cúbico de reservatório é de R$ 60. Para um produtor com mil animais, o gasto fica em torno de R$ 50 mil. É aí que reside o problema. A lei utiliza como base de cálculo para determinar o tamanho do reservatório sete litros de esterco produzido diariamente por animal, um volume considerado muito elevado atualmente. “Isso já existiu no Estado, mas com técnicas mais modernas a atual produção de dejetos é muito menor”, diz Oliveira. O estudo da Embrapa apontou que são gerados em média, 4,5 litros de dejetos por animal/ dia em Santa Catarina. Com essa medida, o custo para produzir um reservatório para os mesmos mil animais cairia para R$ 32 mil. “Para um pequeno produtor que pretende construir uma granja a economia de R$ 18 mil é significativa”, diz Oliveira.

O estudo também mostrou que o consumo total médio diário de água é de 8,3 litros por animal, considerando a ingerida e a necessária para a lavagem dos galpões a cada troca dos lotes, feita a cada 15 semanas. A média de consumo total de água nos demais Estados produtores de suínos é de 20 litros por animal e a produção de dejetos é de 12 litros por animal. Para Oliveira, ao diminuir o desperdício de água na propriedade, o criador tem um segundo benefício ao aproveitar melhor o esterco, que pode ser usado como fertilizante em sua propriedade ou comercializado. “A economia de água na produção melhora a qualidade química dos dejetos que darão origem aos biofertilizantes”, diz.

Segundo o pesquisador, a qualidade do fertilizante está diretamente ligada à quantidade de resíduos sólidos dissolvidos na água. O estudo da Embrapa apontou que a cada litro de dejeto são retirados 5,9 gramas de resíduos sólidos em Santa Catarina. No restante do País, a quantidade média de sólidos por litro de dejeto é de apenas um grama. “Com o excesso de água se gasta muito e não se recupera essa perda com a venda do biofertilizante de qualidade inferior”, Na opinião de Ricardo Gouveia, presidente do Sindicato da Indústria de Carne e Derivados de Santa Catarina (Sindicarnes/SC), o estudo da Embrapa pode elevar a criação do Estado a um outro patamar. “A competitividade dos catarinenses frente aos demais Estados produtores sempre esteve ligada à melhoria dos processos”, diz Gouveia “Agora, podemos mostrar que cuidar do ambiente traz economia ao produtor de forma sustentável.”