Com o anúncio do governo federal, no dia 24 de janeiro, de que as tarifas de energia elétrica serão reduzidas em até 32% para a indústria e o campo, os setores ligados ao agronegócio começam a fazer as contas do impacto da medida em seu dia a dia. No último balanço apresentado pelo Ministério de Minas e Energia, no ano passado, a agropecuária havia registrado um aumento de 18% no consumo de energia; no setor de alimentos e bebidas o aumento foi de 10%, e no de papel e celulose, 16%.

Para Lawrence Pih, dono do moinho Pacífico, a medida veio em bom momento. O Pacífico é o maior moinho da América Latina. Em sua unidade fabril em Santos, no litoral paulista, são processadas 300 mil toneladas de trigo por ano. “Com a medida, a indústria ganha mais margem para competir e é isso que vamos fazer”, diz Pih. O Brasil possui a quarta tarifa mais alta do mundo, de R$ 330 por megawatt/hora, preço que compromete o desempenho da indústria nacional frente a outros mercados. No Pacífico, o consumo de eletricidade de alta tensão, necessária para girar os equipamentos industriais, equivale a 3,6% do custo total da empresa. A redução esperada é de pelo menos 20% nas contas. Segundo Pih, a economia será R$ 6 por tonelada de farinha processada, o que vai gerar uma poupança de R$ 1,8 milhão no ano pelo Moinho Pacífico. “Essa margem vou repassar ao consumidor”, afirma. “Se o meu concorrente não fizer o mesmo, tomo o mercado dele.”

O Brasil possui cerca de 300 moinhos que, além de competirem entre si pelo mercado nacional, ainda precisam brigar com a forte concorrência do produto argentino. “Essa é a nossa pedra no sapato da competitividade”, diz Pih. “A farinha argentina entra no mercado a preços mais baixos.” Segundo ele, a diferença fica por conta do subsídio dado pelo governo da Argentina aos seus produtores. “Aqui isso não ocorre”, diz. Para o empresário, o  corte na tarifa energética do Paísdeveria ser apenas o começo de uma sequência de pacotes de reduções de impostos, especialmente os trabalhistas. “O governo ainda tem muito a fazer para o Brasil crescer com mais velocidade”, afirma Pih.

No dia do anúncio da redução da tarifa de energia, a presidenta Dilma Rousseff disse que espera exatamente isso: dar mais margem de manobra para o setor produtivo. “Nos próximos 15 anos, vamos dobrar nossa capacidade instalada de energia elétrica para 242 mil megawatts”, disse Dilma. Para este ano, a presidenta prometeu a instalação de pelo menos 8,5 mil megawatts e 7,5 mil quilômetros de linhas de transmissão de energia.

A exemplo do dono do Moinho Pacífico, o rizicultor gaúcho Walter Arns, de Uruguaiana, acredita que somente a redução de tarifa não será suficiente para o agronegócio. Arns produz 18 mil toneladas de arroz por safra, em dois mil hectares de terras irrigadas. A despesa com energia elétrica representa 20% do custo de produção, hoje de R$ 4 mil por hectare. “Fico menos otimista quando faço contas”, diz Arns. Por safra, ele gasta R$ 1,6 milhão com energia elétrica, equivalente a R$ 133 mil por mês para manter o sistema de irrigação ligado. “Mas, também utilizo muito óleo diesel, que em contrapartida acabou de subir de preço”, diz Arns. “Ainda não fiz as contas do óleo diesel, mas a impressão que tenho é de que estão dando com uma mão e tirando com a outra.” O aumento do óleo diesel nas refinarias foi de 5,4% e o aumento na bomba de combustível deve ser de pelo menos 3% para o consumidor.

Outro entrave no campo são as linhas de transmissão específicas para as propriedades, muito diferente das imensas estruturas de distribuição nas cidades. “No custo, não colocamos as perdas provocadas por corte de fornecimento”, diz Arns. Segundo ele, as linhas de transmissão deixam muito a desejar porque na zona rural a maior parte dos postes ainda é de madeira. Eles são ecologicamente corretos, mas não suportam intempéries. Na época das chuvas e dos ventos fortes, os postes são facilmente derrubados. “No entorno de minha fazenda são mais de 200 postes”, diz o agricultor. “É difícil uma chuva em que alguns deles não vão para o chão. ”