NOVA CARA:

manifestantes da Via Campesina

usaram novos modelos em atos

ocorridos no mês passado

Os lenços coloridos cobriam o rosto, enquanto outros panos adornavam o cabo das enxadas. As camisetas coloridas e os pares de tênis calçavam os pés no lugar das botas tão comuns no campo, indicando que algo estava fora de lugar. Em alguns casos era possível ver unhas bem cuidadas em delicadas mãos que se erguiam diante de palavras de ordem ensaiadas contra o agronegócio brasileiro. O fato, acontecido em Brasília, chegou a chamar a atenção do ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, que classificou a atuação das manifestantes da Via Campesina como “inadequadas”. Afinal, entre as exigências constava o fim do financiamento a produtores profissionais. Houve também protestos contra a lentidão nos processos de reforma agrária e, “claro”, contra as exportações das commodities agrícolas, assunto que nem sequer é cogitado pelo governo ou por setores mais equilibrados da sociedade.

Antes, porém, de forma “pacífica”, as mulheres invadiram canteiros experimentais da Votorantim Celulose e Papel, destruindo 1.600 árvores. “É uma ação ilegal, visto que a propriedade é protegida legalmente contra invasões, possuindo até um interdito proibitório”, destacou a companhia em nota oficial. O motivo da invasão? O movimento se diz contra o plantio de variedades geneticamente modificadas. Sete pessoas foram presas e responderão por vandalismo.

Mas há dois pontos que merecem destaque nessas ações. O primeiro diz respeito à capacidade de mobilização do MST, que utiliza a Via Campesina como seu braço “feminino” no Brasil. Afinal, coincidentemente, as ações aconteceram dias depois da péssima repercussão dos assassinatos ocorridos em Pernambuco, praticados por integrantes do movimento. O segundo é que, a exemplo do MST, que recebe recursos do governo, a Via Campesina também é subvencionada pelo Estado. Assim como os sem-terra arrebanham para suas trincheiras pessoas sem nenhuma identificação com a causa fundiária, a Via Campesina tem trazido para suas colunas simpatizantes oriundas de ONGs e outras entidades ligadas à luta fundiária. Com a nova apresentação, o movimento está mais bonito, é verdade. Mas por baixo dos lenços e chapéus coloridos não esconde os rostos de mulheres, trabalhadoras do campo. Esconde, sim, a face mais atrasada da esquerda brasileira que luta contra o avanço do agronegócio nacional.