A pós bater o recorde mundial da raça nelore, com mais de 600 mil doses de sêmen comercializadas no País, suspeita-se que o consagrado touro Backup não seja filho do não menos famoso Fajardo – que gerou 275 mil filhos –, como consta no seu registro de nascimento. Backup, cria do rebanho da CFM Agropecuária, de São José do Rio Preto (SP), e que hoje pertence à central de inseminação CRV Lagoa, de Sertãozinho (SP), e outros quatro criadores, foi mais prolífico que o pai, gerando mais de 480 mil filhos. A suspeita foi levantada pela Conexão Delta G, que desde 2009 realiza pesquisas genômicas de bovinos visando o melhoramento genético do rebanho, em parceria com os campi de Araçatuba e Jaboticabal da Universidade Estadual Paulista. Fazem parte da Conexão Delta G 400 mil animais, avaliados em 85 fazendas de 11 Estados.

Além de Backup, outros 11 animais Puros de Origem (PO), todos pertencentes a grandes criadores do País, estão com sua genealogia questionada. Esses animais fazem parte de um mercado que, somente com a venda de sêmen, é estimado em R$ 600 milhões pela Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia). O mercado de touros é de difícil dimensionamento. A estimativa é de que passe de R$ 1 bilhão por ano.

No dia 26 de junho, em Uberaba (MG), os diretores da ABCZ e técnicos do Ministério da Agricultura tomaram algumas medidas. Entre elas, a de que caberá somente ao ministério adotar qualquer ação sobre o caso, além de decidir que a coleta das amostras de material genético para novos testes de paternidade – a contraprova do que já foi realizado pela Conexão Delta G – será uma tarefa dos agentes fiscais do governo. Os testes serão feitos em laboratórios oficiais.

Para o professor da Universidade de São Paulo, Raysildo Lôbo, presidente da Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores, ainda não é possível prever o impacto das suspeitas de que as centrais de inseminação artificial estariam vendendo gato por lebre. “Se confirmadas, não sabemos ainda qual será o efeito na matriz de parentesco na avaliação genética como um todo”, diz Lôbo. “Isso vai depender do número de filhos atribuído a cada touro, se o pai verdadeiro é equivalente ao pai conhecido ou se tem material genético inferior.”

Segundo o presidente da ANCP, levando em conta a amostragem da Conexão Delta G, de mil touros avaliados, os 12 sob suspeita não representam um número preocupante. “Daqui para a frente, com a tecnologia, isso é algo fácil de corrigir.” Ele diz, ainda, que qualquer coleta de dados é passível de erros e que o importante, agora, é investir na prevenção. “Precisamos de diretrizes”, diz Lôbo. “Poderia ser uma exigência que os touros de centrais realizassem testes de paternidade.”