Brasília ferveu na primeira semana de abril, quando dez ministros deixaram os cargos para disputar cargos eletivos no segundo semestre. No Ministério da Agricultura, o burburinho começou na semana anterior ao anúncio, quando já era certa a nomeação de Wagner Rossi, 67 anos, então presidente da Conab para substituir Reinhold Stephanes. A preferência do ex-ministro sempre foi seu secretário executivo, Geraldo Fontelles.

Mas quis o destino e ao que tudo indica também o PMDB que Rossi fosse alçado à condição de ministro de Estado. Polêmico, ele já foi deputado estadual por cinco mandatos e desde 2007 presidia a Conab. Entre os anos de 1999 e 2000, dirigiu a Companhia Docas do Estado de São Paulo. Pesa contra o novo ministro a pecha de ser “amigo dos amigos” e entre eles distribuir cargos públicos. Empossado e com a caneta em mãos, o novo ministro falou com exclusividade à Dinheiro Rural e diz que, sim, vai arregaçar as mangas e dar continuidade ao trabalho de seu antecessor. Mas, se preciso for, poderá fazer algumas mudanças.

“Não tenho compromisso em manter nomes”

Wagner Rossi, ministro da Agricultura

“Sou tão técnico como político, além de ter sido produtor rural por mais de 30 anos”, disse à reportagem de DINHEIRO RURAL. Rossi assume o mandato no lugar de um ministro que sai com a popularidade em alta entre o público rural. Nos sete meses que restam de governo Lula, Rossi sofrerá pressões do setor para que as políticas em andamento não sejam paralisadas – tais como o aumento de crédito para a classe média rural e programas de investimento em infraestrutura.

O novo ministro tem evitado falar com profundidade dos assuntos pertinentes ao setor. Segundo seus assessores, ele ainda está se ambientando à nova função. De acordo com o próprio ministro, trocas de nomes são naturais num processo de transição. “Eu disse desde o início que não estava comprometido com nenhum nome”, afirma. “Claro que pessoas serão substituídas, mas serão mudanças pontuais, em sintonia com os produtores, com os agentes econômicos. Mas só se houver necessidade”, frisa.

Outro nome: Reinhold Stephanes tentou emplacar, sem sucesso, Geraldo Fontelles, secretário executivo

Seu grande trunfo tem sido colocar seu trabalho na Conab como credencial para assumir, mesmo que temporariamente, uma das pastas mais importantes do governo federal. “A pujança do setor agrícola não seria a mesma, não fosse a Conab, uma empresa do bem”, diz, sem entrar em detalhes. Afora os controles de estoques governamentais, a fixação de preços mínimos e as análises de conjuntura, a empresa era responsável por executar uma das principais políticas do governo Lula, o programa Fome Zero. Inclusive os polêmicos abastecimentos de mantimentos em assentamentos do MST, assunto de que o ministro evita falar.

Fome zero era o melhor cartão de visitas Do novo Ministro da agricultura

E é justamente a disputa entre grandes e pequenos um dos grandes fantasmas que acompanharam Stephanes ao longo de seu mandato, sempre polarizando posições com o colega do Desenvol- vimento Agrário, Guilherme Cassel. Se apostará mais nos grandes ou nos pequenos, Rossi, posicionando-se mais como político do que como produtor, fica justamente no meio. Sem antecipar detalhes do próximo Plano Agrícola e Pecuário (PAP), que definirá o volume de crédito disponível para o próximo ano-safra (junho 2010/junho 2011), Rossi diz que a classe média rural será uma das beneficiadas dos programas porvir.

“Neste ano, vamos focar programas para o médio produtor, já que o grande tem seus próprios caminhos para se financiar e os pequenos têm, no governo do presidente Lula, o Pronaf para atendê-los”, pondera. “Além disso, haverá estímulos especiais à sustentabilidade, à recuperação de áreas degradadas e a ações concretas que minimizem a ação dos gases de efeito estufa”, completa. Outro ponto importante diz respeito às possíveis mudanças no financiamento para o estoque de etanol, com a intenção de evitar grandes variações de preços ao longo do ano. “Agora vamos arregaçar as mangas e trabalhar”, diz.

Wagner Rossi, novo ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento:

Como o sr. avalia a sua indicação? Ela foi técnica ou política?

Não aceito como científica essa distinção entre o que é político e o que é técnico. Quando se trata de agricultura, é claro que pode haver uma especificidade de formação. Acredito que essa discussão existe, apenas, para manipulação política, quando não se gosta do técnico ou não se gosta do político. Eu sou produtor rural há mais de 30 anos.

A passagem pela Conab será útil nessa nova fase?

A Conab, como empresa pública encarregada da comercialização e execução das políticas agrícolas do governo federal e pelo abastecimento alimentar do País, contribuiu significativamente na minha vida, especialmente no que se refere ao acesso e à ampliação dos temas relacionados ao agronegócio. Na Conab conheci e convivi com alguns dos melhores técnicos do País, que tornam esta empresa uma referência nacional e internacional. Agora, vou trabalhar com uma equipe também virtuosa, mas que talvez necessite de pequenos ajustes.

As políticas em andamento estão garantidas?

Sim. Esta é uma gestão para o último ano do governo Lula, não para iniciar um trabalho, mas para fazer com que os programas em andamento se tornem realidade. Por isso, afirmei desde o início que não estava comprometido com nenhum nome. Não era obrigado a manter ninguém, mas optei por manter todos aqueles necessários para dar continuidade ao trabalho.