Fusão do Friboi com o Bertin cria a maior empresa privada

do Brasil, dona de 40% do mercado nacional de carne bovina. Concorrentes como o Marfrig também se expandem de forma impressionante. Mas como ficam os pecuaristas

diante desta concentração?

Joesley Batista: dono do JBS fechou parceria com o bertin e transformou sua empresa na maior processadora de proteína animal do planeta

O dia 16 de setembro de 2009 pode ficar marcado para sempre na história da pecuária nacional. Nesta data, o frigorífico JBS-Friboi, maior processador de carne bovina do mundo, anunciou a fusão com o Bertin, outro gigante do setor, numa operação que criou a maior empresa privada do Brasil – à frente inclusive da Vale -, com 125 mil funcionários e uma receita bruta da ordem de R$ 60,6 bilhões. Para se ter uma dimensão do tamanho da nova companhia, hoje, de cada dez quilos de carne vendidos no País, quatro saem das plantas do JBS. Por outro lado, concorrentes como o Marfrig não querem ficar para trás neste bilionário mercado da proteína animal. Apenas um dia antes da fusão do rival, o Marfrig anunciou a compra da Seara, uma das maiores processadoras de aves e suínos do Brasil, consolidando assim sua posição entre os maiores do mundo.

Diante deste cenário – ao que tudo indica, sem volta – de concentração de mercado, a pergunta é: como ficam os criadores? Para os especialistas, a nova realidade não é bem-vinda para o setor. Segundo eles, com uma concorrência menor, o preço da arroba do boi gordo, que já chegou aos R$ 100 e hoje está cotada a menos de R$ 80, perde sustentação.

Marcos Molina: dono do Marfrig manteve seu agressivo projeto de crescimento, comprou a seara e se firmou como gigante global das carnes

Na prática, isso significa que, em regiões onde antes existiam dois ou três frigoríficos disputando os animais, agora existirá apenas um, que poderá monopolizar o mercado, ditar as regras e ter autonomia para depreciar os preços pagos aos fornecedores. “Tivemos problemas com a formação de cartéis no passado e este risco está de volta”, diz o deputado federal Ronaldo Caiado, que também é pecuarista.

“O fazendeiro, que já está num momento complicado por conta da cotação da arroba e da dificuldade de abater o gado, tem que ficar ainda mais atento para evitar o controle do preço do boi por parte de poucas indústrias”, afirma o presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso, Mário Figueiredo. Alexandre Kireeff, presidente da Sociedade Rural do Paraná, tem opinião parecida. Para ele, a redução de opções para a venda do gado pode prejudicar os pecuaristas. “Vemos o surgimento de um oligopólio com características de monopólio, o que desequilibra ainda mais a relação entre produtores e indústria, que já não é muito equilibrada”, diz. Na região de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, o abate de animais era praticamente dividido entre JBS e Bertin.

preocupação geral: pecuaristas acreditam que a concentração do mercado pode refletir na queda do preço da arroba do boi gordo

Por outro lado, a fusão significa uma consolidação definitiva do mercado. Mesmo com menos compradores, o criador teria a garantia do recebimento, ao contrário do que vinha acontecendo nos últimos tempos, com vários frigoríficos em recuperação judicial. Independência, Arantes e Quatro Irmãos são exemplos de antigos players que entraram em sérias dificuldades. O próprio Bertin vinha atrasando o pagamento aos seus fornecedores, em uma espécie de “concordata branca”. Já os compradores tanto no Brasil quanto no Exterior – teriam a segurança da entrega e da padronização do produto em função do volume.

Na opinião de Juan Lebron, diretor-executivo da Assocon – Associação dos Confinadores de Goiás, a notícia da fusão é boa. Ele representa a produção de nada menos que três milhões de cabeças de gado e acredita que a união entre JBS e Bertin deve ser positiva para o setor. “Prefiro um mercado concentrado e saudável a um pulverizado e doente”, analisa Lebron, ponderando que os criadores terão que se adaptar à nova realidade. “No curto prazo será muito bom para todos nós, mas no médio e longo prazo teremos que nos organizar”, continua o executivo. Joesley Batista, presidente do grupo JBS-Friboi, vai na mesma linha, garantindo que não manipulará o mercado. “Somos responsáveis por 12% do abastecimento interno e manteremos uma boa relação com os pecuaristas”, diz. Para o analista Alcidez Torres Júnior, da Scot Consultoria, é preciso cuidado.

Fusão do Friboi com o Bertin cria a maior empresa privada

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diante desta concentração?

Expandindo os negócios: com a compra da Seara, o Marfrig se firma como um dos maiores produtores de embutidos

“Do ponto de vista empresarial e de governo é um grande acontecimento, mas para o pecuarista a notícia é uma droga”, diz. “Em todas as regiões com pouca concorrência o preço é depreciado”, diz.

Ao que tudo indica, a concentração de mercado é um caminho sem volta, porém fundamental para a internacionalização das empresas. Hoje, das dez maiores processadoras de proteína animal do mundo, três são brasileiras – JBS/Bertin, a número 1, com faturamento estimado em US$ 28,7 bilhões, Brasil Foods, resultado da fusão entre Sadia e Perdigão, com US$ 12,1 bilhões, e agora o Marfrig/Seara, que após a aquisição deve atingir um faturamento superior aos US$ 8 bilhões. Segundo os executivos, unidas, as empresas ganham competitividade diante das gigantes multinacionais, muitas delas em dificuldades financeiras. Prova disso foi o anúncio – também no dia 16/09 – da compra da Pilgrim’s Pride, segunda maior processadora de frango dos EUA, pelo grupo JBS, como parte de sua expansão internacional. Graças a sua agressiva política de crescimento, o faturamento da empresa aumentou inacreditáveis 1.900% em quatro anos.

Mas esta tendência de concentração não é privilégio do Brasil. Cerca de 70% da carne produzida nos Estados Unidos, por exemplo, é produzida por Cargill, Tyson e Swift, cada uma com uma participação de aproximadamente 23% do mercado interno norte-americano. Ex-ministro da Agricultura no Brasil e membro do conselho estratégico do JBS, Marcus Vinícius Pratini de Moraes acredita que as aquisições e fusões vão continuar. Ele destaca, entretanto, que o mercado deve se dividir em duas partes bem distintas. “A produção em massa, com grande escala, ficará por conta de grandes empresas, enquanto cortes especiais e produtos de nicho, a cargo de pequenos e médios grupos”, avalia.

650% foi o crescimento no faturamento do Marfrig nos últimos três anos

US$ 900 milhões foi o valor pago pela compra da Seara

30 mil cabeças/dia é a capacidade de abate bovino da empresa após as novas aquisições