O mercado de câmbio viveu um pregão de extrema volatilidade nesta quarta-feira, 7, com o dólar à vista oscilando quase 11 centavos entre a mínima e a máxima, em dia marcado por divulgação da ata do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), declarações do ministro da economia, Paulo Guedes, no Congresso e depoimento, na CPI da Covid, do ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias, acusado de pedir propina para aquisição da vacinas.

Operadores relatam que ainda pesa sobre o mercado o desconforto com a proposta de reforma tributária e a incertezas quanto às consequências da erosão da popularidade e do capital político do presidente Jair Bolsonaro.

Há preocupações também com a possível remessa em massa de dividendos por parte de empresas estrangeiras, à medida que houver sinais mais claros de que a taxação de 20% sobre lucros e dividendos pode ser aprovada pelo Congresso. Em audiência na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados, Guedes voltou a defender a taxação dos dividendos, dizendo que quer tributar os mais ricos e desonerar os contribuintes mais pobres.

Com isso, mesmo diante do tom ameno da alta do Fed, que não deu sinais de que pretende antecipar a redução de estímulos, e da queda da moeda americana em relação a emergentes como o peso mexicano e ao rand sul-africano, o real sucumbiu. Com mínima de R$ 5,1708 e máxima de R$ 5,2807, o dólar à vista fechou negociado a R$ 5,2403, em alta de 0,60% – o maior valor fechamento desde 27 de maio, quando terminou a sessão a R$ 5,2553.

Foi o sétimo pregão seguido de ganhos da moeda americana, que já acumula valorização de 3,70% nesta semana e de 5,37% em julho, depois de ter recuado 4,82% no mês passado.

O head de Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weig, destaca que o real é a pior e a mais volátil entre as moedas emergentes. Particularidades técnicas do mercado de câmbio brasileiro tem exacerbado a volatilidade e o impacto das questões políticas na formação da taxa de câmbio nos últimos dias, ressalta.

“Os exportadores estão deixando o dinheiro no exterior. Já são mais de US$ 50 bilhões lá fora. Por conta disso, o mercado está muito nas mãos dos especuladores, como os hedge funds, o que deixa a taxa de câmbio muito mais volátil no curto prazo”, diz Weig.

Ele considera, porém, que o dólar já subiu demais. E, embora não descarte novas altas no curto prazo, com a moeda americana chegando a buscar R$ 5,40, já se sente confortável em ser “vendedor” de dólares, embora de forma parcimoniosa.

“Os temores de troca continuam absurdamente bons para o Brasil. Uma coisa é o exportador deixar dinheiro lá fora com os juros a 4,25%, e outra com a Selic perto de 7%. Uma hora esse dinheiro vai chegar”, afirma Weig, lembrando que manter os recursos no exterior significa abrir mão de ganhar os juros pagos internamente, que devem subir até o fim do ano, como já sinalizado pelo Banco Central.

No Congresso, o ministro Paulo Guedes afirmou que, considerando o volume de exportações do Brasil nos últimos meses, o dólar “já era para ter afundado”. O ministro reconheceu, no entanto, que a cotação do dólar sofre influência da crise política. “Com esta confusão que estamos fazendo aqui…”, disse.

Hoje, o Banco Central divulgou que o fluxo cambial foi positivo em R$ 4,449 bilhões em junho, com US$ 2,644 bilhões de entrada líquida pelo canal financeiro e de US$ 1,805 bilhão via comércio exterior. No ano, até 2 de julho, o saldo positivo em US$ 15,158 bilhões – graças a entradas líquidas de US$ 14,354 bilhões pelo lado comercial.

Os bancos fecharam junho com posição vendida no câmbio à vista de US$ 14,330 bilhões, cerca de metade do que carregavam em dezembro de 2020 (US$ 35,853 bilhões). Em maio, a posição vendida era de US$ 18,699 bilhões.