Para se ter uma ideia do que a pesquisa pode fazer com uma atividade, basta olhar para a pecuária. Em 1986, o Brasil importava carne de Chernobyl; hoje é o maior exportador mundial do produto. Pois bem, a mesma história pode se repetir com a aquicultura. O Brasil tem 12% da água doce do planeta, 8.400 quilômetros de costa marítima e apenas 1% do comércio mundial do pescado que movimenta US$ 92 bilhões ao ano. O potencial de expansão da atividade no País é gigantesco e a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) aposta nisso para atenuar o déficit de oferta de pescado, estimado em 100 milhões de toneladas em 2030. A expectativa da FAO é que o Brasil contribua com 20 milhões de toneladas/ano.

 

 

R$ 12 milhões é o investimento no novo centro. A primeira parte dos recursos, R$ 6 milhões, será aportada este ano

Para isso, o País terá que saltar de um milhão de toneladas para 20 milhões. Como? Investindo no que impulsiona o desenvolvimento, ou seja, a pesquisa. Neste contexto, o anúncio da criação da Embrapa Aquicultura e Sistemas Agrícolas, no Tocantins, não poderia vir em melhor hora. A unidade fecha o ciclo da consolidação de uma política de Estado para o setor, que veio à tona com a criação do Ministério da Pesca em julho passado. “Já existe muita pesquisa sendo feita, mas elas não estão conectadas. Espero que este centro gere o efeito aglutinador e consiga diagnosticar os gargalos”, diz Pedro Arraes, presidente da Embrapa e pescador por hobby.

Na verdade, já há dezenas de estudos em aquicultura sendo realizados nas unidades da Embrapa espalhadas pelo Brasil. Tanto é que foi criado o projeto Aquabrasil, uma rede de troca de informações sobre as pesquisas em andamento no setor. A 40ª unidade da instituição só vem fortalecer e consolidar o Aquabrasil. Reivindicação de quase duas décadas, ela chega de forma atípica. Primeiro vieram as pesquisas, depois a estrutura. O investimento previsto nessa segunda parte é de R$ 6 milhões este ano e mais R$ 6 milhões em 2010, dinheiro que virá do Programa de Fortalecimento e Crescimento, o PAC da Embrapa. A escolha do Tocantins se deve ao fato de o Estado ainda não ter nenhum centro de pesquisa da Embrapa. “Escolhemos o interior porque achamos que, se colocássemos no litoral, as pesquisas de água salgada não deixariam sobressair as de água doce”, diz Arraes.

A nova unidade será a sede nacional de pesquisas em aquicultura e terá o papel de coordenar o processo inteiro. No entanto, já há uma série de estudos em andamento. Só para exemplificar, a Embrapa Amapá tem se dedicado à pesca marinha, a Embrapa Piauí tem desenvolvido trabalhos para diminuir a mortandade do caranguejo Sá, a Embrapa Amazonas tem focado nos peixes nativos da Bacia Amazônica. Para José Claudenor Vermohlen, subsecretário de planejamento do Ministério da Pesca, “o Brasil está fazendo agora o que o Chile fez há 20 anos e que resultou numa produção de salmão que hoje é de cerca de 700 mil toneladas/ano”.

No momento, a direção executiva da Embrapa está em fase de definição da missão do novo centro e de diagnóstico das competências existentes. A chefia da unidade, que terá 101 empregados, deve ser anunciada em breve e a estrutura apresentará um caráter misto. Será de âmbito nacional no que refere à aquicultura e regional na parte de sistemas agrícolas. Inclusive, o campo experimental de soja em Balsas, no Maranhão, deve ser vinculado ao Tocantins e não mais à Embrapa Londrina. Mas o diferencial, sem sombra de dúvida, é a aquicultura, já que o peixe é a proteína mais consumida no mundo e, tratando-se de Brasil, é um gigante que estava adormecido e começou a despertar.