Mais uma vez as geadas castigaram as lavouras de trigo do País. Em outubro do ano passado, os agricultores gaúchos perderam boa parte do cereal para as geadas e chuvas de granizo. Neste ano, é a vez de seus colegas do Paraná. O maior Estado produtor brasileiro de trigo, o único que tem qualidade industrial, sofreu durante três dias, no fim de julho, o impacto da geada mais forte da última década. O Estado estima agora qual será o prejuízo na qualidade do grão, em pelo menos metade dos 940 mil hectares cultivados com a commodity. Segundo Lawrence Pih, controlador do Moinho Pacífico e membro do conselho da Associação Brasileira da Indústria do Trigo, as perdas estão estimadas entre 300 mil e 500 mil toneladas, dos 2,6 milhões de toneladas de trigo que seriam colhidos a partir do próximo mês nas lavouras paranaenses, que respondem pela metade da produção nacional. Com isso, e com as exportações argentinas suspensas, a indústria dependerá dos fornecedores americanos e canadenses. “Estamos apreensivos, pois perdemos o trigo que mais precisamos”, diz Pih. “Vamos ter de importar mais e a preços mais elevados ainda.” No Paraná, a tonelada do cereal ultrapassou a casa dos R$ 900, e a saca de 60 quilos em algumas regiões chegou a ser cotada a R$ 57,40, no fim de julho. O preço mínimo da tonelada do trigo estipulado pelo governo federal é de R$ 531.

Para frear a pressão de alta sobre os preços no mercado interno, e reduzir os custos com as importações de trigo fora do Mercosul, a Câmara de Comércio Exterior estendeu de 31 de julho para 30 de agosto o prazo para importação com alíquota zero. Segundo Pih, após essa data, além da taxa de renovação da Marinha Mercante de 25% sobre o valor do frete, voltarão a incidir os 10% da tarifa externa comum sobre as importações. “Isso, além de encarecer o trigo, fará com que os preços, por exemplo, do arroz e da mandioca também subam”, diz Pih. “Sem contar que o câmbio acima de R$ 2 também contribui para isso.” De acordo com Carlos Hugo Godinho, coordenador da divisão de estatística do Departamento de Economia Rural do Paraná, a Argentina, principal fornecedor do cereal aos moinhos brasileiros, deverá ofertar o produto da nova safra apenas em dezembro, quando a colheita terá início. “Outro agravante são os estoques zerados do governo federal”, diz Godinho.