A maioria das escolas particulares da capital paulista teve no máximo dois casos de covid entre os alunos ou entre os professores desde que foram abertas, há pouco mais de um mês. O Estadão questionou 20 dos maiores colégios da capital e 14 deles concordaram em responder ao levantamento. Somadas, as escolas vêm recebendo mais de 7 mil alunos em atividades presenciais e cerca de 2,5 mil docentes e funcionários. Para especialistas, o número de infectados é baixo e indica que a escola não é o principal foco com risco de infecção.

Há preocupação, no entanto, com um crescimento na quantidade de casos de coronavírus na capital, que tem atingido principalmente as classes mais altas, público das escolas. Algumas delas enviaram esta semana, às famílias, comunicados de conscientização pedindo que evitem festas e contatos sociais, idas a restaurantes e comércio. Nesta quinta-feira, a Prefeitura deve anunciar novas medidas envolvendo escolas públicas e privadas e, segundo fontes, não deve haver mais flexibilização.

“A maior preocupação é que o vírus seja levado da casa para a escola e não o contrário”, diz o presidente do departamento de infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, Marco Aurelio Safadi. Segundo o levantamento do Estadão, nenhuma das escolas pesquisadas registrou um surto, o que, para Safadi, é um indicador de que a transmissibilidade não foi grande e de que os protocolos funcionaram adequadamente.

Mesmo assim, casos como o da Graded School, revelado pelo Estadão nesta semana, têm assustado pais e escolas. O colégio americano identificou seis alunos infectados e 17 professores suspeitos em uma semana. A grande contaminação teria ocorrido, segundo a escola, porque centenas de estudantes participaram de festas no início do mês. Alunos de outros colégios também estariam frequentando eventos em condomínios e casas de bairros nobres.

“Uma coisa é abrir a escola, ter o aluno com segurança dentro dela, e outra coisa é organizar festas no contraturno onde se esquece da pandemia. Precisa separar isso para não trazer uma culpa que não é da escola”, disse o secretário estadual da Educação, Rossieli Soares.

Prevenção

Os colégios têm impedido que alunos e funcionários com sintomas frequentem as atividades presenciais e gastaram muito em consultorias de hospitais privados. Os estudantes são divididos nas chamadas “bolhas” e só podem ter contato com seu pequeno grupo de colegas.

Em carta, a direção da Graded fez um apelo às famílias para restringir contatos sociais. O Pueri Domus começou ontem uma campanha com o mesmo objetivo – teve oito casos em suas quatro unidades, que juntas têm cerca de 700 alunos em atividade presencial. A diretora do grupo, Christina Sabadell, agradeceu “às famílias das unidades que não tiveram nenhum caso” e lembrou que “o sucesso do programa na escola depende da corresponsabilidade”.

Nove das 14 escolas tiveram zero, um ou dois casos registrados entre os alunos. E 11 delas também registraram dois casos ou menos entre professores e funcionários. As que registram o maior número de casos positivos desde 7 de outubro – quando a Prefeitura autorizou a volta – foram Móbile, Santa Cruz e Miguel de Cervantes, justamente as que têm a maior quantidade de alunos e funcionários em atividade presencial.

A Móbile teve 13 alunos e 7 professores/colaboradores infectados. No Santa, foram 9 e 2, respectivamente. No Cervantes, 4 e 8. Segundo Moisés Domingues, diretor de ensino do Cervantes, apenas uma “bolha” de 15 alunos teve de ser afastada depois que uma professora testou positivo. Mas ninguém mais foi contaminado.

Muitas escolas não registraram nenhum caso, como Oswald de Andrade, Escola Viva, Mary Ward e Colégio Piaget. O Bandeirantes teve 3 casos entre alunos e nenhum entre professores e funcionários.

Compromisso

A diretora pedagógica da Escola da Vila, Fernanda Flores, diz que as famílias que decidem mandar seus filhos (à escola) precisam assumir o compromisso de ficar isoladas. O colégio teve apenas dois casos, mas ela também se preocupa com o aumento no número de registros na cidade e enviou novo comunicado aos pais reforçando a conscientização. “Para que a gente mantenha as escolas abertas, todos têm que fazer a sua parte.”

O argumento é o mesmo em países europeus que enfrentam agora uma 2.ª onda da covid. França, Alemanha e Bélgica, entre outros, determinaram novos lockdowns no fim de outubro, mas mantiveram as escolas abertas. “A Europa aprendeu que as escolas não devem ser as primeiras a serem fechadas, como fizemos antes, e sim as últimas”, diz o infectologista pediátrico Marco Aurélio Safadi.

A discussão também está acontecendo em Nova York, onde foi anunciado ontem que as escolas serão fechadas novamente, depois de apenas oito semanas abertas. O jornal The New York Times havia publicado editorial pedindo que a Prefeitura impedisse restaurantes indoor e cultos religiosos para que o ensino seguisse funcionando.

“Em um ambiente comunitário como o do colégio, os riscos assumidos por cada pessoa em particular acabam se ampliando para toda a coletividade”, diz o diretor geral do Santa Cruz, Fabio Aidar, em carta enviada aos pais. Ele menciona ainda “o relaxamento do isolamento social e a participação em eventos, especialmente entre adolescentes”, e recomenda “enfaticamente, que todos sigam os mesmos protocolos rigorosos das atividades escolares” mesmo fora do câmpus.

Universidades

O aumento de internações por covid no Estado fez a USP, a Unicamp e a Unesp frearem seus planos de retomada da atividade presencial. No início da semana, o governo anunciou alta de 18% nas hospitalizações – o crescimento ocorre tanto em hospitais privados quanto municipais. Em um comunicado, a USP apontou um quadro de “incertezas e instabilidades” e tornou o retorno de servidores e funcionários facultativo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.