Moinhos, massas e pães

Os moinhos de trigo que operam no País atravessaram um ano difícil em 2015. Pela primeira vez, em cinco anos, o consumo de farinhas e derivados do grão recuou 8%. Foram 700 mil toneladas a menos, fechando o período com um processamento de 8,1 milhões de toneladas de trigo. A principal causa para a baixa no consumo foi o desemprego no País, que naquele ano já atingia 8,6 milhões de pessoas – hoje são 12 milhões – e que tem afastado o brasileiro das padarias e supermercados. “Até então, quando o consumidor deixava de comprar um produto, migrava para outro mais barato”, diz Marcelo Vosnika, presidente do conselho deliberativo da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo). “Esta foi a primeira vez em que a opção foi deixar de comprar.”

Diante das dificuldades de mercado, o Moinho Anaconda buscou formas de se adequar ao novo cenário. E deu a volta por cima. A principal delas foi reduzir os preços a boa parte dos oito mil clientes atendidos pela companhia, usando como base a redução de custos que cada produto permitiu. O Anaconda possui duas unidades de processamento de trigo, uma em São Paulo, para farinhas tipificadas – feitas sob demanda para a necessidade de um cliente – e outra em Curitiba (PR), com foco em produtos para uso doméstico. “É importante manter parcerias em momentos de crise”, afirma Valnei Vargas Origuela, diretor presidente do Moinho Anaconda. Com isso, em 2105 a empresa ampliou as vendas em 1,5%, fechando o ano com uma receita de R$ 590 milhões. No período, o lucro cresceu 13,7%. Pelo desempenho financeiro, o Anaconda – que levou o troféu de Melhor do Ano na categoria Agronegócio Direto – Grandes Empresas – foi também campeão setoria de Moinhos, Massas e Pães no anuário AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL 2016.

Receita: R$ 590 milhões Posição no ranking: 202o Setor de atuação: grãos Principal feito: ampliação do lucro da companhia em 14% e das vendas em 1,5% Valnei Vargas Origuela, presidente do Moinho Anaconda
Receita: R$ 590 milhões
Posição no ranking: 202o
Setor de atuação: grãos Principal feito: ampliação do lucro da companhia em 14% e das vendas em 1,5%
Valnei Vargas Origuela, presidente do Moinho Anaconda

Neste ano, como a empresa manteve o já tradicional rigor com as contas, ela espera repetir os resultados de 2015. “Fomos muito cuidadosos ao elaborar o orçamento de 2016, que é mais modesto, mas está sendo cumprido”, diz Origuela. “Não temos a pretensão de ter um resultado maior neste ano em relação a 2015.” Já para 2017, a palavra de ordem é cautela. Origuela afirma que o ano é uma incógnita e não está propício a muitas apostas. “A curva do desemprego e a turbulência não acabaram”, diz ele, que já trabalha com uma perspectiva de lucro e de receita menores que os resultados projetados para 2016.“Embora os preços da commodity estejam historicamente muito baixos, o comportamento incerto do dólar dificulta uma previsão mais precisa”, diz Origuela.

Ao longo do ano, os preços do trigo estavam favoráveis às indústrias, em detrimento dos produtores. O saco de 60 quilos era comercializado em novembro por R$ 28,30 no Rio Grande do Sul, quando o preço mínimo determinado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estava em R$ 38,65. Para evitar mais quedas, por pressão dos produtores, o Ministério da Agricultura e Pecuária investiu R$ 150 milhões em leilões em novembro e dezembro.

Mesmo assim, de acordo com Vosnika, da Abitrigo, há motivos para que os moinhos alcancem resultados financeiros melhores em 2017 em relação aos obtidos nos anos anteriores. A começar pela safra brasileira de trigo de 2016/2017. Segundo dados da Conab, a produção deve atingir 6,3 milhões de toneladas, um incremento de 13,7% em relação ao ciclo anterior. Embora a área tenha caído 13%, para dois milhões de hectares, a produtividade cresceu 31,7%, para 2.977 quilos por hectare. “O trigo está com ótima qualidade”, diz Vosnika. 123

O Brasil consome atualmente 10,5 milhões de toneladas do cereal, das quais metade é importada. Por isso, a expectativa de uma boa safra na Argentina é notícia que anima a indústria. A estimativa para este ano é de uma produção de 12,5 milhões de toneladas, alta de 21% em relação à safra passada naquele país. Vosnika explica que até dezembro de 2015 os moinhos argentinos pagavam imposto para importar trigo, mas tinham benefícios para exportar a farinha para outros países, como o Brasil. Quando Mauricio Macri assumiu a presidência da Argentina, os tributos para o trigo foram suspensos, o que colocou os dois mercados em posição de igualdade. “Com esse estímulo, o produtor argentino voltou a plantar com mais tecnologia, o que deve resultar em uma safra de maior qualidade”, diz Vosnika, que está otimista em relação ao futuro. “Em 2017, o setor deve voltar a investir e a crescer.”