Desde que a palavra biotecnologia passou a integrar o “vocabulário agrícola”, o ato quase poético de semear o campo nunca mais foi o mesmo. A chegada das variedades transgênicas, que podem ser conferidas na Agrishow, provocou um salto produtivo no País e, sem dúvida, representa a maior inovação no mercado mundial de sementes. Dados da consultoria Céleres apontam que neste ano o Brasil deve plantar 37,1 milhões de hectares com variedades transgênicas, o que representa um crescimento de 14% em relação ao ano passado. Agora, mais de dez anos depois que as primeiras sementes de soja transgênica chegaram ao País, contrabandeadas da Argentina, uma nova revolução começa a, literalmente, brotar nos campos brasileiros. Trata-se da nova variedade transgênica desenvolvida pela multinacional americana Monsanto, a soja Intacta. Um híbrido que carrega não apenas os genes resistentes ao herbicida glifosato, como também é resistente ao ataque das principais lagartas que atacam a cultura da soja. “Acreditamos que essa tecnologia terá um grande impacto no campo. Algo semelhante ao que ocorreu com a chegada da soja RR”, ressalta o presidente da Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem), Narciso Barison.

Como tudo que envolve os transgênicos, a chegada da nova semente veio cercada de polêmica. Isso porque, embora já esteja aprovada para plantio e comercialização no Brasil, a variedade ainda depende de sua aprovação na China, principal comprador da soja brasileira. “Nos próximos dias, uma comitiva brasileira viajará para a China para tentar acelerar essa liberação. Acreditamos no início da comercialização dessa variedade ainda nesta safra”, diz Barison.

De acordo com o presidente, novas tecnologias estão no caminho. “Teremos soja tolerante à seca e com mais teor de óleo e proteína, milho com maior teor de amido e proteína, além de variedades com ômega 3. São tecnologias que estarão disponíveis ainda nesta década”, prevê.

Enquanto essas novas variedades não chegam ao campo, veja as inovações que algumas das principais empresas do setor estão colocando no mercado.

Pioneer
A Pioneer, empresa que pertence à gigante americana DuPont, tem buscado desenvolver híbridos de milho com alto potencial produtivo e que sejam adaptados às principais regiões do País. “Buscamos produtos capazes de extrair o máximo que a condição da terra permita. Nosso gráfico de produtividade feito com os usuários dos nossos híbridos mostra que em 2000/2001 a produtividade média de milho era de 9,3 toneladas por hectare. Esse número avançou para 13 toneladas por hectare em 2006/2007”, explica o gerente de Distrito da Pioneer, Elder Fragalle.

Dow
Uma das principais apostas da multinacional americana Dow está em seu híbrido de milho geneticamente modificado com a inserção de três diferentes proteínas. Assim, a variedade é resistente a algumas das mais consideráveis pragas do milho, como lagarta-do-cartucho e broca-do-colmo, e é tolerante a dois tipos de herbecidas, o glifosato e o glufosinato. “A grande vantagem é que, com a inserção de três diferentes proteínas Bt, reduzimos drasticamente a possibilidade de a praga-alvo desenvolver resistência simultânea para essas três proteínas”, explica o pesquisador da Dow, César Santos.

Embrapa
Com um trabalho intenso no desenvolvimento de novas variedades, a Embrapa lançou recentemente duas novas cultivares. A primeira é um híbrido convencional com tolerância à ferrugem asiática. “É um avanço significativo, pois representa economia para o produtor, uma vez que a cultivar possibilita reduzir o número de aplicações de fungicidas”, explica o melhorista Vanoli Fronza, da Embrapa Soja. A empresa também desenvolveu uma cultivar transgênica de ciclo superprecoce, em torno de 104 dias, o que viabiliza o cultivo de milho e/ou algodão na segunda safra. “Tem um bom potencial produtivo, é resistente ao acamamento e às pústulas bacterianas e indicada para solos de alta fertilidade”, destaca Odilon Lemos, o melhorista da Embrapa Soja.

Coodetec
A grande aposta da Cooperativa Central de Pesquisa Agrícola (Coodetec) está na parceria com a Monsanto para o desenvolvimento de variedades adaptadas às diferentes regiões do País e que estejam aptas a receber a tecnologia da nova soja Intacta. “Essa tecnologia só irá ter valor para o produtor se ela estiver numa variedade produtiva e adaptada. Estamos desenvolvendo o germoplasma para que isso aconteça”, diz o gerentecomercial da Coodetec, Marcelo da Costa Rodrigues. Além disso, a empresa vem pesquisando híbridos que atuem com novas moléculas de herbicidas e novas proteínas Bt, que combatem pragas. “Também temos estudos na área de estresse abiótico, como a tolerância à seca. Mas isso é algo um pouco mais distante”, diz.

Monsanto
Poucas tecnologias têm sido tão aguardadas como a nova soja Intacta, recém-lançada pela multinacional americana Monsanto. Utilizando mapeamento, seleção e inserção de genes em regiões de alta produtividade do DNA da planta, a empresa desenvolveu a primeira tecnologia “3 em 1” para soja no Brasil. Essa variedade transgênica, segundo a companhia, controla as principais lagartas da cultura da soja, possui tolerância ao herbicida glifosato e potencial para incremento de produtividade. “Um dos desafios da agricultura sustentável é racionalizar a utilização de insumos”, diz Rogério W. Andrade, gerente da Monsanto e responsável pela Intacta RR2.