Nas lavouras perenes, como as de cana-de-açúcar, que podem chegar a um desfrute de seis anos, ou nas de café e citros, com produção por mais de 15 anos, é fácil entender por que os projetos
de irrigação utilizam sistemas de gotejamento. Com ele, o uso da água é mais racional, distribuída de forma precisa e na quantidade exata para manter a produção, sem desperdícios. Nas culturas anuais, como grãos e cereais, o mais comum no País ainda é a utilização de pivôs que jogam água por cima das plantas. No entanto, nas últimas três safras, o sistema de gotejamento começou a ganhar espaço em lavouras de grãos. E mais, não com canos à vista, mas enterrados, uma técnica israelence que vem sendo apresentada por empresas como a Netafim e Rivulis, além da indiana Naan Dan Jain.  De
acordo com Daniel Neves, CEO da Netafim Brasil, sediada em Campinas, com fábrica em Cabo de Santo Agostinho (PE) e em Ribeirão Preto (SP), o crescimento dos sistemas de irrigação no País ficará acima da média mundial nos próximos anos. “Vai crescer em função do avanço do PIB do agronegócio e da disponibilidade de área”, diz Neves.

Atualmente, o Brasil irriga apenas 8% de sua área cultivada, o que equivale a cerca de seis milhões de hectares. Mas o potencial pode chegar próximo de 30 milhões de hectares irrigados, área correspondente a quase 40% do total cultivado. O uso de água de forma racional é um dos desafios do agronegócio para as próximas décadas. O sistema por gotejamento subterrâneo, tecnologia na qual as empresas estão apostando para as culturas de grãos, como feijão, milho e agora a soja, serve para as áreas onde se pratica o plantio direto, sem revolver o solo, e com economia de água e energia que 
chega a 30% em comparação com os pivôs. O pecuarista e agricultor gaúcho Flávio José Fialho Velho, da fazenda Três Capões, no município de Palmeira das Missões (RS), começou a testar o gotejamento subterrâneo na safra de 2012. O produtor, que lida com o roçado há 42 anos, vislumbrou na técnica uma solução para a falta de regularidade de chuvas em sua região. “Nos últimos dez anos venho percebendo uma alternância de índices de chuva de médios a muito baixos”, diz Fialho Velho. “Isso prejudicava a lavoura e não dava para cobrir os custos no final da colheita.” 

 

A fazenda de Fialho Velho possui 1,3 mil hectares, dos quais em 80 hectares foram implantados os canos de irrigação. Nessa área, o produtor já vem contabilizando os benefícios em relação ao plantio de sequeiro. No primeiro ano, na safra 2012/2013, Fialho Velho plantou feijão. A produtividade média chegou a 280 sacas de 60 quilos, por hectare, 130 sacas a mais que na área de sequeiro onde o rendimento foi de 150 sacas por hectare. Na temporada 2013/2014, foi a vez do milho, com 305 sacas por hectare. “Jamais chegamos a atingir essa quantidade”, diz Fialho Velho. “Nossa média era de 150 sacas por hectare.” 

O resultado positivo não se deve apenas à contribuição da água, mas também a uma melhor distribuição de fertilizantes, com a fertirrigação. Na safra deste ano, o produtor decidiu investir na soja,
cultura mais rentável que as demais. Para o técnico agrícola Lucas Ferreira Vaz, administrador da propriedade e responsável pela implantação do projeto, a previsão é colher na área irrigada 120 sacas
por hectare, o dobro da área sem irrigação. “Estamos animados porque a lavoura está muito bonita”, diz Ferreira Vaz. A colheita deve acontecer entre o final de março e início de abril. Mas mesmo diante
dos resultados, Fialho Velho ainda não faz planos para ampliar a área irrigada. Segundo o produtor, o motivo é o alto custo da tecnologia do gotejamento subterrâneo, o dobro do que seria gasto com pivôs centrais. Na Três Capões, cujo terreno é irregular, em boa parte, na área escolhida para implantar a irrigação foram investidos R$ 12 mil por hectare. No total, Fialho gastou R$ 960 mil para instalar a rede de canos a 30 centímetros de profundidade e a sala de bombas, que controla toda a operação. “Foi por conta do terreno irregular que a tecnologia foi muito bem-vinda porque a terra passa a ser aproveitada em seu máximo potencial”, diz Fialho Velho.

Embora haja linhas de crédito disponível, os produtores ainda as consideram de difícil acesso. O BNDE S, por exemplo, possui o Programa de Incentivo à Irrigação e à Armazenagem (Moderinfra),  no qual o produtor tem acesso, até o próximo mês de junho, a R$ 2 milhões para projetos de irrigação, com juros de 4% ao ano. De acordo com o engenheiro agrônomo Michi Unger, diretor agronômico para a América Latina da Netafim Israel, o cenário é animador para a irrigação, à medida que as tecnologias forem sendo apresentadas aos produtores. “A produtividade alta nas áreas de irrigação paga pelo investimento”, diz Unger. “O aumento de área virá à  medida que a técnica de gotejamento subterrâneo passar pela fase de ajuste para cada cultura no Brasil.”  

No Sul, por exemplo, além da soja, a Netafim vem conduzindo testes em áreas de arroz. “A técnica será boa para todo o País”, afirma Unger. Não por acaso, a empresa espera dobrar até 2017 o
seu atual faturamento de US$ 40 milhões, valor equivalente a 5% da receita global da Netafim, que está presente em 110 países. Para Neves, o CEO da Netafim, o gotejamento subterrâneo é utilizado em diversas culturas, inclusive grãos, há cerca de duas décadas, no mundo e não há como dar errado no País. “Posso citar o uso da tecnologia em todos os lugares nos quais atuamos e mostrar resultados”, afirma Neves. “Alguns exemplos de excelência são os Estados Unidos, Itália, Israel, Austrália e Turquia.”