A estratégia para seduzir e roubar mulheres pode ser comparada com a tática do israelense Simon Leviev, protagonista do Golpista do Tinder, documentário da Netflix. Mas, aqui, nesta história real, o “estelionatário amoroso” é brasileiro, bon vivant, cheio de pose e lábia que conquistou muitas mulheres para se apossar de dinheiro e pertences pessoais. Lamartine Reis de Castro Uchôa Cavalcanti, 29, foi preso na quarta-feira, 2, em Olinda, após ser acusado de aplicar golpes financeiros em sete mulheres. Primeiro, ele atraia as vítimas por meio de um aplicativo de relacionamento. Após o contato virtual, Lamartine ganhava a confiança delas a partir de mentiras que contava sobre as supostas profissões que exercia.

Capelão, assessor judicial, guarda municipal, formação em gastronomia e diplomata. Estas são algumas das identidades falsas utilizadas pelo suspeito, segundo a Polícia Civil do Recife. De acordo com o delegado responsável pelo caso, Joel Venâncio, o acusado tinha como foco inventar proximidade com autoridades religiosas e públicas. Em uma situação alegou ser sobrinho de um arcebispo. “Sempre com profissões que passavam credibilidade, isso para poder quebrar a resistência das vítimas”, relatou o delegado em entrevista ao Estadão.

O caso veio à tona depois de uma denúncia feita por uma das mulheres seduzidas por Lamartine. A universitária Fernanda Karla Nunes, 41, afirmou ter tido um prejuízo que ultrapassou R$ 6 mil após ser enganada pelo investigado. “Ele tem um poder de persuasão, de convencer tão fácil”, declarou a mulher em entrevista à TV Globo Nordeste do Recife.

Eles se conheceram em dezembro de 2021. Fernanda disse que o suspeito roubou uma quantia de dinheiro que estava guardado em sua casa, furtou um relógio, utilizou cartões, além de ter enviado o número do PIX dela para agiotas.

Para apresentar mais detalhes do crime, a Polícia Civil realizou uma coletiva na quinta-feira, 3, na capital pernambucana. Seduzir mulheres com o intuito de dar golpes não foi o único crime cometido por Lamartine. A corporação também verificou que o acusado promoveu casamentos falsos e venda de cartões clonados. Na residência do suspeito, foram encontradas: batinas, documentos e condecorações falsas. Segundo Venâncio, o suspeito negou ter praticado qualquer crime.

O delegado contou que o homem chegou a divulgar nas redes sociais a fotografia de uma mulher e uma criança. Ele alegava que a menina era filha dele e estava doente em São Paulo. Nos posts, ele mencionava uma suposta cirurgia que a garota precisava realizar. O procedimento custaria R$ 47 mil. O delegado disse ter localizado as pessoas da foto utilizada por Lamartine. Segundo Venâncio, a menina nunca esteve doente.

A corporação afirma que o número de vítimas deve aumentar nos próximos dias. “Já que esse ‘golpe do amor’ acontece mais pelas redes sociais, a gente ainda não sabe o alcance disso”, diz o delegado. Até o momento, a Polícia Civil identificou três cidades em que os crimes foram aplicados: Olinda, São Lourenço da Mata e Recife.

Lamartine foi autuado pelo uso de documentos falsos. No inquérito instaurado, foi registrado crime de estelionato, tráfico de influência, crime contra honra das autoridades e exploração de prestígio.

O acusado foi preso e submetido a audiência de custódia, onde foi decretada a prisão preventiva. A Polícia Civil tem o prazo de 10 dias para concluir o inquérito por uso de documentações falsas. “Ele deve seguir preso, justamente por essa periculosidade dele por estar constantemente envolvido nos mais variados delitos”, concluiu o delegado Joel Venâncio.

COM A PALAVRA, LAMARTINE REIS DE CASTRO UCHÔA CAVALCANTI

Até a publicação deste texto, a reportagem do Estadão não conseguiu contato com o suspeito. O espaço está aberto para manifestação (jayanne.rodrigues@estadao.com).