Aprodução de grãos da região Sul, que representa mais de 25% do total do País, terá queda de 12,7% na comparação da safra 2021/22 com a anterior. A estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é de que sejam colhidas cerca de 68 milhões de toneladas na temporada atual, ante as 78 milhões de toneladas do período anterior. Uma das razões para tal retração é a estiagem que se intensificou no terceiro trimestre do ano passado e já gerou grandes prejuízos para os agricultores, pecuaristas e toda a cadeia. O que governos estaduais, prefeituras e entidades de classe vêm fazendo para, no mínimo, amenizar os impactos é levantar em detalhes a real dimensão dessa situação, colocar em prática planos emergenciais e buscar a ajuda do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Ainda de acordo com a Conab, o Rio Grande do Sul é o estado com a maior redução na produção. Enquanto a safra 2020/21 foi de 38 milhões de toneladas, a 2021/22 será de 29 milhões de toneladas, queda de 24,7%. Em janeiro, 200 cidades gaúchas haviam decretado situação de emergência por conta da estiagem, conforme divulgação da Agência Brasil. Dados da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Sul (Emater-RS) revelaram que 195 mil propriedades tiveram perdas na produção.

ÁGUA Governos locais investem em ações emergenciais para garantir abastecimento (Crédito:Diego Vara)

Parte do socorro aos produtores rurais do Rio Grande do Sul vem do programa Avançar, que já soma R$ 4,5 bilhões em investimentos para atender diversos segmentos. Especificamente para a agropecuária e para o desenvolvimento rural, são quase R$ 276 milhões. “Deste valor, R$ 201,4 milhões serão para a qualificação da irrigação. Ou seja, 73% do valor do Avançar na agropecuária será aplicado exatamente nesse tema que estamos discutindo”, afirmou o vice-governador gaúcho, Ranolfo Vieira Júnior.

EFEITO CASCATA De acordo com relatório do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento do Paraná, a perda média na atual safra do estado pode ser de 39% para a soja, 36% no milho e 30% no feijão. Na região Oeste, onde o quadro é mais grave, a perspectiva de quebra é de 71% para a soja; 65%, milho; e 60%, primeira safra de feijão. O prejuízo para o período atual nas terras paranaenses, que vêm sendo afetadas por estiagem desde 2019, pode chegar a R$ 25,6 bilhões.

Os efeitos também são sentidos na pecuária leiteira. O Paraná é o segundo maior produtor de leite do País, com mais de 4,3 bilhões de litros por ano, e tem sofrido com a estiagem mais intensa, os custos de produção mais altos, os preços em queda e a redução de consumo. Parte dos pecuaristas reduziu o rebanho e alguns até abandonaram a atividade.

Em Santa Catarina, sobretudo do extremo Oeste, Oeste e Meio-Oeste, a expectativa de chuvas entre dezembro do ano passado e fevereiro deste ano era de precipitações em torno de 150 mm, mas o índice não passa de 40 mm, segundo dados do Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometerologia (Ciram), órgão da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural do estado (Epagri).

Os prejuízos da agricultura catarinense com a estiagem já passam de R$ 3,7 bilhões, segundo a Epagri, somadas as culturas de soja, milho (grão e silagem) e feijão de primeira safra. O maior impacto é na soja, com quebra de 551 mil toneladas na safra ­— a expectativa era de colher mais de 2,5 milhões de toneladas — e perdas de R$ 1,5 bilhão. Na produção de milho grão, a redução na safra é de 34,5%, ou seja, 936 mil toneladas a menos, e prejuízos de R$ 1,4 bilhão. Essa quebra é muito significativa para a economia do estado, fortemente baseada na produção de aves e suínos, que têm o cereal como principal insumo da alimentação. O governo catarinense anunciou investimentos de R$ 150 milhões durante este ano para amenizar a situação.

Todos os estados já apresentaram ao Mapa detalhes sobre o impacto da estiagem. A ministra Tereza Cristina visitou a região em janeiro, conversou com produtores, lideranças do setor e membros dos governos locais, e se dispôs a oferecer socorro, juntamente com os demais órgãos do governo federal ligados ao agronegócio. “Estão comigo não só o time do Ministério da Agricultura, como também a Conab, a Embrapa, o Banco Central e o Banco do Brasil. Não há um modelo pronto do que o governo federal possa fazer, mas temos que dar agilidade para as medidas que já são previstas para a área”, disse ela em sua passagem pelo Paraná.