A China, preocupada com uma segunda onda da covid-19, iniciou uma reforma agrícola, com fortes investimentos em políticas públicas para o desenvolvimento agrícola nacional. E essas mudanças podem impactar diretamente o agronegócio brasileiro, aponta recente estudo da Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas (Sire) da Embrapa.

O país asiático quer aumentar a segurança alimentar. Para isso, será necessário diversificar os seus canais de importação e suas estratégias de aquisição. Mudar a rota das compras chinesas é uma das diretrizes deste plano, o que deve servir de alerta para o mercado brasileiro de commodities.

“A epidemia da Covid-19 alterou a estabilidade alimentar de uma nação gigantesca e dependente de inúmeras fontes, internas e externas, para a segurança alimentar de seus cidadãos. O necessário fechamento de cidades (lockdown), regiões, portos, rodovias, aliado ao isolamento social forçado de milhões de pessoas, afetou drasticamente a circulação de alimentos, insumos, rações animais, a disponibilidade de mão-de-obra para as atividades produtivas e industriais, inibindo enormemente a produção interna. A China tornou-se mais dependente de um mercado externo, também fortemente afetado pela pandemia da Covid-19”, destaca o pesquisador da Embrapa Mário Seixas, autor do estudo.

O estudo China pós- Covid- 19: um alerta ao agronegócio brasileiro foi elaborado a partir de informações da Fitch Solutions Macro Research, Agência RaboResearch, Food& Agribusiness, e Rabobank.

Segundo o documento, o governo chinês avalia formas de adotar medidas que resultem na diminuição de riscos de interrupções das remessas recebidas do exterior em decorrência da logística dos portos exportadores, como no caso do Brasil.

O pesquisador da Embrapa ressalta que as medidas adotadas pelo governo chinês sinalizam que o país aprendeu com a primeira fase da doença e por isso quer se preparar para os riscos de a pandemia mundial dificultar e até mesmo reduzir o escoamento da produção dos países exportadores, em especial, Argentina, Brasil e Estados Unidos.

O Brasil envia a maior parte da soja, milho e algodão pelo porto de Santos; os EUA concentram seus pontos de exportação de milho e soja no noroeste do país e em Nova Orleans. E a Argentina, pela região de Rosário.

A logística dos portos brasileiros é vista como um elo fraco da cadeia de suprimentos que canaliza as exportações de grãos, carne, açúcar e outros produtos agrícolas do país para o resto do mundo. O risco de interrupção das remessas ao exterior devido a problemas de isolamento social e logísticos de transportes e armazenamento nos terminais e de disponibilidade de mão de obra, como resultado da pandemia da Covid-19, preocupa a China.

“Um exemplo mencionado pelas agências de risco foi o ocorrido em março deste ano, quando uma ameaça de paralisação dos trabalhadores no porto de Santos foi evitada, após a implementação de um pacote de medidas para reduzir o risco de infecção sanitária no porto”, acrescenta o pesquisador da Embrapa.

Outro alerta relevante para o agronegócio brasileiro diz respeito aos crescentes riscos relacionados aos compromissos assumidos pela China no âmbito do novo acordo comercial com os Estados Unidos.

As exportações brasileiras de soja atingiram 16,3 milhões de toneladas, em abril de 2020, 73% a mais do que no mesmo período de 2019. No entanto, devido ao acordo EUA-China, o país asiático deverá aumentar o volume de importação dos Estados Unidos, fechando 2020 com 90 milhões de toneladas adquiridas dos americanos, 10 por cento a mais do que em 2019.

Além disso, há a estratégia em investimento no setor agrícola, acelerando seu processo de modernização, principalmente com maior suporte à agricultura familiar. Foram priorizadas o aumento de subsídios para um incremento na área cultivada de milho, a reativação da suinocultura, que sofre pelo surto da peste suína africana (PSA). Medidas que podem afetar diretamente o Brasil.