Chicago, 03 – A perspectiva para grandes tradings de commodities agrícolas parece estar melhorando, após anos de excesso de oferta global de grãos. Condições climáticas desfavoráveis na Argentina e redução de custos estão melhorando a rentabilidade das maiores empresas do setor.

O lucro e a receita da Archer Daniels Midland (ADM) no primeiro trimestre superaram a expectativa de analistas. A Bunge, embora tenha registrado prejuízo nos primeiros três meses do ano, elevou a estimativa de lucro para seu negócio de comercialização e processamento de grãos em 2018, principalmente por causa do clima seco na Argentina, que reduziu a produção de soja do país. Segundo analistas, a oferta mais apertada pode contribuir para a comercialização de grãos e para elevar as margens de processamento. A Cargill disse no mês passado que esses fatores também estão impulsionando seus negócios.

Essas tradings compram grãos de agricultores e depois os vendem para fabricantes de alimentos ou os transformam em ração animal, óleo vegetal e outros produtos.

“O agronegócio está de volta, forte como sempre”, disse em entrevista o CEO da Bunge, Soren Schroder. “Todas as nuvens negras que convergiram ao mesmo tempo já ficaram bem para trás.”

O CEO da ADM, Juan Luciano, disse que houve uma reviravolta nos resultados da companhia. Segundo ele, a expectativa de escassez de alguns grãos levou compradores de ração animal e outros ingredientes de volta à mesa de negociação, para fechar contratos de fornecimento de longo prazo.

O clima seco na Argentina reduziu a produção de soja do país em quase um terço na temporada 2017/18, de acordo com estimativa do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). A safra menor ajudou a impulsionar os preços do grão e a diminuir os estoques de farelo de soja, um ingrediente usado em ração animal. A Argentina é o maior exportador mundial do derivado. Tudo isso contribuiu para elevar as margens de lucro no processamento da oleaginosa.

Nos últimos anos, safras robustas nos EUA e na América do Sul levaram agricultores a segurar sua produção, enquanto compradores passaram a optar por contratos de fornecimento de curto prazo. Tradings reagiram a isso cortando milhões de dólares em custos, vendendo ativos e reestruturando operações logísticas em países como o Brasil. “A indústria aprendeu uma lição no ano passado”, disse Schroder.

Aquisições no setor também foram consideradas. Em maio do ano passado, a Glencore confirmou ter feito uma proposta “informal” para comprar a Bunge. No começo deste ano, a ADM também fez uma proposta para a aquisição da rival. Em março, porém, o Wall Street Journal disse que as negociações entre ADM e Bunge estavam paradas por causa de receios com possíveis problemas regulatórios.

Apesar da melhora da perspectiva para tradings, a situação de agricultores continua incerta. Os preços de muitas commodities agrícolas continuam baixos e o lucro líquido da agropecuária deve cair 7% em 2018, para o menor nível em mais de uma década, segundo o USDA. As tensões comerciais entre EUA e China também são motivo de preocupação. O país asiático é o maior comprador mundial de soja e absorve cerca de metade das exportações norte-americanas da oleaginosa. Fonte: Dow Jones Newswires.