A Eurasia afirma que a política de “tolerância zero” da China com casos de covid-19 será um fracasso e que essa questão é um dos principais riscos no quadro global neste novo ano. Em relatório, a consultoria diz que a situação da potência é “a mais difícil” na pandemia e que a tática de Pequim não funcionou em 2020, embora tenha tido sucesso inicial. Agora, Pequim enfrenta desafios com a variante Ômicron, muito mais contagiosa, e com o fato de que suas vacinas são menos eficientes diante da nova cepa, alerta. O sucesso inicial da estratégica chinesa impossibilita uma mudança de rumo agora nesta política defendida pelo presidente Xi Jinping, na opinião dela.

A consultoria realizou entrevista coletiva virtual nesta segunda-feira para apresentar o relatório. O presidente da Eurasia, Ian Bremmer, disse que a pandemia “mudou de modo dramático” com a variante Ômicron, mais transmissível e menos mortífera, segundo as pesquisas até agora disponíveis. Nesse quadro, a insistência na política de zero tolerância pelos chineses provocará a persistência de shutdowns em alguns pontos do país com surtos da doença e também em problemas na cadeia de produção. Segundo a consultoria, essa postura da China representa um risco para os países em desenvolvimento em geral.

Para a Eurasia, a China deve fracassar para conter os casos e isso levará a mais shutdowns, mais intervenção estatal e a descontentamento popular. Os problemas do país se somam aos já vistos nas cadeias de produção global, adverte a consultoria. “Dificuldades de embarque, surtos de covid-19, falta de pessoal, de matérias-primas e de equipamentos – tudo isso mais agudo por causa da política de covid zero da China – tornarão produtos menos disponíveis”, diz.

A Eurasia também afirma que o quadro fará com que a inflação na China perdure. A consultoria também vê como provável que a inflação global siga elevada, diante de custos crescentes com energia. Isso reforça um sentimento contra os políticos atualmente no poder, avalia, causando instabilidade em alguns países emergentes e afetando eleições na França e nos Estados Unidos.

Para a consultoria, o Partido Democrata do presidente Joe Biden pode perder a disputa de meio de mandato neste ano nos EUA tanto na Câmara dos Representantes quanto no Senado. Essa disputa legislativa “pode ser a de maior impacto na história dos EUA”, disse Bremmer. Ele qualificou os EUA como o país “mais politicamente disfuncional, desigual e menos vacinado do G7”.

TURQUIA

A consultoria cita ainda a Turquia como um dos principais riscos para o ano. Na opinião dela, o presidente Recep Tayyip Erdogan deve arrastar a economia turca e a posição internacional do país “para novos mínimos em 2022”, no momento em que tenta melhorar seu desempenho antes de eleições em 2023. Caso o quadro econômico continue a se deteriorar, a Eurasia enxerga como possível a convocação de eleições antecipadas por Erdogan.