O sinal negativo no mercado de ações do exterior pesa no Ibovespa, que há instantes passou a renovar mínimas, depois de cinco pregões seguidos de fechamento em queda. Investidores estão na defensiva, sobretudo diante do lento processo de vacinação no mundo, enquanto a onda de covid-19 vai se espalhando. Nesta manhã, o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, disse não saber quando acabarão as restrições por causa do novo coronavírus no país. Segundo ele, “continuaremos em situação perigosa na pandemia.”

As bolsas europeias e os índices futuros de Nova York acentuaram as perdas, com Londres cedendo 1,32% às 10h44, puxando também o Ibovespa.

O índice brasileiro caía 0,24%, aos 116.291,94 pontos, após mínima aos 115.455,82 pontos e máxima aos 116.616,21 pontos.

“Mesmo com os EUA diminuindo o número de casos, há preocupação quanto ao impacto economia e ainda tem essa cautela quanto ao processo de vacinação que está indo devagar em todos os lugares. Talvez os mercados tenham se entusiasmado um pouco com essa resolução chegada da vacina”, observa o economista Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria.

Para Víctor Hasegawa, gestor da Infinity, o medo maior, contudo, não está relacionado ao atraso da vacinação, mas se as vacinas terão eficácia contra as novas variantes do vírus. “Aí, sim, pode ter um estresse maior”, afirma.

Também hoje, investidores aguardam a decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), que será à tarde, além de ficarem atentos a novos sinais sobre aprovação do pacote de trilhões de dólares nos EUA. Campos Neto pondera que não há expectativas de mudanças pelo Fed, o que, em tese, seria um fator positivo. “Se isso fosse atuar, seria do lado de alívio, mas o grande incômodo é a questão da pandemia”, reforça.

Por outro lado, a sintonia do presidente Jair Bolsonaro, do ministro (Economia) Paulo Guedes e do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em evento ontem, em relação à condução das contas públicas pode trazer algum alívio ao índice brasileiro nesta quarta-feira. “É mais um dia de aversão a risco e de volatilidade. Porém, pode ser um pouco menos pior para o Ibovespa, beneficiado em função dos sinais fiscais de melhora qualidade ontem”, diz, em nota, o economista-chefe do BV, Roberto Padovani.

Em linhas gerais, o governo ontem admitiu que uma nova rodada do auxílio emergencial poderá ser necessária para conter os efeitos da pandemia de coronavírus, mas disse que exigirá contrapartidas, medidas de restrição dos gastos públicos. A sinalização deve continuar agradando, pois afasta, por ora, o risco de descumprimento do teto de gastos.

Para Hasegawa, a possibilidade de vitória dos candidatos apoiados pelo governo para a eleição no Congresso, sobretudo do da Câmara (Arthur Lira) também pode dar algum alívio aos investidores, no sentido de chance maior de avanço na pauta econômica, como aprovação da PEC emergencial.

As ações das principais blue chips do Ibovespa – Vale e Petrobras cedem. Já as Cielo puxam a fila das maiores valorizações na B3, com ganhos de 6,54%, após informar crescimento em seu lucro no último trimestre de 2020. A empresa registrou lucro líquido de R$ 298,2 milhões no último trimestre de 2020, alta de 34,7% em relação a igual período do ano anterior e de 197% na comparação com o terceiro trimestre. O conselho de administração da companhia aprovou também o pagamento de dividendos no valor de R$ 14,950 milhões.

Ao avaliar os dados, o presidente da empresa, Paulo Caffarelli, disse que a Cielo quer terminar 2021 com mais de 40% em antecipação de recebíveis, e que continuará perseguindo a redução de custos com qualidade.

As ações da Eletrobras também entram na lista das elevações mais expressivas, subindo acima de 1,5%, depois do tombo da véspera, reagindo à saída de Wilson Ferreira Junior do comando da empresa. Hoje, o executivo disse que ainda acredita na possibilidade de a privatização da companhia ocorrer, embora tenha considerado que o processo enfrentará um caminho mais difícil. Ele afirmou que esse é um motivo pelo qual assumiu o compromisso de estar no conselho de administração.