A pandemia do Covid-19 colocou o mundo em uma situação de crise. E existe o risco de faltar comida no mundo, avalia o economista-chefe da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), Maximo Torero Cullen.

Em sua opinião, é possível identificar sinais de que as pressões devido aos bloqueios de fronteiras começam a impactar as cadeias de suprimento. Os transporte marítimo, que apresenta desaceleração, também é um indício do caos que a sociedade mundial pode enfrentar, sugere Cullen.

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Na avaliação do especialista, interrupções, principalmente na área de logística, podem se materializar nos próximos meses. E desta maneira, será necessário plano de ação para os sistemas alimentares, de todos os governos pelo globo, para evitar o pior.

“Existe esse risco, mas temos muitas maneiras de reduzir sua probabilidade e, quanto mais cedo os adotamos [medidas], mais podemos evitar exacerbar a crise global da saúde. No momento, as prateleiras dos supermercados continuam bem abastecidas. Mas já podemos ver sinais de que as pressões devido aos bloqueios estão começando a impactar as cadeias de suprimentos, como a desaceleração no setor de transporte marítimo”, explica o economista-chefe da FAO.

Para ele, é importante que os governos incluam medidas destinadas a “diminuir os choques em suas cadeias de suprimento de alimentos”. O olhar deve ser direcionado, principalmente, para “os mais vulneráveis”.

Cullen diz que é necessário compreender “os enormes danos que as medidas tomadas para combatê-lo infligirão ao nosso sistema alimentar global”. Ele cita, por exemplo, as quase 300 milhões de criança que perderão as refeições com as escolas fechadas. “Além disso, as medidas de bloqueio se traduzem em demissões e renda reduzida, tornando mais difícil para as famílias colocarem comida na mesa. Essas famílias precisam de dinheiro mais do que qualquer outra coisa.”

Neste caso, o especialista sugere programas de transferência múltipla distribuição de renda do governo às famílias, como ocorre em Hong Kong, Cingapura, China e Estados Unidos.

Em relação ao comércio global de alimentos, o representante da FAO é direto. “Deve continuar.” Ele explica que uma em cada cinco calorias consumidas pelas pessoas “atravessou pelo menos uma fronteira internacional, um aumento de mais de 50% em relação a 40 anos atrás”.

Cullen destaca que os países que dependem de alimentos importados são especialmente vulneráveis ​​à desaceleração do volume comercial. E nesse grupo estão as nações mais de menor renda. Ele aconselha que os países devem revisem imediatamente suas opções de políticas comerciais e tributárias e trabalhem em conjunto para criar um ambiente favorável ao comércio de alimentos.

No que diz respeito à oferta doméstica, Cullen enfatiza a importância da logística ativa e medidas para que a cadeia produtiva continue em plena operação. Lembra que restrições acabam impactando no agronegócios. E que produtores rurais com menor demanda acabaram restringindo a oferta, gerando falta de alimentos em determinadas regiões.

“Um paradoxo da fome global é que, apesar de sua atividade, os pequenos agricultores nas áreas rurais dos países em desenvolvimento correm um risco desproporcional à insegurança alimentar, com a baixa renda sendo a principal razão disso. Seria trágico se esse problema fosse exacerbado e sua capacidade de produzir alimentos fosse reduzida, no momento em que estamos tentando garantir que o suprimento de alimentos permaneça adequado para todos”, observa o economista-chefe da FAO.