COMUNIDADE UNIDA: o trabalho é dividido entre os moradores da fazenda, com regras rígidas

A pouco mais de 20 quilômetros do centro da cidade de Paraty, no Rio de Janeiro, em meio à serra da Bocaina, uma das maiores áreas de preservação ambiental do Brasil, se encontra a fazenda Goura Vrindavana. Uma propriedade de 800 hectares onde se produzem bananas, que servem de matéria- prima para uma série de produtos naturais, comercializados na região. Algo que poderia ser comum, caso não fosse curioso: os bananais são conduzidos por uma pequena comunidade Hare Krishna, que há 20 anos encontrou nesse cenário de natureza quase intocada um lugar perfeito para colocar em prática sua filosofia. São cerca de 20 pessoas que, entre meditações e ensinamentos, mostram que é possível produzir em total harmonia com o meio ambiente, tirando seu sustento dessa atividade. “A idéia era sobreviver em sintonia com a natureza e isolados dos centros urbanos. A produção de banana se mostrou uma excelente fonte de renda”, conta Antonio Carlos Vargas, que há cincos anos adotou o nome espiritual de Acyutananda Dasa, cuja tradução é “o prazer que emana do infalível”. É ele, hoje, o administrador da lavoura de bananas.

O movimento Hare Krishna tem origem indiana e nele se cultua o Deus Krishna. Nesse tipo de filosofia é proibido o consumo de cigarros, drogas e bebidas alcoólicas e a dieta é toda vegetariana. Características que se refletem no modelo produtivo da fazenda. Lá, a rotina se inicia às 3h45 da manhã, com a realização de uma oração coletiva. “Esse é o melhor horário para a meditação, pois está a duas horas do nascer do sol e a mente está vazia”, divaga Dasa. Só então começa o trabalho na lavoura.

RUSTICIDADE – Os quase 200 hectares de bananas são conduzidos de maneira orgânica, em um modelo de produção agroflorestal, como explica o administrador. “Nosso bananal divide espaço com espécies nativas da região, não utilizamos nenhum tipo de agrotóxico e tudo é feito de maneira quase artesanal.” De fato, a rusticidade é uma das características marcantes do lugar, onde a agricultura parece ter parado no tempo. Para se ter uma idéia, a luz é gerada através de uma pequena hidroelétrica caseira que eles mesmos desenvolveram. O transporte das bananas, da lavoura até o processamento, é feito através de mulas, que carregam em seus lombos as pencas da fruta. “Produzimos em uma região montanhosa, onde não dá para entrar com máquinas ou caminhões”, pondera Dasa. “Há 30 anos a principal atividade econômica de Paraty era a produção de bananas, mas com o tempo isso se perdeu. Hoje vários produtores voltaram a produzir e viraram nossos fornecedores”, comemora.

TRAÇÃO NAS QUATRO: transporte das bananas é feito por meio de mulas, que se adaptam bem à montanhosa região

PARCERIAS – Embora a produção seja feita de forma simples, engana-se quem acha que se trata de uma fábrica de fundo de quintal. Com a crescente demanda por produtos naturais, a atividade, encarada pela comunidade como um negócio, vem crescendo nos últimos anos. “Hoje, a estrutura da nossa fábrica é simples, mas muito profissional, com preocupação total com a qualidade.”

Com uma produção de uma tonelada por mês de banana passa, o principal produto da empresa, os hare krishnas fecharam um acordo com a rede Pão de Açúcar e destinam 50% da sua produção para a comercialização em algumas lojas da rede. A renda principal vem do comércio desses produtos, que garantem um faturamento médio de R$ 12 mil por mês. Porém, o que pode ser considerado pouco para a grande maioria dos produtores brasileiros, em um lugar cujo nome significa do Floresta Dourada, isso é o suficiente para alimentar o espírito.