O grande “feirão” de campos produtores de petróleo e gás da Petrobras tem data marcada para acabar: 31 de dezembro de 2021, segundo determinação da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Nos últimos anos, empresas petrolíferas de médio porte ganharam musculatura ao adquirir ativos da estatal. Mas, a partir de 2022, vão precisar buscar outra estratégia. Outra mudança esperada é o surgimento de um mercado secundário, de sobra de ativos adquiridos da estatal pelas independentes, mas considerados menos adequados à estratégia desses negócios.

A Petrobras intensificou o programa de desinvestimento de concessões a partir de 2016, quando colocou a reorganização das suas finanças no centro das preocupações e passou a se concentrar no pré-sal. Dezenas de campos produtores em terra e águas rasas foram colocados à venda, além de áreas exploratórias, ainda sem descobertas. A maioria delas está localizada na região Nordeste do País.

Parte desse esforço de desinvestimento partiu também da ANP, que exigiu da Petrobras um posicionamento sobre 183 campos paralisados, sem decisão de investimento. A reguladora deu à empresa a opção de reter alguns deles ou de devolvê-los. A estatal decidiu, então, retomar o investimento em alguns, devolver outros e vender o restante. O prazo para se desfazer das últimas áreas termina no dia 31 de dezembro.

Prorrogação

O prazo inicial de devolução se esgotou, na verdade, no fim do ano passado. Mas a companhia argumentou à ANP, na época, que estava com dificuldade de concluir as negociações e conseguiu estender o prazo por mais um ano. Procurada, a agência não se manifestou se irá prorrogar a data mais uma vez.

Atualmente, a Petrobras tem seis ativos de exploração e produção de óleo e gás à venda. Apenas um deles – o do campo de Marlim, na Bacia de Campos (RJ) – está em fase final de licitação. Os demais entraram em fase vinculante, de negociação direta com os interessados.

O mercado de campos da Petrobras tem atraído petrolíferas independentes com foco em áreas que não exigem esforço de exploração e, por isso, também não impõem ao investidor o risco de colocar dinheiro para perfurar um poço e não encontrar nada.

Boa parte dessas áreas é madura, ou seja, já está em fase de declínio da produção. Para prolongar a vida útil dessas concessões, as independentes só precisam investir em tecnologias de recuperação, além de construir um plano de redução de custo, como faz toda petrolífera.

Essa tem sido a estratégia adotada por petrolíferas independentes que despontaram no mercado brasileiro recentemente. É o caso de PetroRio, Enauta, 3R Petroleum, PetroRecôncavo, Trident, Perenco, Origem, Imetame e Petro-Victory.

Esses negócios se diferenciam em tamanho e caixa, o que interfere na qualidade dos ativos dos seus interesses. As maiores costumam apostar em águas rasas e as menores, em terra. Esse grupo de empresas compartilha, no entanto, o apetite por uma fatia do mercado que antes estava nas mãos das gigantes do segmento.

Mauro Destri, diretor de Óleo e Gás da consultoria Alvarez & Marsal, ressalta que a produção em concessões não operadas pela Petrobras em bacias maduras saltou de 4,7 mil barris de óleo equivalentes ao dia (boe/dia), em junho de 2016, para 23,4 mil boe/dia em igual mês deste ano. Os dados são do último boletim de produção divulgado pela ANP.

“Hoje, estamos todos ansiosos com os desinvestimentos dos campos de Albacora e Albacora Leste, polos terrestres na Bahia, Sergipe, Alagoas e Potiguar (Mar e Terra)”, afirmou.

Incerteza

Alguns investidores questionam, no entanto, se a Petrobras vai conseguir concluir a venda dos ativos ainda neste ano. “São processos complexos e, como são poucas as informações oficiais, especula-se que dificilmente serão encerrados ainda este ano, apesar do prazo estabelecido pela ANP e dos sucessivos adiamentos”, diz Anabal Santos Júnior, diretor executivo da Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Petróleo e Gás (Abpip).

Ele acredita que, concluídos os desinvestimentos da Petrobras, os investidores devem recorrer ao leilão de oferta permanente de áreas para exploração, promovida pela ANP, no qual são oferecidas áreas que ficaram sem oferta em licitações passadas ou foram devolvidas. Para as empresas que focam exclusivamente em campos produtores, a melhor saída será a compra de ativos de outras petrolíferas, além da Petrobrás.

A PetroRio, por exemplo, diz que o seu crescimento não está condicionado às vendas da estatal. De acordo com Emiliano Fernandes, diretor de recursos humanos, regulação e jurídico da PetroRio, a empresa não comprou muitos ativos da estatal. “É indiscutível que ela tem mais de 90% do mercado e seus desinvestimentos são uma oportunidade. Mas a gente tem um território profícuo e esse é um mercado gigante”, afirma.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.