Para o coordenador do Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), Paulo Picchetti, o indicador deve registrar em janeiro uma forte desaceleração sobre o resultado de dezembro, quando houve avanço de 1,07%. Para o economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), o índice do primeiro mês de 2021 deve ficar em 0,35%, com as pressões tradicionais de janeiro atenuadas pela fraqueza econômica e por reajustes já ocorridos em dezembro, como no caso de mensalidades escolares e da tarifa de energia.

Para 2021, a perspectiva é que haja alta de 3,50%, aquém dos 5,17% registrados em 2020. Foi a maior alta para o IPC-S de um ano desde 2016, quando o número ficou em 6,19%, ainda sob efeitos do “tarifaço” ocorrido em 2015.

“O número de 2020 mostra uma aceleração considerável em relação a anos anteriores, quando o indicador ficou entre 3% e 4%. Mas esse número tem muitos movimentos que não são tendência de inflação de fato, como é o caso do impacto da bandeira tarifária e o que aconteceu com alimentos”, comenta o economista.

O indicador de dezembro ainda desacelerou ante o resultado da terceira quadrissemana do mês, quando a taxa ficou em 1,21%. Segundo Picchetti, o movimento se explica basicamente pelo “saldo líquido” da variação de dois itens com bastante peso no indicador: a passagem aérea, que passou de alta de 9,62% para uma deflação de 9,49%, o que tirou 0,27 ponto porcentual do indicador, e a tarifa de eletricidade residencial, que foi de 9,35% para 11,93% e acrescentou 0,10% ao IPC-S do mês. Na leitura da ponta, a passagem aérea já apresenta deflação de 30%

O índice de difusão subiu entre a terceira e a quarta quadrissemana de dezembro, passando de 65,16% para 73,23%. Apesar da alta mais espalhada pela cesta, Picchetti minimiza os riscos. “É um movimento típico de final de ano, e que já está sendo revertido”.

Núcleo de inflação

Picchetti chama a atenção para o acumulado de 2020 no núcleo de inflação do IPC-S, que ficou em 2,92%, uma queda sobre o acumulado de 12 meses até novembro (2,95%) e praticamente estável desde 2017, sempre ao redor de 3%. O núcleo, explica o pesquisador, tenta filtrar os efeitos pontuais sobre o IPC-S e desenha melhor eventuais tendências de inflação. Portanto, a julgar pelo núcleo, o economista da FGV entende que não há “nenhuma pressão significativa” de alta para a inflação ao consumidor.

Ele explica que mesmo no grupo Alimentação, grande pressão altista de 2020, a oferta já está equilibrada, e que uma inflação de demanda é improvável por conta do fim do auxílio emergencial e da perspectiva de retomada gradual do emprego.

“Traduzindo isso em poder de compra e o que isso representa para a demanda, não é razoável assumir alguma pressão de inflação que a eleve para cima do que aconteceu nos últimos anos, desconsiderando 2020, que foi atípico”, argumenta Picchetti.