Após desacelerar de 0,71% em março para 0,44% am abril, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) deve continuar perdendo força em maio e terminar o mês em 0,26%, conforme o coordenador do indicador, Guilherme Moreira. Os combustíveis devem seguir como contribuição de baixa no mês, ganhando a ajuda de medicamentos, principalmente. Habitação e Alimentação também devem terminar maio com taxa mais baixa do que abril, mas Moreira destaca que os preços de alimentos mostram alta persistente e são a principal explicação para elevação na estimativa para 2021, de 4,39% para 5,02%.

Há também a análise de que a taxa de abril contou com o efeito das restrições de circulação, que têm mantido o grupo Despesas Pessoais negativo (-0,17% em março para -0,57% em abril), algo que deve voltar a acontecer em maio (-0,35%). Mas a reabertura deve causar pressão nos preços de recreação e viagem, outro fator para o aumento da estimativa anual, explica Moreira.

“A moral da história é essa. Os combustíveis acomodam um pouco e alimentação segue forte. Com a economia voltando a funcionar, os preços que estão amarrando o IPC em patamar baixo em abril e maio, como Despesas Pessoais, devem voltar ao campo positivo”, diz Moreira, sobre a revisão da projeção para o ano.

Em abril, Transportes teve a maior desaceleração no IPC, de 3,26% para 0,61%, por influência de combustíveis. A gasolina passou de 3,97% na terceira quadrissemana para 0,94% no fechamento do mês, e o etanol, de -1,48% para -4,85%. Para maio, o coordenador do índice destaca a variação na ponta última semana de abril contra mesmo período de maio, que indica uma tendência mais recente dos preços de combustíveis, que está negativa. Para gasolina, a taxa é de -0,70%, enquanto etanol tem queda menor, de 2,15%. Na semana passada, a Petrobras também anunciou novo recuo da gasolina.

Por outro lado, Moreira ressalta que os preços de automóveis têm alta consistente, como influência do câmbio depreciado, problemas com insumos na indústria e também da alta do ICMS em São Paulo. O automóvel novo variou de 1,58% na terceira leitura do mês para 1,55% no fim de abril e tem ponta de 1,48%, já o usado desacelerou de 3,45% para 2,95%. Com esse balanço, Transportes deve terminar maio em 0,45%.

Com impacto de alta em abril, os medicamentos devem ser um importante fator de descompressão em maio, com a dissipação do reajuste de 10,08% autorizado a partir de 1º de abril, que provocou o aumento de 0,47% em março para 1,71% no grupo Saúde no mês. Assim o grupo Saúde deve terminar o mês em 0,72%.

Da mesma forma, Alimentação deve voltar a contribuir com a desaceleração do indicador neste mês, após avançar de 0,27% no terceiro mês a 0,83% em abril. A projeção é de 0,56%. No quarto mês, houve influência de alta de industrializados (0,57% na terceira leitura para 0,59%), com destaques para massas e farinhas (1,27% para 1,31%), que lentamente têm os preços elevados por repasses da indústria, que sofre com aumento de custos e a depreciação cambial, e para carne bovina (2,485 na terceira quadrissemana para 3,23% no fechamento de abril).

Moreira chama atenção principalmente para o aumento ininterrupto de carnes bovinas, que acumularam alta de 6,90% no ano e de 36,63% em 12 meses, como reflexo do real depreciado, que favorece a exportação, da oferta restrita e da demanda elevada na China.

Em Habitação (0,51% em março para 0,38% em abril), Moreira destaca a alta de gás de botijão, que avançou 2,05% em abril, por efeito do reajuste da Petrobras de 5,0% nas refinarias no início do mês, e continuam subindo na ponta, 3,26%. Para maio, a expectativa em Habitação é de 0,20%. É importante lembrar que a alteração de bandeira tarifária na conta de luz em maio, de amarela para vermelha 1, deve impactar mais o IPC em junho, já que a Fipe tem metodologia de caixa e só capta o movimento quando os consumidores pagam as faturas.