No final do mês passado, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), publicou um dado de pesquisa que era esperado desde janeiro pelo setor de cultivo de árvores para fins econômicos, chamado de setor de florestas plantadas. Em 2016, a produção florestal primária no País, que se refere ao volume de produtos tirados do campo, rendeu R$ 18,5 bilhões, valor 0,8% acima do ano anterior. A madeira destinada ao processamento de celulose e de papel respondeu por R$ 5,2 bilhões, 37,1% do desempenho do mercado de florestas plantadas. “Mas as florestas cultivadas podem avançar muito no País, porque há uma imensa gama de destinações para a madeira, entre elas a geração de energia”, diz Glauber Silveira, presidente da Associação de Reflorestadores de Mato Grosso (Arefloresta). No mês passado, a Arefloresta reuniu em Cuiabá cerca de 200 pessoas para discutir alternativas ao produtor que vão além da celulose e do papel. “A construção civil e a produção de bionergia podem mudar a cara desse setor porque há potencial de mercado.”

Luiz Koblitz: o engenheiro afirma que as termelétricas de biomassa podem ajudar o Brasil a economizar energia (Crédito:Divulgação)

A área destinada ao cultivo de árvores no Brasil cresceu 37% na última década. Saiu de 5,7 milhões de hectares para os atuais 7,8 milhões, justamente impulsionada pela celulose, um setor no qual o País se tornou um dos maiores produtores e consumidores mundiais, junto com os Estados Unidos e a China.. No ano passado foram embarcadas pela indústria da madeira 12,9 milhões de toneladas, enquanto o mercado interno absorveu 5,4 milhões. E vai continuar crescendo, porque há demanda.

Mas árvore plantada não serve apenas para a produção de fraldas descartáveis, embalagens, lenços e papeis sanitários, principais destinos da celulose. Florestas plantadas são oportunidades que podem ajudar a alavancar negócios sustentáveis
De acordo com Márcio Macedo da Costa, gerente do Departamento de Meio Ambiente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), os dados da instituição financeira comprovam o baixo investimento do setor em alternativas florestais. Entre 2010 e 2016, o BNDES liberou recursos para projetos em 1,2 milhão de hectares de florestas plantadas com finalidade econômica. Foram contratados R$ 3,7 bilhões, concentrados em papel e celulose em 90% dos casos. O setor de energia ficou com 5% dos recursos, o setor de paineis com 2% e o restante foi de florestas independentes nas quais o banco não conseguiu identificar o destino. “Temos nos reunidos com produtores em busca de soluções, porque elas existem”, diz Costa. Para Neri Geller, secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, a solução para a expansão do uso da madeira no País passa pelo acesso de crédito no longo prazo. “As florestas plantadas precisam de um custeio diferenciado em relação a grãos e pecuária”, afirma Geller. Mas não é somente isso. Ele diz que é preciso uma política de comercialização de energia porque hoje não há como vender o excedente. “Precisamos desburocratizar o setor, como já fez a Austrália, país que é um grande produtor de energia vinda da floresta.”

Glauber Silveira: o presidente da Arefloresta diz que o setor precisa de incentivos (Crédito:Divulgação)

Atualmente, o País possui cerca de 1,8 mil usinas termelétricas em operação, que correspondem a cerca de 30% da capacidade instalada de geração de energia de todas as fontes, como elétrica, elóica, nuclear e renováveis. Desse total, cerca de 490 utilizam algum tipo de biomassa e apenas 47 termelétricas em operação utilizam resíduo de madeira. O empresário Luiz Otávio Koblitz, 70 anos e sócio da Koblitz Energia, empresa de engenharia destinada à construção de usinas, afirma que é preciso um entendimento da função da floresta plantada para aproveitar melhor o potencial de biomassa para a geração de energia distribuída para a rede nacional. “O setor elétrico gosta de tudo grande, e isso significa perda porque as usinas hidrelétricas estão longe do eixo de consumo”, afirma Koblitz. “Em vez de uma Belo Monte de 11 mil megawatts seria mais salutar a construção de várias usinas de biomassa, com capacidades de 200 megawatts, 100 ou, por que não, pequenas unidades de 50 megawatts.” Esse tipo de negócio é um gerador de renda pelo modelo pulverizado se a matéria-prima utilizada for a floresta.”

Além disso, como as florestas podem estar próximas de onde a energia é consumida, e não a 2 mil quilômetros como ocorre com algumas hidrelétricas, as usinas de biomassa, ou termelétrica, têm potencial para reduzir a perda de energia no País em cerca de 8 mil megawatts em tempo contínuo. “O sistema energético brasileiro perde 60% a mais de energia que média mundial”, diz o executivo. “E essa perda atual significa quase R$ 40 bilhões. Não é difícil arrumar a casa, basta planejar.”

Para o professor do Instituto Federal de Mato Grosso, Janderson da Fonseca, é possível gerar a própria energia, como em uma fazenda ou na agroindústria, e compensá-la na conta de consumo. O modelo é muito simples. “Caso haja excedente, essa energia pode ser enviada à rede e fica como um crédito”, diz Fonseca. Geller, do Mapa, afirma que esse é um dos pontos que devem ser estudados em uma reformulação do setor. Quem produz excedente não recebe em valores, mas em crédito, o que desestimula o avanço do setor. “Estamos estudando se esse comércio pode ter regras mais flexíveis”, diz Geller Fonseca acredita que com mais facilidade de implantação, a produção de energia de fontes variadas de biomassa além da florestal, que podem ser também de dejetos de animais ou de resíduos de lixo, definitivamente cairiam no gosto dos investidors. “No Mato Grosso o potencial é imensurável”, afirma Fonseca. “Não temos como estimar, porque há desde o cavaco de madeira e a palha de arroz, até os dejetos dos animais de suinocultura e da pecuária.”