Agronegócio indireto | conglomerado

A produção do tradicional Guaraná Antárctica, refrigerante da Ambev, guarda um segredo. Os frutos utilizados na fabricação da bebida vêm de uma fazenda especial, localizada no município amazonense de Maués, e guardada pela exuberância natural da floresta amazônica. No entanto, não há nada de místico ou misterioso nesse lugar. Trata-se, na verdade, da Fazenda Santa Helena, propriedade onde a companhia realiza estudos e testes com o fruto. Os resultados das experiências são repassados aos produtores parceiros da empresa. “Não costumamos falar muito sobre a fazenda”, diz Ricardo Rittes, vice-presidente financeiro e de relações com investidores da companhia. A falta de comunicação justifica-se pelo fato de o agronegócio não ser o core business da Ambev, a maior cervejaria do Brasil. “Mas, entendemos que é uma parte fundamental do nosso negócio, por isso mantemos uma relação muito próxima com os nossos parceiros do campo.”

Essa proximidade, difundida por todas as linhas de produtos da Ambev, tem como expoente maior a única propriedade rural entre os seus ativos. Os mais de 180 hectares de terra cultivada da Santa Helena produzem cerca de 50 mil mudas por ano. Esses pés de guaraná, que representam 15% da demanda da companhia pelo fruto, são doados a agricultores familiares, os grandes responsáveis por suprir a matéria-prima. A produção da fazenda, na verdade, serve para melhorar o cultivo. Ao longo de seus 40 anos de atividade, a Santa Helena catalogou todo tipo de guaraná que passou por ali, permitindo aos técnicos do campo analisarem quais deles são os mais produtivos e saudáveis. A porteira da fazenda está sempre aberta, não só aos parceiros, mas também a estudiosos e representantes do terceiro setor. Como consequência dessa política, nos últimos dez anos, a produtividade no cultivo do guaraná aumentou em 140% entre os parceiros da Ambev.

É essa visão abrangente, buscando entender todos os elos da cadeia de negócios, que faz da Ambev a campeã na categoria Agronegócio Indireto – Conglomerado no prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL 2017. Os números falam por si. No ano passado, a empresa vendeu mais de 159 milhões de hectolitros de bebidas. Seu faturamento em 2016 superou os R$ 45 bilhões, uma queda de 2,4% em relação ao ano anterior. Mesmo assim, o lucro líquido foi de R$ 13 bilhões, 1,6% acima do de 2015. O bom resultado foi obtido em um dos anos mais desafiadores da história da empresa, que teve de enfrentar a crise político-econômica brasileira, ao mesmo tempo em que lidava com uma alta nos impostos estaduais sobre boa parte dos seus produtos. O cenário levou a uma redução de 5,2% de faturamento no Brasil. Mesmo assim, no geral, a receita líquida por hectolitro cresceu 3,6%.

Segundo Rittes, há uma integração total entre as atividades no campo, na indústria e na distribuição, os três pilares fundamentais da operação da Ambev. “Nós buscamos manter parcerias de longo prazo, sempre”, diz o executivo. Isso só é possível com uma visão abrangente do negócio. Os preços das matérias primas, por exemplo, são definidos levando em consideração a sustentabilidade financeira dos produtores parceiros. A mesma parceria em relação ao desenvolvimento da agricultura vista no caso do guaraná, é encontrada, também, na cevada. Assim, a Ambev garante não só um fornecimento sem interrupções, como a qualidade do produto.

Essa preocupação com padrão das bebidas, em especial no caso da cerveja, está alinhada com as diretrizes estratégicas da Ambev. No ano passado, um dos principais pilares da estratégio foi acelerar o segmento premium. Liderado pela marca Budweiser, o setor cresceu mais de 20%. No fim do ano, as cervejas premium já representavam mais de 10% do volume vendido. “Em todo projeto, há uma integração entre campo, chão de fábrica, distribuição e financeiro”, afirma Rittes. Não por acaso, a companhia já é líder no segmento.

Centros de pesquisa: no radar de Gerhard Bohne, CCO interino da divisão de Crop Science da Bayer, foi a criação de instalações de desenvolvimento de inovações no País. Só nos últimos quatro anos foram investidos R$ 31 milhões na abertura dessas unidades (Crédito:Claudio Gatti)

INOVAÇÃO NA LAVOURA Assim como a Ambev investe no desenvolvimento do campo para garantir seu crescimento, a Bayer Crop Science do Brasil, campeã em Gestão Corporativa, aposta em inovação, pesquisa e desenvolvimento (P&D) de novas soluções e produtos para as lavouras. Nos últimos quatro anos, a multinacional alemã investiu cerca de R$ 31 milhões na criação dos novos centros em Paulínia, no interior de São Paulo, e mais de R$ 100 milhões na Rede AgroServices, lançada em 2015.

“Acreditamos que a evolução do agronegócio brasileiro e das empresas do setor só se dá por meio da inovação”, diz Gerhard Bohne, COO interino da divisão de Crop Science da Bayer. Segundo ele, é investindo em P&D que o Brasil construirá a agricultura do futuro, capaz de produzir 70% mais até 2025, conforme a necessidade apontada pela Organização das Nações Unidas (ONU).

A companhia também desenvolve, desde 2015, pesquisas em colaboração com a Embrapa sobre os hábitos de polinizadores na soja e o genoma da ferrugem asiática, doença da soja. Já em 2016, a Bayer lançou o seu projeto global de Digital Farming, que visa oferecer soluções digitais para problemas que têm tirado o sono dos agricultores, como a resistência de plantas daninhas, que consomem os nutrientes do solo, atrapalhando plantações comerciais, como a soja.

Entre as iniciativas, está o Field Manager, para o monitoramento e controle de plantas daninhas por meio de drones e aplicativos de reconhecimento. “O combate a doenças, principalmente àquelas que ocorrem nas culturas do algodão e da soja, tem se tornado mais difícil, devido à resistência desenvolvida por certos fungos”, diz Bohne. Por isso, em 2017, a companhia lançou o Fox Xpro, um fungicida sistêmico, que permite entrada rápida dos ingredientes ativos na folha da planta e ajuda no combate às principais doenças fúngicas.

A visão de longo prazo da companhia em relação ao Brasil continua focada nas culturas estratégicas e segmentos de atuação em especial: soja, cana-de-açúcar, milho, café, algodão e citros. Além da inovação clássica, a digitalização na agricultura possivelmente estará cada vez mais presente no dia a dia do agricultor. “A área de Digital Farming tem como objetivo integrar as tecnologias atuais de forma inteligente, para que os nossos produtos sejam utilizados no momento correto e da maneira correta”, explica o executivo. Segundo ele, este universo é e continuará como tendência na expansão dos negócios no País e no mundo. Até 2020 a Bayer deve investir globalmente 200 milhões de euros em pesquisas desenvolvidas nesta área específica. “A Bayer é uma empresa voltada às ciências da vida, portanto a inovação está em nosso DNA”, diz Bohne.