A preocupação em torno do recebimento de recursos de outros países fez surgir uma nova frente parlamentar no Congresso Nacional. Lançada oficialmente nesta semana, a Frente Parlamentar em Apoio aos Investimentos Estrangeiros para o Brasil pretende apresentar projetos específicos e fazer andar propostas já em tramitação para mudar o ambiente de negócios e tornar o País mais atrativo ao capital estrangeiro.

“Hoje há muitos recursos no mundo para investir, mas não há ambiente no Brasil que garanta este investimento”, afirmou ao Estadão/Broadcast o senador Izalci Lucas (PSDB-DF), autor da proposta de criação da frente, apelidada de “Investe Brasil”.

Segundo o senador, a frente pretende focar determinados assuntos de forma suprapartidária, como a desburocratização, a simplificação de processos e a reforma tributária. A intenção é abrir um diálogo com a sociedade civil, com empresários e com Estados e municípios, para melhorar o ambiente de negócios.

“Hoje, o investidor, quando vem ao Brasil, fica maluco. Cada Estado tem uma tributação, um ICMS”, pontuou o senador, ao falar sobre um dos principais desafios a serem enfrentados. “Queremos trabalhar em conjunto com o BNDES, a Apex e o próprio parlamento.”

O lançamento oficial da frente, em Brasília, contou com a presença de parlamentares já tradicionalmente ligados a questões econômicas, como os senadores Antonio Anastasia (PSD-MG) e Wellington Fagundes (PL-MT), mas também com 30 embaixadores e empresários de outros países, entre árabes, chineses e europeus, além do ministro de Relações Exteriores, Carlos França.

Por trás deste interesse no Congresso em articular mais investimentos está a percepção de que o Brasil tem problemas estruturais que prejudicam a atração de recursos. A questão vem ganhando importância em função da pandemia do novo coronavírus, que alterou os fluxos de investimentos em todo o mundo.

O Investimento Direto no País (IDP) – tipo de aporte de estrangeiros voltado para a construção de novas plantas produtivas ou para a compra de participação em companhias já em funcionamento – é um bom exemplo das mudanças trazidas pela pandemia.

Com a pandemia do novo coronavírus, os fluxos globais de Investimento Estrangeiro Direto (IED) despencaram em um terço em 2020, para US$ 1 trilhão. Esta diminuição de recursos foi diretamente sentida pelo Brasil, mas vem sendo tratada como algo passageiro no discurso oficial.

Dados do Banco Central mostram que o Investimento Direto no País – IDP, antigamente chamado de IED como na nomenclatura internacional – fechou 2020 em US$ 44,66 bilhões. Em 2019, antes da pandemia, a cifra havia sido de 69,17 bilhões.

Durante o primeiro ano da pandemia de covid-19, o Banco Central manteve o discurso de que a redução do IDP significava um “adiamento” dos investimentos estrangeiros, e não um cancelamento. A visão, sustentada até hoje, é de que o IDP retornará a patamares mais elevados quando a crise sanitária passar.

No entanto, os próprios números do Banco Central trazem incertezas. Entre 2010 e 2019 – antes da pandemia – o Brasil registrou resultados anuais de IDP normalmente acima dos R$ 70 bilhões. As exceções foram 2015 (US$ 64,74 bilhões), durante a crise fiscal, e 2017 (US$ 68,89 bilhões). Para o ano de 2021, a projeção do BC é de um IDP de US$ 60 bilhões – se confirmado, o menor saldo desde 2009 (US$ 31,48 bilhões).

O fenômeno não afeta apenas os investimentos produtivos que poderiam ser direcionados ao Brasil, mas os negócios estrangeiros já estabelecidos também. Com dificuldades para sobreviver de forma competitiva, estas multinacionais decidiram que era melhor fechar as portas por aqui.

Em março deste ano, a gigante japonesa de eletroeletrônicos Sony encerrou definitivamente sua produção no Brasil. Antes dela, em outubro de 2020, outra japonesa, a Mitutoyo, já havia fechado sua fábrica de instrumentos de medição em Suzano, no interior de São Paulo.

Há outros exemplos. Mais recentemente, em abril, a multinacional franco-suíça LafargeHolcim, terceira maior fabricante de cimentos no Brasil, anunciou a venda de suas operações locais. Já o grupo farmacêutico suíço Roche decidiu deixar de fabricar medicamentos no País até 2024. Presente no Brasil há um século, a montadora Ford anunciou sua saída em janeiro deste ano.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.