Criado com o objetivo de arrecadar recursos para ajudar o complexo hospitalar da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) a se preparar para a demanda crescente de pacientes com a covid-19, o Fundo Coppetec, gerido pela Fundação Coordenação de Projetos, Pesquisas e Estudos Tecnológicos (Coppetec), já acumula doações de R$ 800 mil.

O diretor da Fundação Coppetec, Fernando Peregrino, disse hoje (8) à Agência Brasil que para suprir a demanda inicial do complexo hospitalar da UFRJ para os primeiros dois meses de atendimento a pacientes com a covid-19 são estimados R$ 2 milhões. Ao todo, são listados 6,280 milhões de itens necessários para os 600 profissionais de saúde que atuam nos hospitais da universidade.

São necessários 110 mil unidades de máscaras N 95; 600 mil máscaras triplas; 100 mil macacões com capuz e fecho; 150 mil unidades de aventais com capote não estéril e 40 mil unidades de aventais com capote estéril; 90 mil túnicas descartáveis de vários tamanhos; 190 mil gorros descartáveis; e 5 milhões de unidades de luvas de todos os tamanhos.

Fernando Peregrino observou que esses 6,280 milhões de itens vão suprir os hospitais da UFRJ por seis meses, atendendo a uma média de três equipes por dia em cada unidade.

Donativos privados

O fundo só aceita doações de pessoas físicas e jurídicas privadas. “Eu não aceito dinheiro público”, disse Fernando Peregrino. Para receber as doações, foi aberta no Banco do Brasil a conta 55.620-3, agência 2234-9, em nome da Fundação Coppetec (CNPJ 72.060.999/0001-7).

“Esse dinheiro (depositado) é colocado no site da Coppetec e as pessoas ficam sabendo a quantidade de doadores, o dinheiro doado, e também ficam sabendo como é gasto esse dinheiro. O fundo é totalmente transparente”, destacou Peregrino. As doações e sua utilização podem ser vistas no endereço http://www.coppetec.coppe.ufrj.br/site/transparencia/hospitais.php.

Ele disse que fazer campanha é fácil, e que o problema é mostrar como estão sendo gerenciados esses recursos. “A causa todo mundo já sabe. É comoção mundial. O problema é mostrar que eu sei gerenciar aquele dinheiro e sei ser transparente. Porque o cidadão que doa quer se assegurar que o dinheiro dele vai ser usado para prover despesas de nove hospitais”.

Além do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), o complexo hospitalar da UFRJ é constituído pelo Hospital-Escola São Francisco de Assis (HESFA), Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG), Maternidade Escola (ME), Instituto de Ginecologia (IG), Instituto de Neurologia Deolindo Couto (INDC), Instituto de Psiquiatria (IPUB), Instituto de Doenças do Tórax (IDT) e Instituto do Coração Edson Saad (ICES).

O diretor da Fundação Coppetec ressaltou que três unidades são consideradas principais para o atendimento a pacientes com o novo coronavírus, o HUCFF, a Maternidade Escola e o Instituto de Puericultura e Pediatria, que têm leitos. “O nosso foco são os leitos, porque essa é a crise que a gente vai ter”, ressaltou.

Segundo Peregrino, não há leitos suficientes para a população que vai adoecer. “Nós precisamos ter gente, material e leitos”.

A Fundação Coppetec administra, em média, 600 novos projetos de pesquisa por ano. No combate à pandemia do novo coronavírus, a fundação ajuda de duas maneiras: custeando equipamentos de proteção individual (EPI) e apoiando projetos de pesquisa que estejam em fase de se transformarem em benefício para o atendimento do cidadão.

Pacientes

O Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) recebe, em média, 1.100 pacientes por dia e realiza 500 cirurgias por mês. O professor Marcos Freire, diretor do HUCFF e membro do Comitê Gestor do Fundo Coppetec, informou que, até o momento, o hospital tem atendido uma média diária de 44 pessoas com sintomas da covid-19, sendo 40 funcionários da área de saúde da UFRJ. O Hospital Universitário tem 280 leitos disponíveis, número que Marcos Freire considera insuficiente para atender a demanda esperada para as próximas semanas.

“Estima-se que o pico da demanda ocorrerá em 15 dias, quando o vírus passará a atingir as classes menos favorecidas, justamente as que precisam dos hospitais públicos. Além da necessidade urgente de aumentar o número de leitos, outro ponto crítico é o nosso déficit de recursos humanos”, disse o diretor do HUCFF.

Freire disse que está avaliando a possibilidade de usar parte das doações que estão sendo feitas ao Fundo Coppetec para a contratação temporária de pessoal como enfermeiros, médicos, fisioterapeutas, nutricionistas, administrativos e serviços gerais. “Precisamos contratar, pelo menos, em torno de 500 profissionais”, disse o diretor do HUCFF.

Mais leitos

O Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ) vai atender casos encaminhados pelas secretarias estadual e municipal de Saúde, além de casos suspeitos de pacientes que são referenciados, ou seja, têm prontuário ativo nessa unidade. Conhecido como Hospital do Fundão, o HUCFF não tem emergência aberta. Só atende pacientes que têm prontuário na unidade.

Há 12 leitos separados para atender pacientes suspeitos de estarem com a covid-19. O HUCFF informou, no entanto, por meio de sua assessoria de imprensa, que não há contato de pacientes suspeitos com pacientes não suspeitos. A coleta dos exames é feita no próprio hospital, com testes disponibilizados pelo Laboratório de Virologia Molecular (LaVimoan), da UFRJ.

Marcos Freire disse que o HUCFF está sendo preparado para receber os pacientes da covid-19, por meio da ampliação do número de leitos. Serão 60 leitos específicos para pacientes com essa doença, todos com estrutura de terapia intensiva. “As adequações físicas estão sendo realizadas, equipamentos e insumos comprados, além de treinamento adequado aos profissionais. As doações estão sendo fundamentais neste momento de subfinanciamento dos hospitais em meio ao cenário de pandemia”, destacou Freire.

Otimização

Visando otimizar recursos, EPIs e pessoal, o hospital foi dividido em alas covid-19 e não covid-19. A ideia é que a emergência e o CTI covid funcionem no subsolo do HUCFF, com 12 leitos, e a internação de pacientes covid de menor gravidade seja feita no Setor 5D (5º andar). A emergência não covid está em funcionamento no 7º andar. Os pacientes não covid são atendidos também no 9º e 10º andares, bem como nos 12 leitos de terapia intensiva no 12º andar.

Nas enfermarias que estão passando por adequações físicas vai funcionar a terapia intensiva covid, com 48 leitos, para os quais estão sendo adquiridos equipamentos e planejada a contratação de mais profissionais para o atendimento.

Segundo a direção do HUCFF, o estoque dos equipamentos de proteção individual (EPIs) está em dia. A unidade hospitalar tem recebido doações e apoio de instituições para que esse estoque se mantenha elevado em meio à pandemia do coronavírus.

Por meio de 700 doadores que participaram do movimento União Rio, a direção do hospital informou ter arrecadado valor necessário para ativar 60 leitos de CTI, totalmente equipados, naquela unidade. As adequações e reformas nas enfermarias começaram no dia 27 de março. Além disso, o HUCFF recebeu do movimento União Rio 27 monitores multiparamétricos, que são equipamentos usados para acompanhar a evolução dos indicadores de saúde do paciente, e cinco BiPAP (respiradores mecânicos utilizados no suporte ventilatório).

“O HUCFF é referência para atendimento de média e alta complexidade. Então, pela capacitação do nosso corpo clínico, espera-se receber muitos pacientes graves durante essa crise”, afirmou o diretor Marcos Freire.

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