O estudante Murilo de Almeida Cardoso, 23 anos, gosta de ser chamado de Cowboy. É por esse apelido que os funcionários da Associação de Equoterapia Educacional Texas Ranch, localizada em Itapecerica da Serra, município da Grande São Paulo, se referem a ele. Adepto de galopes, Cowboy está sendo preparado para se tornar um atleta no hipismo. Mas de uma modalidade especial. Portador de autismo, uma disfunção global do desenvolvimento, há dois anos e meio Cowboy tenta superar suas dificuldades motoras e de comunicação em cima de um cavalo. “Ele é um aluno aplicadíssimo”, diz a empresária Elizabeth Melani, proprietária da Texas Ranch. O esforço do jovem cavaleiro tem dado frutos. Segundo Elizabeth, ele tem possibilidade real de disputar uma vaga em provas paraequestres nas Paraolimpíadas ou nas Olimpíadas Adaptadas. “Sua evolução nos surpreende”, afirma. Cowboy é uma das 60 crianças e jovens portadores de deficiência ou mobilidade reduzida atendidos pela Texas Ranch, um projeto de Elizabeth e de seu marido, o empresário do ramo de seguros Sérgio Melani. O projeto foi iniciado em 2006, graças ao gosto e um sonho em comum do casal: receber no pequeno haras de Itapecerica da Serra cerca de dez crianças carentes do entorno da propriedade. “Mas quando comecei a pesquisar o que era a equoterapia me apaixonei pela técnica”, diz Elizabeth. Melani, que desde o início apoiou os planos da esposa, afirma que a decisão foi acertada. “A equoterapia é uma bênção, dá resultado sempre”, diz Melani. O haras já atendeu a cerca de 450 crianças. As residentes no município jamais pagaram um único centavo pelas aulas, cobradas apenas das que chegam de outras cidades. Mas há casos em que nem mesmo esses alunos desembolsam algo, pois podem ser apadrinhados. Para isso, o casal fechou parcerias com a prefeitura local e com empresas, entre elas a Bradesco Seguros, patrocinadora máster do projeto, e a Porto Seguro. O haras também conta com o apoio da Associação Brasileira de Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador. “Esses parceiros abraçaram a nossa causa”, diz Melani. Mas até chegar nesse ponto, tudo foi bancado pelo casal. Hoje, o Texas Ranch possui certificados nacionais e estaduais, entre eles o da Associação Nacional de Equoterapia (Ande-Brasil), de Brasília, responsável por avaliar as normas de sustentabilidade, ética e eficiência de um estabelecimento que presta esse tipo de atendimento. No País, há 284 centros de equoterapia filiados à entidade. 

A mãe de Cowboy, Silvana de Almeida Cardoso, que acompanha atenta as sessões do filho, é só elogio ao haras Texas Ranch. Segundo ela, a grande dificuldade motora e comunicativa de seu filho o levava a ter problemas de socialização. “Todas essas limitações foram superadas por ele, graças à equoterapia”, diz ela. “É imensa a minha gratidão à equipe que desenvolve esse trabalho com meu filho.” Os alunos também tecem elogios à equoterapia. Gean Paulo Ohara Francford, 12 anos, não perde uma única aula. “Eu amo o cavalo, porque ele me faz feliz”, diz o aluno, que também é portador de autismo e frequenta a associação há dois anos. De acordo com especialistas, os ganhos físicos e de socialização através da equoterapia são inegáveis. Em uma única sessão, por exemplo, um cavalo apresenta cerca de 180 oscilações de corpo. Para a fisioterapeuta Kátia Souza de Oliveira, a comunicação entre o cavalo e o sistema nervoso do paciente promove uma importante evolução em tratamento. “Isso acontece com o Cowboy, o Gean e com tantos outros alunos especiais que passam pela nossa vida”, diz Kátia.