O que uma das maiores empresas do mundo, atuante em diversas áreas, desde a fabricação de turbinas de avião até serviços financeiros, com faturamento de US$ 173 bilhões por ano faria no emergente setor de álcool e cana-de-açúcar no Brasil? Ganhar mais dinheiro, é claro. É exatamente nisso que a GE está de olho. Há menos de um ano neste mercado, a multinacional norteamericana vem focando as cerca de cem novas usinas de processamento de álcool e açúcar que devem ser construídas no País até 2011, um negócio que gira na casa dos US$ 12 bilhões. Com expertise de quem tem mais de 100 anos de história, a empresa agora quer equipar as novas usinas brasileiras com tecnologia de ponta.

Além das soluções para o tratamento da água, que já têm uma boa penetração no mercado brasileiro, a GE agora aposta suas fichas na geração de energia, automação, segurança e instrumentação das usinas. “Temos soluções para quase toda a usina”, garante Claudio Loureiro, diretor de Desenvolvimento Comercial da GE, lembrando que a empresa está presente de alguma forma em mais de 100 das 350 usinas em operação no Brasil.

CLAUDIO LOUREIRO: diretor quer levar sua tecnologia ao setor sucroalcooleiro

“Começamos recentemente este trabalho junto às usinas, mas já trabalhamos nisso há anos. Energia é um dos grandes negócios da GE. Só o setor de infra-estrutura, onde está a divisão de energia, representa o maior faturamento da empresa e vem crescendo ano a ano. Em 2007 tivemos um aumento de 17%”, continua o executivo, acreditando em ganhos ainda maiores do que os US$ 57,9 milhões obtidos no último ano após fechar alguns negócios com as novas usinas que estão sendo montadas por aqui, principalmente no Centro-Oeste. “Hoje existem cerca de 100 usinas em construção. Cada uma a um custo em torno de US$ 120 milhões, e a GE tem a tecnologia necessária para todas elas”, revela.

Mesmo com um cenário favorável, não foi nada fácil convencer os executivos da matriz, nos Estados Unidos, a ingressar no mercado de cana-de-açúcar. Influenciada pela mídia internacional, a cúpula da GE temia acabar envolvida em possíveis escândalos de desmatamento ou crise de alimentos. O problema foi resolvido de uma forma pedagógica. Segundo Loureiro, a comitiva brasileira mostrou as diferenças entre o etanol brasileiro e o feito nos Estados Unidos e explicou que o processo no Brasil já tem mais de 30 anos e não utiliza áreas de floresta, impróprias para o plantio da cana. No final, acabaram convencendo os gringos.

Todo o investimento feito pela GE nesta nova empreitada tem como foco apenas o mercado brasileiro de álcool. Neste primeiro momento, um possível aumento de demanda devido às exportações não está nas contas da empresa. Se acontecer, é lucro. “Esta expansão que vem sendo feita no Brasil visa atender apenas o mercado interno, que vem crescendo em um ritmo muito forte. Se continuar assim, o que deve acontecer, não precisamos nos preocupar com exportações. Estamos aqui para atender o nosso mercado”, diz.

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Outro trunfo da multinacional para conquistar novos clientes é sua preocupação com o meio ambiente. Tido como prioridade na empresa, o “ecomagination” é um programa que visa desenvolver novas tecnologias limpas para o setor sucroalcooleiro, estimulando a criação de novas soluções que reduzam a emissão de gases e façam um uso mais racional de energia. A linha de produtos já chega a 45 itens, dos mais variados tipos, mas, com um orçamento na casa de US$ 1,5 bilhão para os próximos três anos, a gama de produtos deve aumentar significativamente em breve.

“Queremos deixar claro que não estamos montando usinas. Nosso negócio é prover soluções técnicas para a indústria. Sempre com o compromisso com o meio-ambiente. Queremos vender apenas soluções ambientalmente corretas, assim como as que usamos em nossos escritórios”, completa o executivo, revelando que para provar a eficiência de seus produtos, a GE lançou um desafio interno para reduzir em 20% o consumo total de água em seus escritórios até 2012. Ninguém duvida que conseguirão.