Era manhã do dia 26 de dezembro de 2002 quando o telefone da casa do pecuarista José Amauri Dimarzio tocou. Do outro lado da linha, um ex-colega de faculdade falou sem pestanejar: “Zé, vou precisar de sua ajuda lá no Ministério da Agricultura e nem adianta falar não.” Era Roberto Rodrigues, então presidente da Associação Brasileira de Agrobusiness (Abag), que assumiria o Ministério da Agricultura e faria do velho companheiro seu secretário executivo. Na década de 1960 os dois frequentaram o curso de agronomia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) e desde então nunca perderam o contato. Rodrigues partiu para o cooperativismo, enquanto Dimarzio seguiu para a iniciativa privada. Chegou a ser dono de uma empresa produtora de sementes, que mais tarde foi comprada pela Monsanto, e, no Brasil, se tornou uma das maiores autoridades em variedades geneticamente modificadas. Dimarzio ficou por dois anos no ministério e, após dar suporte técnico à formatação da Lei Nacional de Biossegurança, voltou a se dedicar ao que chama de “seu maior projeto”: a criação de brahman.

Paixão compartilhada: Sonia e Dimarzio investiram R$ 6,5 milhões na formação do rebanho e na infraestrutura da Fazenda Montreal

“Conheci a raça viajando pelo mundo e me rendi as suas vantagens para o mercado brasileiro. Além de excelente capacidade de adaptação ao nosso clima, o brahman se destaca pela alta qualidade

da carne, precocidade em ganho de peso e maior volume de carcaça. Aliás, o melhor acabamento entre os zebuínos”, enfatiza.

Em 2000, os primeiros exemplares de brahman começaram a pastar nos campos da Fazenda Montreal de Acreúna (GO), transferidos a partir de 2005 para a fazenda de mesmo nome adquirida em São Pedro (SP). Em uma década de seleção, o investimento no rebanho já soma R$ 6,5 milhões.

“Além da semelhança na criação com outras raças europeias, o brahman possui, ainda, as características positivas do nelore. E uma vantagem: seus bezerros pesam de 15 a 20 quilos a mais na desmama do que o nelore puro”, compara. Outro fator apontado é o baixo custo operacional: “Aqui nós produzimos animais com até 900 quilos, contra 500 quilos de um boi que não passou pelo processo de seleção, com rendimento 6% maior. E a terminação a pasto também ocorre de quatro a seis meses antes quando se usa brahman no cruzamento.”

Originário dos Estados Unidos, o brahman é resultado do cruzamento das raças nelore, gir, guzerá e krishna valley. Com o status de animal de corte ideal para regiões quentes e úmidas, se transformou na raça zebuína com maior participação na pecuária mundial, marcando presença em mais de 70 países. Na Austrália, a raça responde por 70% do rebanho de corte: “Se a Austrália tem fama de exportar uma carne de altíssima qualidade é graças ao brahman”, afirma Dimarzio.

Formado com animais provenientes dos EUA, Argentina, Paraguai, Colômbia e Austrália, o rebanho brasileiro foi oficializado em 1994, quando a Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ) registrou os dois primeiros animais da raça. Hoje, já são 160 mil animais registrados. “Um crescimento de 800%, considerando- se os cinco últimos anos. É a raça zebuína de corte que mais cresce no País”, comemora Dirmazio, que desde 2008 preside a Associação dos Criadores de Brahman do Brasil (ACBB), além da Federação Mundial de Brahman (FMB).

À frente da ACBB, Dimarzio tem entre suas missões a internacionalização do brahman nacional. E dois esforços neste sentido já foram feitos. Em 2009, o Rio de Janeiro (RJ) foi palco do Congresso Latino- Americano e em outubro de 2010 a mineira Uberaba recebeu o Congresso Mundial de Brahman. “Além disso, já estamos vendendo nossa genética para o Canadá, Equador e Panamá”, comemora.

Outra prioridade em sua gestão é o Projeto Brahman Sustentável, lançado em 2010 em parceria com o Instituto Brasileiro de Floresta (IBFloresta) e que tem como objetivo conscientizar os pecuaristas da necessidade de aplicar técnicas socioambientais nas propriedades rurais.