O uso de serviços de geolocalização tende a crescer significativamente na área agrícola. Um dos exemplos é o uso de aplicativos como o Waze, que identifica e rastreia os veículos usuários, sugerindo rotas mais apropriadas para um determinado destino. Um item de conforto disponível mediante nossa autorização. Mas nem sempre precisamos dar autorização para que nossos dados de localização sejam utilizados. Recentemente, entidades de gerenciamento da pandemia causada pelo coronavírus passaram a monitorar aglomerações de pessoas nas ruas para atuar de maneira a minimizar os problemas causados pelo vírus, utilizando os dados de nossos próprios celulares. Essa tecnologia já está disponível para todos e seu uso em áreas rurais trará uma mudança disruptiva na maneira como os produtores rurais e demais agentes do agronegócio conduzem seus negócios.

Falando em termos gerais, a geolocalização é a prática de determinar a localização física, no mundo real, de uma pessoa ou dispositivo usando informações digitais. E existem várias técnicas de geolocalização. O GPS é a tecnologia mais comum para o rastreamento de pessoas ou dispositivos pela sua precisão, confiabilidade e disponibilidade. Áreas não cobertas pelo
GPS podem ser cobertas por tecnologias de GSM ou radiofrequência, que utilizam as informações fornecidas pelas operadoras móveis ou pelo wi-fi em que o usuário estiver conectado, mesmo com o sinal de GPS desativado.

As aplicações baseadas em GPS permitem que os agricultores trabalhem em condições de campo de baixa visibilidade, como chuva, poeira, neblina e escuridão. Aparelhos colocados em tratores, colheitadeiras, caminhões e outros equipamentos identificam sua localização e enviam suas informações a um Sistema de Informações Geográficas, um software específico
que transforma todos os dados coletados (coordenadas geográficas e outros) em mapas amigáveis para serem avaliados pelo produtor.

Os softwares de informações geográficas também estão mais próximos do que imaginamos, como é o caso do Google Maps. Qualquer empresário rural consegue mapear seus funcionários em campo coletando informações sobre o trajeto percorrido apenas com o uso dos recursos encontrados nos celulares, podendo monitorar as atividades realizadas com facilidade. Se o uso desses recursos ainda não está difundido é por conta de fatores jurídicos que precisam ser discutidos no âmbito da legislação trabalhista. Ainda assim, as coordenadas geográficas de qualquer lugar podem ser marcadas com o Google Maps e compartilhadas com terceiros, sem a necessidade de qualquer recurso adicional.

Já usos mais especializados das informações geográficas exigem software especializado. Entramos então na área da Agricultura de Precisão, que consiste em coletar informações geoespaciais relativas ao sistema solo-planta-animal e prescrever e aplicar manejos específicos para aumentar a produção agrícola e proteger o meio ambiente. Empresas de diferentes perfis já oferecem esse serviço ao produtor rural: multinacionais de insumos como a Syngenta, empresas especializadas em agricultura de precisão como a Agrosmart e cooperativas de produtores, como a Coplacana, são alguns exemplos de como a tecnologia está acessível atualmente, propiciando ganhos expressivos de produtividade com o uso mais racional dos recursos disponíveis (insumos, mão-de-obra, equipamentos, água, etc.).

Além de ser uma ferramenta importante no gerenciamento da propriedade rural, a geolocalização é fundamental em algumas tendências que se apresentam ao setor, como as da logística integrada (acompanhamento da frota, chegada de insumos à propriedade, entrega da produção), segurança alimentar (rastreabilidade da produção), garantia de qualidade (certificação de origem), dentre outras.

Este artigo serve apenas de introdução e estímulo ao agricultor voltar a sua atenção para tecnologias de geolocalização como ferramentas para aumento de produtividade e diferenciação de seus produtos em um mercado cada vez mais competitivo e consumidores que demandam alimentos saudáveis e seguros. Quando o agro alcança níveis de produtividade como temos no Brasil, o produtor rural tem de lançar mão de tecnologias disruptivas para aumentar a sua produtividade, sob pena de perder o bonde da história.

* Sergio Luiz de Almeida é Engenheiro Agronômo (ESALQ, USP) com pós-graduação em Proteção de Plantas (UFV/ABEAS) e Entomologia Urbana (Unesp/IB). Atualmente é Gerente Técnico e de Regulamentação na Plant Health Care Brasil.