Há cerca de três anos a agenda ESG começou a ser implementada com uma velocidade cada vez mais rápida nos mais diversos setores econômicos. O motor propulsor foi a pressão de investidores e consumidores interessados em pautas mais transparentes e sustentáveis. O agronegócio não fugiu à regra, mas tinha um vento a mais soprando a seu favor: os dados compilados e gerados por plataformas digitais de gestão de propriedades rurais servem em sua maioria como base da implantação das práticas ESG (ambiental, social e governança, em português) dentro da porteira.

Passado o período de entusiasmo inicial, a tendência segue forte. Sobretudo no campo. Segundo a pesquisa Agronegócio: Desafios à Competitividade do Setor no Brasil, realizada pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), em 2020, com diferentes stakeholders, os temas governança e gestão foram apontados como o segundo principal gargalo do setor no Brasil, atrás somente de infraestrutura. Já em levantamento da PwC Brasil, realizado no ano passado, 47% dos respondentes afirmaram que o acesso às informações de ESG é tão importante quanto às informações financeiras de uma empresa.

Ivana Manke, Farmbox

Em relação às propriedades rurais, dados que atestem que estão seguindo as boas práticas agrícolas e que indiquem uso racional de insumos e recursos, e consequente redução de custos, podem ser a base do planejamento e do desenvolvimento das estratégias ambientalmente responsáveis. A digitalização também otimiza a jornada e as relações de trabalho da mão de obra do campo, garantindo melhores condições e produtividade, além de deixar o negócio mais rentável.

Como exemplo, temos dados da pesquisa conduzida pela consultoria agronômica Fertigeo, mostrando que em uma área de plantação de soja com o manejo digital, a produtividade foi de 81,2 sacas por hectare, enquanto na parcela vizinha, sem a tecnologia, o produtor colheu 16 sc/ha a menos (20%). O levantamento foi feito no município de Rio Verde (GO), durante a safra 2020/21, em área de 80 hectares, e comparou o manejo baseado nas boas práticas agronômicas incluindo o uso de aplicativo para registro dos dados e gestão das operações agrícolas, com o manejo do produtor que tem como prática a calendarização das aplicações de defensivos e não utiliza ferramentas digitais.

Além da elevação da produtividade, houve redução de custos e de uso de insumos. Ao se comparar dois sistemas de manejo para o cultivo da soja, a economia com aplicação de inseticidas chegou a R$ 81,57 por hectare, na área digitalizada. Isso porque as plataformas digitais podem fornecer ao produtor informações do plantio à colheita, como mapas de infestação de pragas, frequência de monitoramento a cada talhão, pluviometria, agenda de aplicações, estoque de insumos, previsão de colheita e de custos de produção, de produtividade e rentabilidade total ou por talhão, entre outros.

Todas essas informações colhidas por meio de softwares também favorecem a melhor governança da propriedade e podem ser utilizadas como base para certificações e emissões de títulos verdes. Ambos agregam valor ao negócio. As certificações são demandadas por mercados e investidores mais exigentes e os títulos verdes podem ser uma nova opção de renda para os produtores brasileiros.

Também é importante haver integração com outras plataformas, pois o produtor precisa de facilidade para aproveitar as mais variadas tecnologias, seja em relação a imagens, clima, maquinário, compras e sensores de campo, para que possam aumentar os resultados e os níveis de sustentabilidade.

Dessa forma, vemos que novas tecnologias no agronegócio são ferramentas essenciais para a obtenção e mensuração de práticas que reduzam as pegadas social e ambiental dos agricultores brasileiros, para que mostrem para o mundo como sua produção é sustentável e viável para a economia e o meio ambiente.