Em todo o Nordeste não há um único hectare de trigo cultivado. As altas temperaturas da região impedem que a cultura, típica de clima frio, se desenvolva. Mas essa impossibilidade não parece frear os investimentos dos moinhos do cereal destinado à produção de farinha para pães, massas e biscoitos. Em 2014, a região processou 2,5 milhões de toneladas, volume equivalente a 22% do cereal moído no País, atrás de São Paulo e Paraná, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria do Trigo. Em Fortaleza, a beira mar, na bela capital cearense, está um dos símbolos dessa pujança. De muitos pontos da cidade é possível avistar um prédio de nove andares onde está escrito em letras garrafais: Moinho Dias Branco. O moinho, com capacidade diária para 1,3 mil toneladas de farinha, pertence a Francisco Ivens de Sá Dias Branco, presidente do conselho de administração da companhia e aos seus herdeiros. Mas a história da família Dias Branco não começou aí. O início do negócio, que emprega 17 mil colaboradores e tem ações negociadas na Bovespa, foi uma padaria fundada em 1936 por seu pai, Manuel Dias Branco. Hoje são 14 unidades, entre fábricas e moinhos no Ceará, Pernambuco, Bahia, Paraíba e Rio Grande do Norte, além de São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, onde atua desde 2003. Foi pelas mãos do herdeiro Francisco Ivens, que comandou a M.Dias Branco por 61 anos, que a empresa chegou à liderança no prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL 2015, como a campeã em AGRONEGÓCIO DIRETO GRANDES EMPRESAS.

Em 2014, os negócios foram transferidos para a terceira geração. Francisco Ivens de Sá Dias Branco Júnior, de 54 anos e atual presidente, recebeu uma empresa com faturamento de R$ 4,6 bilhões, 6,2% acima do ano anterior, vendendo produtos de 17 marcas, entre elas Adria, Zabet, Basilar e Isabela. Para manter o ritmo forte de crescmento, a empresa investiu mais de R$ 1 bilhão desde 2013, dos quais R$ 408 milhões no ano passado, sendo a maior parte em máquinas e equipamentos. Para o executivo Geraldo Luciano Mattos Júnior, há 15 anos na M.Dias Branco e há três no cargo de vice-presidente de Investimentos e Controladoria, investir é um mantra dentro da empresa. “Não adianta pensar apenas no curto prazo, temos que pensar no futuro”, afirma Mattos Júnior. “E nós acreditamos no crescimento do País.”

Os próximos passos são a construção de três novos moinhos, um em Bento Gonçalves (RS), outro em Pernambuco e um projeto em fase de acertos em Juiz de Fora (MG). A empresa deve investir R$ 600 milhões nas obras, que têm conclusão prevista para 2017. Em Juiz de Fora, por exemplo, será aplicado metade desse valor, o que representa o maior aporte no município desde a chegada da Mercedes Benz, na década de 1990. “Para crescer, somos disciplinados”, diz Mattos Júnior. “Utilizamos apenas recursos próprios ou de bancos de desenvolvimento, como o BNDES.”

Destaque por sua GESTÃO FINANCEIRA entre as GRANDES EMPRESAS DE AGRONEGÓCIO DIRETO, o Moinho Anaconda, com sede em São Paulo, também se define como uma empresa disciplinada. De acordo com o presidente da companhia, José Honório de Tófoli, apesar de segurar os investimentos em 2015, a Anaconda não pretende abrir mão da expansão. “O setor de alimentos vai ser por muito tempo um bom negócio para se investir”, afirma Tófoli. Com duas unidades de processamento de trigo, uma na capital paulista e outra em Curitiba (PR), em 2013 e em 2014 a empresa investiu R$ 40 milhões para modernizar suas instalações. “Nunca recorremos aos bancos, que são caros demais”, diz Tófoli. “Em 2015, por exemplo, o giro de capital próprio tem sido fundamental em nossa previsão de um lucro líquido 18% maior”, número que deve chegar a R$ 118 milhões. No ano passado, a Anaconda faturou R$ 605 milhões, 8,3% acima de 2013. No prêmio da DINHEIRO RURAL a empresa também é destaque no setor de Moinhos, Massas e Pães.


Avanço: Sousa assumiu a Coruripe com a missão de profissionalizar o negócio e preservar os valores da família

Em GESTÃO CORPORATIVA, o primeiro lugar entre as GRANDES EMPRESAS foi alcançado pela Usina Coruripe, do setor de Açúcar e Bioenergia, com sede em Maceió (AL). A empresa controlada pelo grupo Tércio Wanderley comemora 90 anos em 2015, mas foi nos últimos três que ela passou por profundas modificações em sua gestão. Alinhada com o que ocorre nos grandes grupos familiares que estão se modernizando, toda a estrutura administrativa foi profissionalizada com a contratação de executivos e com parte dos familiares deslocados para o conselho administrativo, presidido por Márcio Silvio Wanderley de Paiva, da terceira geração. “O fundador do grupo dava sempre muita atenção aos trabalhadores, às questões ambientais e a uma gestão moderna e inovadora para a sua época”, afirma Jucelino Sousa, contratado em 2013 para presidir a companhia. “E isso continua presente na Coruripe”, afirma.

Em 2014, a empresa que tem cinco usinas, uma no Nordeste e quatro em Minas Gerais, faturou R$ 1,7 bilhão, 16% acima do ano anterior. Na safra 2014/2015, com a moagem de 13,5 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, foram produzidas 969 mil toneladas de açúcar, 464 milhões de litros de etanol e gerados 697 mil megawatts de bioeletricidade para rede nacional de distribuição. Na safra em andamento, a meta é atingir a capacidade máxima de 14 milhões de toneladas de cana.

Entre as mudanças mais significativas ocorridas desde que Sousa assumiu a presidência da Coruripe está a criação de um robusto departamento de recursos humanos. Para isso, foi elaborado um plano de cargos e salários. Mais: a forma de pagamento de bônus aos sete mil funcionários foi alterada. Metade do valor passou a ser atrelado às metas cumpridas e o restante ao desempenho financeiro da empresa. “Agora, o êxito se torna uma meta de todos”, diz Sousa. “Há muito tempo a empresa tentava produzir mais e isso só foi obtido mudando a sua gestão.”