Por mais treinados que sejam, os olhos dos pecuaristas ainda não conseguem decifrar o que está no interior dos animais. Por isso mesmo, é cada vez mais comum na pecuária de corte que os criadores recorram ao ultra-som, aparelho que se tornou conhecido por revelar o sexo de bebês na barriga da mãe. Na aplicação rural, o equipamento muda pouco e é capaz de medir os índices de gordura dos animais, o que ajuda a aumentar a produtividade da pecuária. “A ultra-sonografia identifica a habilidade genética de cada animal para a produção de carne de qualidade”, define Liliane Suguisawa, zootecnista da Designer Genes Technologies Brasil, em Campo Grande. As características da carcaça que podem ser medidas por ultra-sonografia são: espessura de gordura subcutânea ou de cobertura (EGS), área do olho do lombo (AOL), espessura de gordura da garupa e gordura intramuscular ou marmoreio (MAR). As medidas de ultra-som possibilitam descrever com precisão os níveis de musculosidade e de acabamento da carcaça. “A partir da combinação destas informações com as tradicionalmente conhecidas, como peso vivo e ganho de peso, podemos predizer o potencial genético individual do animal, sua resposta no sistema de confinamento, além da determinação da quantidade de dias necessários e a qualidade da carne”, explica a zootecnista da Designer Genes.

A ultra-sonografia em bovinos começou nos EUA em 1990, e chegou aos laboratórios das universidades brasileiras cinco anos depois. O uso do aparelho, apesar de ter custo mais elevado do que a tradicional inspeção por palpação, garante um diagnóstico mais confiável e rápido. “A vantagem da utilização do ultra-som é ter uma avaliação objetiva sobre vários aspectos, saber o que realmente está acontecendo, como o período do ciclo reprodutivo de uma vaca”, afirma o zootecnista Daniel Biluca, da Conexão Delta G. As medidas de AOL e EGS são importantes ferramentas em programas de melhoramento genético. A seleção de bovinos baseada na AOL promove aumento da produção de carne por animal. A EGS informa sobre a redução da idade de abate.

O aparelho converte pulsos elétricos em ondas de alta freqüência (ultrasons), acima da capacidade auditiva humana, que promovem uma reflexão parcial (eco) em tecidos menos densos do animal, ou total em tecidos de alta densidade como os ossos. As ondas continuam a se propagar pelo corpo do animal e o conjunto de informações é projetado em segundos numa tela como imagem, onde as mensurações são realizadas. Pequeno e prático, o aparelho é transportado para as fazendas como um laptop. “É preciso apenas uma mesa ao lado do tronco de avaliação. O ultra-som só se adaptou ao campo por essa facilidade de uso”, diz Suguisawa. Mas o investimento é alto. Cada aparelho custa US$ 23 mil. US$ 23 mil é quanto custa um aparelho para ultra-som de bovinos.

POTENCIAL GENÉTICO: a zootecnista Liliane Suguisawa examina animal. No laudo do ultra-som é apontado o índice de gordura subcutânea

O preço do exame varia de acordo com o número de animais avaliados. Quanto maior o número de cabeças, menor o custo. Na Designer Genes, os valores variam entre R$ 8 (acima de 500 cabeças) e R$ 20 (menos de dez). Não existe número mínimo de avaliações para que a equipe da empresa se dirija à fazenda. “Já saí para avaliar quatro animais, e outras vezes 800. Como é um exame novo, nos deslocamos para onde for necessário, até para divulgálo”, diz Suguisawa, que lembra que um técnico com experiência examina até 60 animais por hora. A economia para o criador é grande, já que o grau de terminação e de desenvolvimento muscular é determinado quando o animal ainda está vivo. “A avaliação tem se mantido, mesmo com o alto custo, porque nossos clientes a consideram uma importante ferramenta para a melhor escolha na aquisição de seus reprodutores, visando produzir animais com maior rendimento de carcaça”, explica Adroaldo Potter, presidente da Conexão Delta G Sul, pioneira no uso da tecnologia no Brasil. Até o ano passado, a empresa havia avaliado 13.125 animais, e espera realizar o procedimento em outros 1.150 animais em 2007.

O serviço é mais solicitado por associações nacionais e regionais de criadores, para resultados de provas de ganho de peso de touros e programas de melhoramento genético. “Além destas entidades, somos procurados por fazendas direcionadas para o abastecimento de restaurantes de cortes especiais ou que trabalham no estabelecimento de uma marca ou selo de qualidade”, diz Suguisawa. Grandes confinamentos também buscam a tecnologia, já que a ultra-sonografia também pode auxiliar na formação de lotes de animais nesse sistema, ao padronizar as carcaças produzidas.