A cada dia surgem novos produtos que usam matérias primas

bastante conhecidas, mas com aplicações para lá de diferentes

O casal Simone e Marcelo Scavone, de Porto Alegre, é o que se pode chamar de uma dupla criativa.

A moça inventou um cosmético que hidrata a pele, combate rugas e uma série de problemas que tiram o sono das mulheres mundo afora. A novidade tem se tornado coqueluche entre gaúchas dispostas a pagar o preço de uma receita numa farmácia de manipulação, e logo mais estará disponível por uma grande marca do mercado. Ele, um apreciador de cerveja, está desenvolvendo uma nova bebida. O que os dois têm em comum? A matériaprima, o arroz. “O arroz possui propriedades maravilhosas, consegui isolar uma proteína que estimula a criação de colágeno e, por isso, o produto funciona”, diz a moça. Já o rapaz vai por outro caminho. “Algumas das melhores cervejas do mundo, como a própria Budweisser, usam muito arroz em sua composição”, revela. Mas uma bebida sem cevada, feita à base do alimento, será um outro desafio. “A vantagem é que existe muita matéria- prima disponível”, comenta.

Na farmácia: importantes linhas de cosméticos apostam no arroz

Futuro: Gilberto Amato, do Irga, afirma que a cultura ganhará espaço

Invenções tendo o arroz como base não são novidade, segundo o pesquisador Gilberto Amato, do Instituto Riograndense do Arroz (Irga). Hoje, se faz de tudo com o cereal: blocos para construção, preenchimento para asfalto e, principalmente, sílica. O produto tem um alto valor agregado e é usado em porções mínimas dentro de componentes eletrônicos. A obtenção desse pequeno ouro acontece depois que a casca é incinerada. Das cinzas, parte é convertida no valioso mineral. “Não é possível prever o que é possível fazer com o arroz”, diz. No Egito antigo, servia para fazer papel; na Grécia, já foi medicamento para tratar o fígado; e, segundo a cultura chinesa, é símbolo de fartura e felicidade. “Em Taiwan, ele é usado como complemento de argamassa, o que, aliás, acontece em muitos outros países”, informa.

Cerveja de arroz: inspirado na cerveja Budweisser, Marcelo Scavone está criando uma bebida de arroz

Antirruga: Simone desenvolveu uma fórmula de sucesso a partir do grão

Contudo, a procura de novos produtos que possam substituir ao menos em parte o papel desempenhado pelo petróleo tem colaborado para o surgimento de tecnologias um tanto diferentes. Isso é o que conseguiram pesquisadores dos Estados Unidos, da cidade de Yokohama, ao desenvolver um pneu que tem em sua composição óleo da casca da laranja. A moda pegou e as marcas japonesas Honda e Toyota já usam o produto. O mesmo caminho foi seguido pela alemã Porsche, cujos pneus são utilizados por carros da GT 3 Cup, uma das categorias do automobilismo europeu.

A cada dia surgem novos produtos que usam matérias primas

bastante conhecidas, mas com aplicações para lá de diferentes

Plástico de milho: a alemã Basf desenvolveu tubetes para mudas, feito a partir da planta

A adição do óleo de laranja reduz a aplicação de petróleo em 10%.

Da laranja também vem outras invenções, como conseguiram cientistas da Universidade de Cornell, também nos Estados Unidos. Eles desenvolveram um plástico – apropriado para a fabricação de sacolas – tendo por base a casca da laranja e outros frutos cítricos, como o limão. Segundo o professor Geoffrey Coates, basta a aplicação de uma tecnologia simples para que do limão, além da limonada surja um plástico que pode ser usado em substituição aos tradicionais “filmes” usados para embalar alimentos.

Do sertão: mandioca deu origem a embalagem que parece isopor

Utilizado como base nos mais diversos produtos, principalmente no mercado americano, o milho se tornou, também, um substituto do petróleo. É o que conseguiu a multinacional alemã Basf, que desenvolveu o plástico “ecoflex”. Em contato com o solo o produto é biodegradável e tem sido utilizado como apelo de marketing por empresas que pretendem transmitir a imagem de cuidadosas para com o meio ambiente.

Acelerando: pneus para carros de corrida levam óleo derivado da casca da laranja

No Brasil, porém, um grupo de criadores inventores conseguiu criar um polímero bastante semelhante ao isopor, mas dessa vez utilizando a boa e velha mandioca. Cláudio Rocha Bastos, engenheiro por profissão e inventor por vocação, se cansou de pular de empresas pelo mercado e decidiu investir no seu próprio negócio. Fundou a CBPack e, associando uma ideia “verde”, criou a bandeja de mandioca. “Ela tem a duração de 180 dias, depois se decompõe sem deixar rastro no meio ambiente”, explica. “Nunca mais olhei para mandioca frita do mesmo jeito”, brinca.