Pela primeira vez, desde 2010, caiu o índice de internacionalização das empresas brasileiras em 2018. Segundo levantamento da Fundação Dom Cabral, o grau de internacionalização das companhias ficou em 21,6% em 2018, abaixo dos 25% registrados no ano anterior. Os dados de 2019 e de 2020 ainda não foram contabilizados, mas com a pandemia este ano a tendência é de que continuem em patamares menores. Mesmo com toda a crise, a Odebrecht, em recuperação judicial, ainda segue como empresa com a maior parcela de receita no exterior entre todas as companhias do ranking por conta do crescimento do setor de infraestrutura e oportunidades em outros países.

O índice leva em conta a proporção de ativos, receitas e funcionários no exterior em relação ao total. A professora Lívia Barakat, responsável pelo estudo, diz que há um movimento natural de queda pela situação em que se encontra os mercados em outros países e mesmo no Brasil.

Os movimentos, de acordo com ela, não são considerados fora da curva em uma queda de 15% a 20% de um ano para o outro. Por outro lado, um aumento de 100% do índice de internacionalização leva a um aumento de 14,01% no Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da companhia.

“O grau de internacionalização, de forma geral, vem aumentando gradualmente, apesar de em ritmo lento. Das empresas que atuavam no exterior em 2006 13% tinham operações fora do País, com fábricas, escritórios e centros de distribuições. Atualmente, já são 22%. Importante ressaltar que houve alterações de receitas e funcionários, mas os ativos permaneceram estáveis, ou seja, as empresas não diminuíram a natureza da operação lá fora. Se a companhia tinha 10 fábricas, continua com esse número, apesar de diminuir a quantidade de funcionários, já que muitas vezes é caro manter um expatriado, e registrar queda na receita”, comenta.

Ao todo, pouco mais de 500 empresas brasileiras são internacionalizadas (operações físicas no exterior, para além de exportações), o que representa somente 0,01% do total de empresas registradas no País. O setor de manufatura é o que mais possui empresas internacionalizadas, com 50% do total. Em seguida, vêm serviços e varejo, com 43%, e recursos naturais, com 7%. Os subsetores mais internacionalizados são construção civil e indústria química, com grau médio de internacionalização de 38% e 34%, respectivamente.

Segundo a Fundação Dom Cabral, o processo de internacionalização das empresas brasileiras, que teve início em 1941 com o Banco do Brasil, intensificou-se nos anos de 1990 e 2000. A América do Sul é a região que mais recebeu empresas brasileiras na última década, com a entrada de 63 empresas, mas também foi a que mais contabilizou saída de empresas, 37 saídas. A América Central e Caribe foi a região que apresentou menos perdas de empresas em relação às que entraram, com saldo líquido de 33 novas empresas brasileiras.

Lívia explica que um fator que impulsiona a expansão fora do país é que, quanto maior o grau de internacionalização, melhor o desempenho das companhias no exterior já que elas se tornam mais conhecidas e adquirem competências para atuar no mercado global. Com relação à dispersão geográfica, estas empresas estão presentes em 89 países com subsidiárias próprias ou franquias, o que representa 40,8% dos países do mundo.

Fitesa

Desde seu primeiro ano de participação (2015), a Fitesa, fabricante de insumos para fraldas e colchões – chamados de não tecidos (TNT), lidera o ranking pelo grau de internacionalização. Segundo o levantamento, a Gerdau é a empresa brasileira que mais esteve presente nas três primeiras colocações do ranking pelo grau de internacionalização – totalizando nove pódios. No ranking pelo índice funcionários, a empresa foi a que mais esteve presente nas três primeiras colocações, com um total de seis pódios.

A JBS é a empresa que mais esteve nas três primeiras posições do ranking pelo índice de receitas, totalizando 11 posições. Já a Stefanini é a empresa que mais esteve presente nas três primeiras colocações do ranking pelo índice ativos, com oito pódios ao todo.

Stefanini, Vale e WEG são as empresas que mais estiveram presentes em uma das três posições de liderança do ranking pelo número de países, com seis pódios ao todo, cada. Ainda segundo o levantamento, a Minerva Foods foi a empresa que mais esteve na primeira posição do ranking pelo índice de ativos, com 4 primeiros lugares ao longo dos anos.

A Localiza foi a empresa que mais esteve presente nas posições de liderança do ranking pelo grau de internacionalização de franquias, com 7 posições de pódio. Ainda segundo o estudo, a CZM é a empresa que mais esteve presente nas posições de liderança do ranking das empresas com faturamento anual de até R$ 1 bilhão, com 4 posições de pódio. Já a Metalfrio é a empresa que mais esteve em primeiro lugar no ranking das empresas com faturamento anual de até R$ 1 bilhão, com 3 primeiros lugares.

Pandemia

A professora diz que o grau de internacionalização médio das empresas vai diminuir com a pandemia, que acabou afetando os planos de expansão das empresas no exterior. No entanto, com as dificuldades de mobilidades começam a surgir novos modelos de negócios para atuação das empresas no exterior. Há também, de acordo com ela, modelos de parceria de terceirização da produção, com coordenação com parceiros locais.

“A empresa pode não ter fábrica própria, mas fecha parceria para a produção, venda e também distribuição”, afirma a professora, acrescentando que o comércio eletrônico deve ajudar nas estratégias de internacionalização. “Comércio eletrônico e parcerias dão oportunidade de colocarem o produto lá fora. Franquias também são formas de compensar possíveis perdas.”