Imagine uma área de 110 mil quilômetros quadrados – um espaço um pouco maior do que o Estado do Paraná. Sobre essa terra plante soja e colha algo em torno de 45 sacas por hectare. Feitas as contas, ao final do processo, haverá mais de 495 milhões de toneladas de grãos e uma receita bruta de R$ R$ 16,55 bilhões. Parece muita coisa? Pois é exatamente esse o plano de um grupo de produtores do Pará que inicia um longo processo de conversão de pastagens degradadas em lavouras agrícolas.

O projeto, que já está em andamento, se chama Preservar e é uma resposta da iniciativa privada aos ataques que a região vem sofrendo por causa do desflorestamento na Amazônia. “Nosso lema é desmatamento zero, mas entendemos que seja necessária uma contrapartida para isso”, explica Carlos Fernandes Xavier, presidente da Federação de Agricultura do Pará (Faepa).

Para viabilizar essa meta, será necessário investir em tecnologia e reduzir a área de pastagens dos atuais 27 milhões de hectares para 14 milhões. Assim, os 13 milhões restantes serão recuperados e destinados para a produção agrícola, que hoje ocupa três milhões de hectares. “Muitos produtores já estão fazendo isso porque perceberam que é rentável”, conta Xavier.

Assim, o boi passa a ser criado em sistema rotacionado e há uma integração entre lavoura e pecuária, o que evita a abertura de novas áreas. “É mais barato recuperar uma área de pasto do que derrubar floresta, não tem cabimento desmatar para produzir”, explica Alisson Miranda Santos, pecuarista, zootecnista e professor da Universidade Federal do Pará – Ufpa. Além de barato, o sistema permite que o abate seja feito até 12 meses antes, se comparado ao tradicional.

Quem partiu para esse caminho é a empresária Márcia Centelho Barbalho, dona de 25 mil cabeças distribuídas em três fazendas na região de Aurora do Pará. Em seu sistema de produção, animais nelores são cruzados com guzerá e red angus, além de outras raças em menor escala. Há cinco anos, ela esteve perto de perder suas terras, que estavam praticamente abandonadas.

Após investir na recuperação das pastagens, os resultados já aparecem. “É possível aumentar em até 30% a produtividade, mantendo a mesma área de pasto e preservando a floresta.” Segundo ela, com a utilização de tecnologias dominadas no Brasil, como rotação de pastos, já é possível pensar em investimentos em outros setores do campo. “Queremos utilizar algumas áreas para produzir madeira de reflorestamento e grãos”, planeja.

Já Marcos Shinichi Noda é a segunda geração da família a trabalhar na floresta. Seu pai foi atraído pelos incentivos do governo na década de 70 para desbravar a região. Hoje, Noda possui três propriedades às margens do rio Igarapé-Miri, que somam 500 hectares, dos quais 100 são utilizados para o cultivo do açaí nativo.

Para manter os 80% de área preservada e continuar produzindo, ele mudou o manejo das palmeiras para que elas produzissem apenas no período da entressafra. Nesse período, há pouca oferta da fruta e ele vende as 420 toneladas produzidas entre janeiro e julho acima do preço padrão. “Vendo por um valor três vezes maior do que no período de safra e mantenho a área preservada”, conta.

Outra produtora que aposta na criatividade na hora de plantar é Darlene Pantoja da Silva, dona da Fazenda Paixão. Ela faz parte de uma gama de pequenos produtores paraenses que buscam na produção sustentável uma forma de crescer de maneira organizada. Darlene utiliza apenas 20% da área de 265 hectares, obedecendo à risca a legislação. Seus concorrentes na Bahia podem desfrutar de 80% da propriedade, justamente por causa da diferença na legislação de um local para outro.

Nos 70 hectares disponíveis, ela produz cerca de 40 toneladas de cacau e 25 de açaí. Só isso não seria o bastante para fazer da Fazenda Paixão um modelo de sustentabilidade. “Por isso, estou investindo numa parceria com a Embrapa”, diz. A ideia, segundo a produtora, é consorciar açaí com cacau, aumentando a produtividade da fazenda. “Queremos melhorar a produtividade em harmonia com a floresta. Assim, ganham os produtores, o Pará e o meio ambiente.”