A inflação e a alta dos juros pesaram sobre o desempenho do consumo das famílias no segundo trimestre, afirmou nesta quarta-feira a coordenadora de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Rebeca Palis. Segundo o IBGE informou mais cedo, o consumo das famílias ficou estável, com variação nula, na comparação com o primeiro trimestre de 2021, contribuindo para a queda de 0,1% no Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre contra os três primeiros meses do ano.

Conforme Palis, à medida que os efeitos da pandemia sobre a economia “vão se dissipando”, as explicações sobre o comportamento do PIB vão além da covid-19, mas isso não quer dizer que a pandemia não tenha mais efeitos negativos sobre a atividade econômica.

A pesquisadora do IBGE lembrou que o nível da atividade dos “outros serviços”, que inclui muitos serviços prestados às famílias, como bares, restaurante e salões de beleza, ficou, no segundo trimestre, 7,2% abaixo do nível registrado no quarto trimestre de 2019, antes da pandemia. Isso mesmo com a alta de 2,1% na comparação com o primeiro trimestre deste ano. O PIB de serviços como um todo está 0,9% abaixo do nível de atividade registrado no quarto trimestre de 2019.

Segundo Rebeca, apesar da retomada do pagamento do auxílio emergencial para as famílias mais pobres no segundo trimestre, a inflação pressionada pesou mais sobre o consumo das famílias.

“Não é que o efeito tenha sido nulo, porque as coisas têm efeitos de várias coisas, afetando em conjunto, mas, quando olhamos a massa salarial real na comparação interanual, ela está caindo”, afirmou Rebeca.

A pesquisadora do IBGE lembrou que a queda na massa salarial real ocorreu mesmo com o aumento do número de trabalhadores empregados. Segundo Rebeca, mesmo esse aumento de vagas tendo ocorrido em postos de trabalho informal, que tradicionalmente pagam salários mais baixos, “o efeito da inflação é bastante relevante”.

“A inflação tem impacto bastante relevante no consumo das famílias”, afirmou Rebeca.

Os dados do IBGE mostram ainda que a recuperação do consumo das famílias ao longo da retomada da economia desde o segundo semestre do ano passado não foi suficiente para retomar os níveis de antes da pandemia. No segundo trimestre deste ano, o consumo das famílias ainda estava 3,0% abaixo do nível registrado no quarto trimestre de 2019, antes da pandemia, e 1,6% abaixo do nível do primeiro trimestre de 2020, quando a covid-19 chegou ao País.

Segundo Rebeca, as perspectivas são de manutenção do cenário desfavorável para o consumo das famílias, já que a crise hídrica, com impacto negativo sobre o custo da eletricidade, tende a manter a inflação pressionada. A pesquisadora diz que a inflação de bens, inclusive de combustíveis, é um efeito global associado à pandemia, com elevações nas cotações internacionais. Já a crise hídrica é um problema nacional.

“A questão da crise hídrica também afeta. Toda a inflação aumentando, diminui o poder de compra da população”, afirmou Rebeca.