Pelo segundo ano consecutivo, o agronegócio brasileiro garante uma cadeira cativa no cobiçado ranking das 50 companhias mais inovadoras do planeta, divulgado anualmente pela revista americana Fast Company. Desta vez, a única verde-amarela na lista – na 43º posição – é a Enalta Inovações Tecnológicas. A empresa de São Carlos, no interior paulista, desenvolveu um equipamento que funciona como computador de bordo de colheitadeiras e caminhões de transbordo, que transportam a colheita da lavoura de cana até as usinas. O aparelho, equipado com tela touchscreen, rastreamento via satélite e super-resistente aos solavancos das colheitas, tem ajudado as cinco maiores usinas do País a aumentar de 3% a 15% a produtividade, principalmente com redução do desperdício, e a diminuir de 9% a 16% a queima de óleo diesel das máquinas do campo. “As dificuldades do setor e as margens cada vez mais achatadas nos motivaram a desenvolver mecanismos que proporcionassem redução dos gastos na colheita e economia de tempo”, diz Giandri Machado, diretor-executivo da Enalta. “Deu certo. Ao ajudar a combater as ineficiências da indústria da cana, estamos ajudando a revolucionar o setor.”

Em 2012, o agronegócio brasileiro foi representado na lista da publicação americana pela Bug Agentes Biológicos, uma pequena empresa de Piracicaba, também no interior de São Paulo, que descobriu que a vespas são eficientes no controle de pragas nas plantações de soja e cana-de-açúcar. A utilização de insetos e ácaros como substitutos de agroquímicos colocou a Bug à frente de gigantes como Embraer e Petrobras no quesito inovação, e garantiu uma reputação internacional à empresa. Em menos de um ano, a tecnologia foi exportada para mais de 20 novos mercados

A invenção do computador de bordo para fins agrícolas, equipado com dezenas de sensores e um software de GPS que monitora o plantio e a irrigação por comando de voz, promoveu uma melhor colheita aos produtores rurais e deu musculatura à Enalta. De acordo com Machado, a expectativa é de que o faturamento deste ano praticamente dobre em relação ao de 2012, ultrapassando a casa dos R$ 25 milhões. “Já temos encomendas de produtores de cana-de-açúcar na Colômbia, Argentina, no Peru e na Guatemala”, afirma Machado. “Mas ainda temos um mercado gigantesco para atender no Brasil, já que há mais de 300 usinas no País e cada uma atua de maneira diferente.”

Ao olhar para os demais nomes do ranking da Fast Company, fica evidente que o feito da Enalta é digno de nota. A lista é encabeçada pela marca americana de materiais esportivos Nike, seguida por nomes badalados como Amazon (2ª), Pinterest (8ª), Google (11ª), Apple (13ª) e Coca-Cola (14ª). A empresa brasileira ficou à frente da Microsoft (48ª) e da Tumblr (50ª). Como comparação, o investimento da Enalta em pesquisa e desenvolvimento atingiu R$ 2,8 milhões, em 2012, contra US$ 9,7 bilhões da empresa fundada por Bill Gates. “A tecnologia vem em boa hora e deve ajudar o setor a investir cada vez mais em tecnologias”, afirma José Carlos Hausknecht, consultor da MBAgro. “A necessidade por aumento de eficiência é uma questão fundamental para o setor e determinante para definir a abertura de novas áreas de plantio.”

Fundada pelo engenheiro Cleber Manzoni, nascido em Ariranha, no noroeste paulista, em 1999, a Enalta ganhou um grande impulso quando entrou para o portfólio do criatec, fundo de venture capital destinado a empresas emergentes e inovadoras, patrocinado pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social e pelo Banco do Nordeste. Os R$ 3,8 milhões injetados no caixa da empresa em 2010 viabilizaram a fabricação dos computadores em escala comercial. “O prêmio à Enalta é um reconhecimento claro que o Brasil não é uma potência agrícola somente devido aos nossos recursos naturais, mas também pela capacidade de os nossos empreendedores levarem inovações de alto impacto ao campo”, afirma Francisco Jardim, representante do Fundo Criatec no conselho de administração da Enalta.