Da Redação

28/12/2020

Grandes oportunidades se abrem para a produção agrícola brasileira a partir do aumento das demandas da China e da África e da consolidação dos acordos bilaterais, mas com elas vêm as pressões por competitividade e por sustentabilidade. Em ambas os cenários, o país, como as economias das nações mais desenvolvidas, deve responder com o ativo mais eficiente para encarar o cada vez mais disputado mercado internacional: inovação. Ou tecnologia, como se preferir.

A Bayer, segundo comentou o presidente da divisão Crop Science no Brasil, Gerhard Bohne, ao Estadão Conteúdo, destacou que o foco em 2020 está dividido em três estratégias: inovação, transformação digital e sustentabilidade. “Nós acreditamos que o futuro da agricultura terá que ser sustentável. Vocês veem toda a pressão hoje da sociedade para uma agricultura sustentável”, assinalou. O executivo disse ainda que a comunicação da importância do agronegócio brasileiro no atendimento da demanda mundial por alimentos é um desafio. “Arrisco dizer que perdemos essa batalha. A sociedade não vê o agro como deveria.”

Na área de agricultura digital, o executivo destacou que a plataforma FieldView, no seu segundo ano no Brasil em 2019, deve passar de 7 milhões de hectares, com 1,5 milhão de hectares em cana-de-açúcar. “O mercado de cana é carente de tecnologias, tanto digitais como de produtos. A produtividade está praticamente estagnada nos últimos anos.”

Outro investimento na área digital, a plataforma de market place (espaço de compra e venda de produtos) Orbia, em parceria com a Bravium, já tem com quase 40 distribuidores cadastrados, seja de produtos Bayer ou de empresas concorrentes.

SUSTENTABILIDADE Ainda que a conferência do clima COP25 não tenha definido políticas globais de sustentabilidade, o posicionamento sobre preservação ambiental de muitas empresas e nações que fazem negócios com o Brasil podem orientar as gestões de companhias nacionais. No começo do mês, por exemplo, um grupo de 87 corporações europeias, que juntas administram ativos superiores a 2,5 bilhões de libras, escreveu uma carta para o governo brasileiro pedindo a interrupção do desmatamento na Amazônia para a produção de soja. Entre elas estão alguns dos maiores produtores de alimentos, gestores de ativos e redes de supermercados do continente, como Tesco, Aldi, Asda e Carrefour.

O documento pediu a extensão da moratória da soja na Amazônia (ASM, na sigla em inglês), acordo assinado em 2006 pelas empresas para impedir o uso de novas terras para a produção de commodity, que é usada como alimento para humanos e é matéria-prima para ração de gado. O acordo é considerado um mecanismo importante para conter o avanço do desmatamento na Amazônia. “Queremos poder continuar a buscar ou investir na indústria brasileira de soja, mas se a ASM não for mantida isso colocará em risco nossos negócios com a soja brasileira”, destaca a carta, à qual o Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, teve acesso. Esse texto foi coordenado pela Iniciativa de Risco e Retorno de Investimento em Animais Agrícolas.

“O objetivo da carta foi assegurar aos nossos membros que a moratória da Amazônia não vai acabar”, explicou ao Broadcast a consultora de políticas de sustentabilidade Leah Riley Brown, do Consórcio Britânico de Varejo (BRC, na sigla em inglês, que reúne 70% do setor no Reino Unido).

O documento foi enviado no dia 2 para o embaixador do Brasil em Londres, Fred Arruda. Ele informou, dois dias depois, que dividiu as preocupações dos signatários com autoridades domésticas e salientou que o Brasil desenvolveu uma estrutura legal, além de políticas concretas, para mapear a produção e garantir a proteção da vegetação nativa, que cobre 66% do território nacional.

Em nota, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) ressaltou a importância da moratória, que tem sido “fundamental para atender às exigências dos mercados consumidores quanto à sustentabilidade da soja brasileira e garantir o reconhecimento internacional do agronegócio brasileiro”.

MOVIMENTO A manifestação europeia ocorre em meio a um movimento no Brasil que pede o fim da moratória. O pedido é encabeçado pela Associação Brasileira de Produtores de Soja (Aprosoja), que diz contar com apoio de pelo menos um representante do governo federal. Em novembro, representantes do setor de produção receberam sinalização positiva do secretário especial da Casa Civil para Relacionamento Externo, Abelardo Lupion, na articulação para tentar rever a moratória.

O presidente da Aprosoja Brasil, Bartolomeu Braz, afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo em novembro que os produtores já cumprem as regras. “Não há produção de soja no mundo próxima da sustentabilidade que tem a nossa, que protege Reserva Legal e Área de Preservação Permanente. Não precisamos de mais imposição”, disse Braz. Para ele, segundo destacou na oportunidade, se a Europa não quiser mais soja da Amazônia, há o mercado asiático.

O governo está atento às reações internacionais. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, tem conversado com outros ministérios e o receio é de que as ameaças, que têm se avolumado, se tornem boicotes reais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.