São Paulo, 19 – A Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) afirmou, em nota, que a falta de dessecante pode trazer prejuízos à safra brasileira de soja 2021/22, como a queda de produtividade. O herbicida é utilizado na preparação da lavoura a fim de deixar a área uniforme para a colheita do grão – processo chamado de dessecação. “Esse problema passou a atormentar os produtores desde que a Anvisa baniu o uso e a comercialização do Paraquat em setembro de 2020. A decisão obrigou agricultores a buscarem herbicidas similares no mercado, embora apenas o Diquat tenha a mesma função e a mesma qualidade”, disse a Aprosoja.

Segundo a Aprosoja, a grande demanda pelo agroquímico Diquat não tem sido atendida pela indústria. A entidade disse que recebe reclamações de produtores de todo o País que compraram e ainda não receberam o produto. “A Syngenta, que é a titular do registro, emitiu nota em 23 de dezembro de 2021 informando não haver produto em quantidade disponível no mercado para atender a demanda brasileira”, afirmou a Aprosoja.

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A associação disse que a escassez do produto gerou uma alta de mais de 300% no seu preço em dólar. “Atualmente um litro do produto custa mais de R$ 100,00 enquanto na safra passada custava em torno de R$ 30,00. Além do custo mais elevado ao sojicultor, o risco de perder a produção e a qualidade dos grãos também é do País, com perda de divisas nas exportações”, diz a entidade.

A Aprosoja Brasil informou também que está solicitando ao Ministério da Agricultura liberação emergencial do registro de herbicidas para a importação direta de Diquat para dessecação da atual safra de soja. “Seria importante lançar mão de produtos que estiverem disponíveis em países do Mercosul. E tem conhecimento de que existem empresas no Brasil aguardando a liberação do registro de produtos com o mesmo princípio ativo do Diquat, assim como empresas no Paraguai e em outros países também possuem disponíveis produtos no mesmo porcentual de princípio ativo”, afirmou a Aprosoja Brasil.

A associação pede também ao governo liberação emergencial do Paraquat e revisão da decisão de banimento do uso do produto no País.

A falta de dessecantes também foi observada pelo Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea). Em boletim semanal, o instituto disse que há relatos de atraso nas entregas de dessecantes em algumas regiões do Estado, o que está implicando diretamente na evolução da colheita da oleaginosa no Estado.

Syngenta promete atender mercado brasileiro

A Syngenta disse que enfrenta “desafios de curto prazo” no abastecimento do mercado com produtos à base do ingrediente ativo Diquat. Segundo a empresa, além do aumento da demanda, o suprimento de energia na China e a falta de contêineres no mercado global explicam a oferta limitada do Diquat.

“Por estar submetido a um processo de mudança com foco em seu compromisso de neutralidade das emissões até 2060, a China passa por restrições no suprimento de energia em regiões específicas, o que impactou fortemente a produção de ingredientes ativos para diversos defensivos, incluindo o Diquat”, disse a Syngenta em nota.

A empresa destaca o “aumento expressivo” da demanda por Diquat em 2021. “O banimento de alguns produtos no mercado brasileiro fez com que a demanda por Diquat aumentasse significativamente em 2021. Os volumes de Diquat que a Syngenta forneceu ao mercado brasileiro na atual safra são compatíveis com os volumes de anos anteriores, e, embora tenhamos feito o possível para suprir esse crescimento na demanda, os outros fatores mencionados acima também influenciaram negativamente este quadro”, afirma no comunicado.

A Syngenta diz que para 2022 está “amplamente” comprometida com o aumento dos volumes de Diquat a serem disponibilizados para o mercado brasileiro. “Para isso, estamos buscando alternativas adicionais de suprimento em todas as fontes possíveis do mundo, incluindo alternativas viáveis na própria China. Vale reforçar que também estamos buscando diálogo constante com as agências reguladoras nacionais para viabilizar a autorização de uso destas novas fontes alternativas em tempo compatível com a urgência do tema.”

Na nota, a companhia afirma ser favorável “a um ambiente livre e justo de competição que possibilite que outras empresas registrem e comercializem produtos à base de Diquat no Brasil”. “Entretanto, não nos parece ser uma alternativa saudável ao País a permissão para que produtos não avaliados e aprovados pelas autoridades regulatórias brasileiras sejam disponibilizados aos agricultores, colocando sua produção, o meio ambiente, a saúde e as exportações brasileiras em risco”, afirmou.