No terceiro e último andar do edifício 1770 da Promontory Circle Street, na pequena cidade de Greeley, município predominantemente agrícola de 100 mil habitantes, no Colorado, no oeste americano, há um quadro-branco com algumas palavras escritas em português. Diariamente, um grupo de executivos americanos se reúne para aprender o idioma. A prática começou há sete anos, quando a JBS comprou a processadora de carne bovina Swift, por US$ 1,4 bilhão, numa disputa com gigantes como a Tyson e a Cargill. No que depender da JBS, as aulas devem continuar e se expandir para novas unidades, incorporando novos alunos.

A aquisição de 2007 foi o primeiro movimento relevante da empresa dos irmãos Joesley e Wesley Batista nos Estados Unidos. Desde então, as operações americanas do frigorífico brasileiro, que faturavam US$ 10 bilhões, atualmente estão em US$ 32 bilhões. E a JBS quer mais. Para a maior processadora de proteína animal do mundo, as aulas de português para estrangeiros se traduzem em lucros cada vez maiores. “Este será o nosso melhor ano”, diz André Nogueira, presidente da JBS para os Estados Unidos e Austrália. “Os motores do crescimento serão as unidades de suínos e de frangos.” O capital para manter esse ritmo tem uma origem bem definida: ao lado dos extensos rebanhos, a JBS quer colocar o touro de bronze de Wall Street nas suas pastagens.

Em 2009, dois anos depois da compra da Swift, foi a vez da tradicional Pilgrim’s Pride, maior processadora de frangos dos Estados Unidos, que estava em concordata. Em apenas cinco anos ela praticamente zerou o endividamento e passou a faturar US$ 8,5 bilhões por ano. Qual a receita? Corte de custos e, principalmente, ganhos crescentes  de escala, através de aquisições. No movimento mais recente, a Pilgrim’s tentou – mas não conseguiu – comprar a Hillshire Brands. A empresa, dona de marcas de embutidos e congelados muito populares nos Estados  Unidos como Hillshire Farm e Jimmy Dean, seria adquirida pela Tyson Foods por US$ 8,6 bilhões. “Tínhamos o dinheiro disponível, mas o valor não geraria um prêmio interessante para o nosso acionista, e, naquele momento, havia alternativas melhores no mercado”, afirma Fábio Sandri, diretor-financeiro da Pilgrim’s, egresso da GP Investments. De fato, menos de 20 dias depois, a Pilgrim’s  adquiriu a operação de frangos da Tyson, no México e no Brasil, por US$ 575 milhões. 

Analistas têm especulado que a próxima da lista de compras da JBS poderá ser a Pinnacle Foods, empresa de alimentos processados e pratos prontos, com sede em Nova Jersey. “Ela não faz sentido na nossa estratégia, as aquisições têm de ter lógica e gerar sinergia”, diz Nogueira. “No início éramos uma  empresa de bifes, ampliamos o leque para  proteínas e hoje somos uma companhia de alimentos.” Outra opção
pode ser a Sanderson Farms, fundada em 1947 e atualmente a terceira maior produtora de frangos dos Estados Unidos. “Não acho que o valor atual justifique a compra”, afirma Nogueira, sem, no entanto, descartar
a possibilidade. Seja qual for a escolhida, não deverão faltar recursos para a compra.

A ideia de listar as ações da JBS USA em Wall Street quase virou realidade em 2009. Entre as cláusulas do empréstimo obtido pela empresa junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDE S) para comprar a Pilgrim’s constava a ida ao mercado. Na época, as debêntures emitidas, que totalizavam R$ 3,5 bilhões, eram conversíveis em ações e o banco ficaria com algo entre 20% e 25% da empresa listada. No entanto, a crise econômica adiou os planos e a JBS teve de pagar uma multa  de R$ 521 milhões por não ter tocado o sino do pregão. Além disso, a companhia foi obrigada a fazer um aumento de capital de R$ 3,48 bilhões para pagar dívidas. “A abertura de capital faz sentido e vai acontecer em algum momento, porque dá mais uma alternativa e mais flexibilidade para a JBS continuar crescendo. Para isso, porém, nós precisamos ter alguma compra já engatilhada”, afirma Nogueira. 

“Aí, se o investidor quiser apostar em uma empresa americana, a alternativa será a JBS USA. Mas, se quiser uma global, será a JBS, se quiser frango, Pilgrim’s, ou processados, a JBS Foods.” Enquanto a venda de ações não se concretiza, a JBS USA tem utilizado o mercado de capitais americano para fazer emissões de dívidas. Em junho, a companhia captou US$ 750 milhões vendendo um título com vencimento em 2024, e um cupom de apenas 5,85%. Os recursos serão usados para pagar dívidas mais caras e com vencimentos em 2016. “Essa é a vantagem de sermos globais”, diz Nogueira. “Podemos captar onde for mais interessante para a companhia.”

Essa operação ajudou a reduzir a alavancagem do grupo JBS como um todo. Segundo dados divulgados pela empresa, referentes ao segundo trimestre do ano, a relação entre dívida e geração de caixa diminuiu de 3,28 vezes, entre abril e junho de 2013, para 3,15 vezes. “A nossa alavancagem está muito confortável, portanto, não faz sentido abrir capital para aliviar o endividamento”, afirma Nogueira. endividamento”, afirma Nogueira. “Mas vale a pena se pensarmos que será uma oferta feita em uma moeda forte como o dólar, o que pode contribuir para o nosso crescimento”, afirma Nogueira. O executivo, que durante 24 anos trabalhou no Banco do Brasil assessorando empresas, diz que é impossível prever como estará o mercado de capitais daqui a um ano. “Seria atirar no escuro. O que dá para saber é que a economia estará melhor e isso traz otimismo.” As perspectivas são tão positivas que ele não tem pressa para abrir capital, mesmo com indícios de que o Federal Reserve, banco central americano, deve alterar em breve a política monetária, o que significará aumento da taxa de juros. Esse movimento pode fazer com que investidores deixem de aplicar recursos na bolsa e passem a alocar seu dinheiro em títulos do governo, que terão taxas de retorno mais atraentes. “Sabemos que existe demanda por nossas ações; vamos analisar quando será o melhor momento e o valor que o IPO vai gerar para a empresa.”