Indaiatuba, 20 – A John Deere inaugurou na tarde desta terça-feira, 20, a ampliação de sua fábrica de Construção, no município de Indaiatuba (SP), na qual serão produzidos três modelos de tratores de esteira. O CEO global da companhia, Samuel Allen, veio ao País para participar da cerimônia. “Atuamos no setor de construção nos EUA há 61 anos. Esses tratores de esteiras nunca foram produzidos em nenhuma fábrica fora do país. A do Brasil é a primeira e servirá de plataforma para atender mais de 80 países”, disse Allen durante a solenidade.

O início da operação da fábrica ocorreu em 2014, quando a empresa começou a produzir localmente retroescavadeiras e pás carregadeiras. Até então, a divisão de Construção da Deere não contava com nenhuma fábrica instalada fora dos Estados Unidos.

Da unidade de Indaiatuba, que absorveu R$ 80 milhões em investimentos, sairão máquinas destinadas à Rússia e a outros países do Leste Europeu, Américas e Sudeste Asiático, disse Allen a jornalistas. No Brasil, a nacionalização da produção facilitará as vendas tanto para o setor de construção como para o agropecuário, que também utiliza este tipo de maquinário em algumas operações nas propriedades. Os Estados Unidos, entretanto, continuarão tendo maior relevância no fornecimento de máquinas de construção para o mercado global, por produzirem maior número e variedade de modelos que o Brasil, conforme Allen.

Quando a companhia tomou a decisão de investir na fábrica de Construção, antes de 2014, o foco era o mercado brasileiro, lembra Allen. “Na época, o Brasil tinha o segundo maior mercado de máquinas de construção nas Américas, fora dos Estados Unidos. De lá para cá, o mercado caiu quase 70%.” Para aproveitar o potencial da demanda brasileira, era preciso nacionalizar a produção, a fim de que futuros clientes pudessem comprar as máquinas por meio de linhas de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) com taxas de juros menores.

Se por um lado as vendas de máquinas de construção recuaram, por outro o real passou por forte desvalorização ante o dólar no período, o que tornou o País mais competitivo para exportar. “O real se depreciou e a equipe local da John Deere, ao longo dos últimos quatro anos, trabalhou no desenvolvimento dos produtos brasileiros para que eles se tornassem mais competitivos globalmente”, contou Allen.

No mercado brasileiro de construção, Allen enxerga um novo ciclo de crescimento após anos de queda “acima do esperado”. Mas pondera que a extensão da recuperação, assim como novos investimentos da companhia na área, dependerá de uma série de fatores. “Precisamos saber quando o mercado de construção voltará a crescer e sair dos níveis baixíssimos (de vendas) atuais. Tudo depende também dos rumos da operação Lava Jato, que envolveu boa parte das construtoras do Brasil e de certa forma paralisou o mercado”, comentou.

Diante deste cenário, o CEO global da Deere acredita ser razoável que dentro de cinco anos a companhia possa voltar a pensar em investir mais no setor. “Este é só o começo.” A operação brasileira de Construção, acrescenta o executivo, certamente contribuirá para os resultados globais da companhia, mas em escala bem menor do que os negócios de máquinas agrícolas. “De forma nenhuma será tão importante quanto as vendas de máquinas agrícolas no Brasil e na América Latina, mas com certeza ajudará.”

Quanto à demanda do setor agropecuário brasileiro por maquinário de construção, Allen acredita em vendas estáveis, sem mencionar números. Diversos produtos que despertariam grande interesse do segmento, já comercializados nos Estados Unidos, ainda não estão disponíveis aqui, justifica ele.

“No Brasil não temos alguns produtos demandados por agricultores norte-americanos, como, por exemplo, minicarregadeiras usadas na pecuária. Além disso, há outra diferença entre o mercado dos EUA e brasileiro: lá há menos mão de obra no campo e, por isso, maior necessidade de mecanização”, disse.